MST critica demora em nomeações no Incra e fala em sinal amarelo com Lula
Movimento está incomodado com o que tem visto como falta de prioridade à questão agrária
GUILHERME SETO
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Coordenador nacional do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), João Paulo Rodrigues escreveu nas suas redes sociais uma mensagem em que critica a demora do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em escolher a direção do Incra, o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária, e afirma que está “começando a acender a luz amarela”.
Como mostrou o Painel, o MST está incomodado com o que tem visto como falta de prioridade à questão agrária por parte do governo federal. Lideranças do movimento avaliam que a dedicação que tem sido mostrada por Lula à questão indígena, com mudanças significativas nas estruturas governamentais e grandes anúncios, mostra que seria possível fazer muito mais no período pelas demandas do campo.
“Começando a acender a luz amarela. Até agora o governo federal não nomeou a direção do Incra, que tem a responsabilidade de cuidar de todas as áreas de implantação do programa de reforma agrária. Nem precisamos lembrar a importância deste órgão para o povo do campo”, escreveu Rodrigues.
O MST tinha a expectativa de que Rose Rodrigues, ex-secretária de Agricultura de Sergipe e militante sem-terra, fosse escolhida para o comando do Incra. Afirmações de que Lula já havia se comprometido com o nome de Rose foram divulgadas por parlamentares petistas e sites de esquerda na última semana.
No entanto, o deputado federal Airton Faleiro (PT-PA), coordenador do núcleo agrário do PT na Câmara, disse em suas redes sociais que Rose não será mais a escolhida, gerando frustração no MST.
Um dos principais sintomas da lentidão do governo em relação ao tema seria a continuidade de nomes escolhidos pelo governo Jair Bolsonaro (PL) em superintendências do Incra. Desde o começo do governo Lula, apenas 8 dos 29 superintendentes do Incra foram exonerados, segundo mostra o Diário Oficial da União, ainda que nem todos os remanescentes tenham sido escolhidos por Bolsonaro.
O superintendente de São Paulo, Edson Alves Fernandes, é um representante da gestão anterior cuja sequência no Incra é criticada pelos movimentos do campo, que tiveram com ele uma relação conflituosa nos últimos anos. Em Alagoas, o superintendente desde 2017 é Cesar Lira, primo do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e que aparece em diversas fotos com a família Bolsonaro na internet.
O MST aguarda as nomeações dos novos superintendentes do Incra para pedir ao governo federal medidas emergenciais para resolver os problemas das famílias acampadas, que hoje são cerca de 100 mil.
Está prevista para abril uma mobilização nacional pela terra, com a instalação de acampamentos em áreas simbólicas e realização de marchas. O MST espera que o governo apresente até lá um plano emergencial para a área. Caso contrário, deverá retomar ações de ocupação.