Moro dispensa STF em caso Tacla Duran, vê ‘odioso privilégio’ e critica juiz da Lava Jato
Moro diz que não pretende usar foro especial e que a suposta extorsão está ligada ao período dele como juiz federal
CATARINA SCORTECCI
CURITIBA, PR (FOLHAPRESS) – A defesa do senador Sergio Moro (União Brasil-PR) afirmou ao juiz federal Eduardo Appio que a suposta extorsão apontada pelo advogado Rodrigo Tacla Duran não deve ser abrigada no STF (Supremo Tribunal Federal).
Moro, também por meio de seus advogados, ainda cobrou que o magistrado analise sua própria suspeição em todos os processos da Lava Jato que tramitam em Curitiba.
Moro diz que o foro especial no STF é um “odioso privilégio” que não pretende usar e que a suposta extorsão citada por Tacla Duran está ligada ao período em que ele atuava como juiz federal da Lava Jato, e não como senador. Moro deixou a magistratura em 2018 para assumir ministério na gestão Bolsonaro.
Ele lembra que o STF já decidiu que a competência por prerrogativa de função “mantém-se somente se o ato foi praticado no exercício da função e enquanto perdurar o exercício do cargo”.
O senador afirma que prefere “ser processado e julgado durante seu mandato de senador como qualquer cidadão comum perante um juiz de primeira instância, desde que imparcial”.
Na mesma petição, a defesa de Moro cobra que o juiz Appio analise de imediato o pedido de suspeição contra ele feito pelo Ministério Público Federal no início do mês e faz uma série de críticas à atuação do novo juiz da Lava Jato.
Appio assumiu a 13ª Vara Federal em fevereiro e é abertamente um contestador dos métodos da Lava Jato da época de Moro.
“[O juiz Appio] realizou audiência [com Tacla Duran] cujo único propósito foi colher notícia crime “requentada” envolvendo parlamentares federais (…). A prática desses atos processuais extravagantes e a demora ilegal em apreciar a suspeição apenas robustecem as preocupações do Ministério Público Federal que motivaram a exceção”, diz trecho.
A petição de Moro, assinada pelo advogado Luis Felipe Cunha, foi protocolada por volta das 23h desta terça-feira (28) no bojo do processo no qual Tacla Duran, que já trabalhou para a Odebrecht, é acusado de lavagem de dinheiro.
Durante audiência na segunda-feira (27), Tacla Duran disse ao juiz Appio que houve perseguição do ex-procurador Deltan Dallagnol (hoje deputado federal pelo Podemos-PR) por não ter aceitado uma extorsão praticada por pessoas próximas a Moro.
Desde 2017, o advogado faz acusações contra um amigo de Moro, Carlos Zucolloto Junior, que foi sócio da mulher do ex-juiz, Rosângela que assumiu uma cadeira como deputada federal neste ano.
Tacla Duran diz ter recebido pedido de pagamento para ajudar em negociação de delação premiada. O casal , Deltan e o amigo sempre negaram essas acusações.
O juiz Appio disse na audiência que o assunto seria de competência do STF, devido ao foro especial dos citados por Tacla Duran. Foi com tal justificativa que Appio não pediu detalhes a Tacla Duran sobre o que ele tentava narrar.
Tacla Duran é réu acusado de lavagem de dinheiro em processo da operação e era considerado foragido das autoridades brasileiras até este mês, quando Appio, que assumiu os casos da Lava Jato em Curitiba em fevereiro, decidiu revogar prisão preventiva que tinha sido decretada quando Moro ainda era juiz.