Putin faz visita surpresa à Mariupol, cidade ucraniana devastada pela guerra
Visita de Putin soou como um desafio após o mandado de prisão que o TPI emitiu contra o líder na sexta-feira (17)
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Um dia depois de ser alvo de um mandado de prisão por crimes de guerra pelo Tribunal Penal Internacional (TPI), o presidente da Rússia, Vladimir Putin, fez uma visita surpresa à Mariupol, cidade ucraniana ocupada pelas forças de Moscou e local de algumas das mais devastadoras cenas desta guerra.
Putin chegou em um helicóptero neste sábado (18) após passar pela Crimeia, no aniversário de 9 anos da anexação da península ucraniana no Mar Negro. O presidente fez um tour pela cidade dirigindo seu próprio veículo, afirmou o Kremlin. De acordo com as imagens transmitidas pela televisão estatal russa, a viagem ocorreu à noite.
A emissora mostrou Putin conversando com moradores deslocados para um novo bairro residencial, construído por militares russos, enquanto era informado sobre os esforços de reconstrução pelo vice-primeiro-ministro, Marat Khusnullin.
“Você mora aqui? Você gosta?” perguntou a uma das novas moradoras. “Muito. É um pedacinho do céu que temos aqui”, respondeu a mulher, juntando as mãos e agradecendo a Putin pela “vitória”.
Mariupol fica na região de Donetsk, uma das quatro regiões da Ucrânia amplamente ocupadas pela Rússia que Putin anexou em uma ação considerada ilegal pela maioria dos países na Assembleia Geral das Nações Unidas.
A cidade portuária tornou-se conhecida em todo o mundo depois de ser parcialmente reduzida a ruínas nos primeiros meses da guerra, antes das tropas russas tomarem o controle da cidade. Em março do ano passado, centenas de pessoas foram mortas no bombardeio a um teatro, onde famílias com crianças se abrigavam. Moscou afirma que desde a invasão à Ucrânia, em 24 de fevereiro do ano passado, não tenta atingir civis.
Putin também visitou a orquestra filarmônica local, que acabou de ser recriada, e recebeu um relatório sobre o trabalho de reconstrução em Mariupol, afirmou o serviço de imprensa do Kremlin.
“O criminoso sempre volta à cena do crime”, afirmou o conselheiro presidencial ucraniano, Mikhailo Podoliak, pelo Twitter. “O assassino de milhares de famílias de Mariupol veio admirar as ruínas da cidade e seus túmulos. Cinismo e falta de remorso.”
O conselho municipal da cidade também se manifestou. “O criminoso internacional Putin visitou à noite a Mariupol ocupada, provavelmente para não ver, à luz do dia, a cidade assassinada por sua ‘libertação'”, afirmou o órgão pelo Telegram.
A visita de Putin soou como um desafio após o mandado de prisão que o TPI emitiu contra o líder na sexta-feira (17) –Kiev afirma que mais de 16 mil crianças ucranianas foram deportadas para a Rússia desde o início do conflito.
O presidente ainda não comentou publicamente a iniciativa. Seu porta-voz, no entanto, disse que a decisão era legalmente “nula e sem efeito” e que a Rússia considerou as questões levantadas pelo TPI “ultrajantes e inaceitáveis”.
Foi a primeira vez que o Tribunal de Haia emitiu um mandado de prisão contra um líder de um dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU.
A visita foi a primeira que Putin fez às áreas ocupadas pela Rússia na região de Donbass, na Ucrânia, desde o início da guerra, e o mais próximo que chegou da linhas de frente –estratégia que destoa da do presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, que faz viagens com frequência ao campo de batalha.
De Mariupol, Putin foi a Rostov, no sul da Rússia, onde se encontrou com o comandante da guerra na Ucrânia, Valery Gerasimov.
Nesta segunda-feira (20), o líder chinês, Xi Jinping, chegará à Rússia para uma visita em que serão assinados acordos que marcarão, segundo o Kremlin, o início de uma “nova era” nas relações entre os dois países aliados.
O Ocidente espera que Xi aproveite sua visita a Moscou para pedir a Putin que ponha fim ao conflito –a ofensiva russa isolou amplamente Moscou internacionalmente. Até agora, porém, a China não condenou a invasão e tentou se apresentar como um ator neutro na disputa, posição criticada por líderes ocidentais.