“Precisamos tratar a nossa sociedade antes de pensar em homeschooling”, afirma professora do IF Goiano

Ensino doméstico virou pauta diante de cenário recente de violência nas escolas em Goiás

Augusto Araújo Augusto Araújo -
Imagem mostra alunos da rede municipal de ensino de Goiânia. (Foto: Divulgação/SME)

Diante do cenário atual de ameaças e violência ocorrendo nos colégios goianos, o ensino doméstico (também conhecido como homeschooling) começou a ser debatido como uma alternativa para a segurança dos estudantes.

No entanto, a avaliação de quem é especialista em aprendizado e estuda o processo de aprender aponta que esse não é o melhor caminho a ser seguido.

Ao Portal 6, Maria Luiza Bretas, professora de linguagens do Instituto Federal Goiano (IF Goiano), explicou que a questão do ensino doméstico é muito mais complexa do que aparenta.

“Nós professores licenciados estudamos cinco anos para ensinar e, às vezes, os pais não tem condições de fazê-lo de forma adequada. É algo que exige tempo, preparação, conhecimento, planejamento e dedicação”.

Além disso, a pesquisadora pontuou que a escola também deve ser um lugar de autonomia, que ensine os alunos a socializar, respeitar os colegas e professores, e a ter liberdade de expressão e de pensamento.

Contudo, Maria Luiza afirmou que, após a fase mais crítica da pandemia, os estudantes se tornaram mais ansiosos e emocionalmente frágeis.

“Temos jovens extremamente abalados, inseridos em um contexto de muita incitação à violência, ao uso de armas. Isso tem afetado demais as crianças e adolescentes”.

Em diálogos com diversos alunos, a professora descobriu que, em muitos casos, há uma lacuna emocional muito grande, devido a um distanciamento afetivo entre pais e filhos dentro do ambiente doméstico.

“A família precisa ser um ‘porto seguro’, mas vemos, em muitos casos, que fica cada um no seu canto, sem participar da vida do filho. É muito importante que os pais estejam presentes, que procurem saber como o filho vai na escola, como é a relação dele com os colegas, com os amigos e professores”.

Sendo assim, Maria Luiza apontou esse afastamento como outro fator negativo para o ensino doméstico no momento brasileiro.

“Nós precisamos primeiro tratar a nossa sociedade, como um todo, antes de pensar em homeschooling. Mas eu não acredito que seja essa a saída [para o contexto atual]”.

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