Vice de Zema muda nome político, repete padrinho e viaja por Minas de olho em 2026

Depois de duas vitórias consecutivas para o Palácio Tiradentes, o governador aposta em Simões para transferir o legado

Folhapress Folhapress -
Vice de Zema muda nome político, repete padrinho e viaja por Minas de olho em 2026
Mateus Simões ao lado de Romeu Zema. (Foto: Reprodução / Governo de MG)

LEONARDO AUGUSTO

BELO HORIZONTE, MG (FOLHAPRESS) – O partido Novo e sua principal estrela nacional, o governador de Minas Gerais, Romeu Zema, moldaram e agora colocaram para exposição pública o possível herdeiro político do atual chefe do Poder Executivo estadual. O escolhido é Mateus Simões (Novo), vice de Zema.

Depois de duas vitórias consecutivas para o Palácio Tiradentes, o governador aposta em Simões para transferir seu legado. A tática envolve até mudança de nome do preferido. Mateus Simões, agora, é Professor Mateus.

Outro passo foi repetir o que Zema fez desde o início do seu segundo mandato e colocar o vice para rodar o estado.

Em 41 dias de governo, até 10 de fevereiro, Professor Mateus visitou pelo menos 9 cidades do interior, em regiões de colégios eleitorais expressivos como Triângulo Mineiro, Norte e Vale do Aço.

Questionado, o vice não respondeu se já trabalha por sua candidatura. “Na verdade a agenda é apenas um desdobramento da função que o governador me atribuiu, ainda durante a campanha, de fazer a interlocução com os prefeitos, associações e consórcios municipais”, afirmou.

A manobra já havia sido utilizada por Zema ao longo de seu primeiro mandato. O governador foi eleito como azarão em 2018, batendo os grupos de ex-caciques da política mineira como Aécio Neves (PSDB) e Fernando Pimentel (PT).

De olho na reeleição, que conseguiu, Zema misturava agenda oficial e contatos com a população no interior. Em algumas cidades distribuía máscaras para proteção contra o coronavírus.

As fichas em Professor Mateus indicam dois cenários, que se interligam. O primeiro é tentar garantir a influência de Zema no estado ao fim de seu mandato.

O outro é usar essa influência em Minas, o segundo maior colégio eleitoral do país, e se projetar para uma possível candidatura à Presidência em 2026. O governador mineiro já admitiu essa possibilidade.
“Se fizermos um bom segundo mandato, quem sabe?”, disse no discurso da vitória em primeiro turno na eleição do ano passado, depois de ouvir gritos de “Zema presidente”.

Caso reúna condições de se candidatar ao Palácio do Planalto, o governador teria que deixar seu posto em abril de 2026, por causa da lei eleitoral, com Professor Mateus assumindo o comando do estado.

Nas viagens que já fez pelo interior, o vice de Zema inaugurou delegacia, foi patrono de formandos e participou de reuniões com políticos locais. Também vistoriou estragos causados pelas chuvas e reclamou das condições de uma estrada administrada pelo governo federal.

O escolhido de Zema, porém, deu uma pequena mostra da estratégia que adotaria como vice antes mesmo de tomar posse.

Ainda na noite da diplomação dos candidatos eleitos, em 19 de dezembro, Professor Mateus chegou à Praça da Liberdade, repleta de visitantes atraídos pelas luzes de Natal, e gravou vídeos conversando com as pessoas e se apresentando como vice diplomado.

Professor Mateus, 41, é figura central do Novo e do Governo de Minas Gerais.

Começou a carreira política como vereador em Belo Horizonte. No primeiro mandato de Zema foi secretário-geral de governo. Em 2020 foi enviado pelo Novo a Joinville (SC) para auxiliar no processo de transição na cidade, a primeira no país a ter um prefeito do partido.

É ainda conselheiro muito próximo de Zema. Também no discurso da vitória, passava orientações ao governador de como se posicionar diante das câmeras dos repórteres. “Olhando sempre para a frente”, afirmava, ao ouvido de Zema.

A primeira viagem de Professor Mateus ao interior foi em 13 de janeiro, para uma tarefa normalmente desempenhada por governadores. O vice esteve em Antônio Dias, no Vale do Rio Doce, para vistoriar estragos provocados pelas fortes chuvas na região.

Dias depois se reuniu com lideranças políticas em Montes Claros (norte) e ouviu cobranças por melhorias em estradas estaduais que cortam a região.

Em um vídeo nas redes sociais feito à época, o vice aparece às margens da rodovia federal BR-251, que liga Montes Claros a Salinas, também ao norte do estado, reclamando de má conservação da estrada. “Só não conhece o perigo dessa estrada quem nunca passou aqui”, afirmou na gravação.

No início de fevereiro, uma sexta-feira, a viagem foi para Uberaba, no Triângulo Mineiro, onde Professor Mateus inaugurou uma delegacia de combate a crimes cometidos em zonas rurais, a primeira no estado específica para essa função. No dia seguinte esteve em Araxá, terra natal de Zema, para encontro com líderes políticos.

Na semana seguinte, o vice foi a Timóteo, no Vale do Aço, para reunião da Armva (Agência de Desenvolvimento da Região Metropolitana do Vale do Aço). Esteve ainda em outros três municípios da região: Ipatinga, Coronel Fabriciano e Santana do Paraíso.

Professor Mateus participou também como patrono da colação de grau de alunos da Unifei (Universidade Federal de Itajubá) em Itabira, na região central do estado.

O currículo do vice no site do governo afirma que a adoção do novo nome ocorreu pelo fato de Professor Mateus ter atuado como professor durante 19 anos, em escolas como a Faculdade Milton Campos e na Fundação Dom Cabral, ambas em Belo Horizonte.

O vice afirma que, pelo fato de não ser mais secretário, pode ajudar Zema nos contatos no interior. “Como não respondo mais pela secretaria-geral, tenho condições de auxiliar o governador nos temas municipais em paralelo com a articulação interna das secretarias, que continua sendo um tema meu”, justificou.

“A ideia é que eu possa diminuir um pouco a pressão sobre viagens dele (se reparar, ele tem viajado um pouco menos graças a essa divisão de tarefas). O estado é muito grande e diverso para pretendermos dar as soluções regionais a partir da capital, sem a presença local”, disse.

A reportagem entrou em contato com o governo do estado e com o partido Novo. Não teve retorno.

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