Putin ataca porto antes de discutir acordo de grãos com Erdogan

Ministério da Defesa ucraniano não detalhou qual dos dois portos foi atingido neste domingo, mas a imprensa local relatou explosões em Reni

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Como o Brasil é signatário do Estatuto de Roma, que criou o TPI, o país em tese está obrigado a prender Putin caso ele desembarque em território nacional (Foto: Valter Campanato/Agência Brasil)
Como o Brasil é signatário do Estatuto de Roma, que criou o TPI, o país em tese está obrigado a prender Putin caso ele desembarque em território nacional (Foto: Valter Campanato/Agência Brasil)

IGOR GIELOW

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A Rússia atacou neste domingo (3) um porto ucraniano no rio Danúbio, ferindo duas pessoas. A ação ocorre um dia antes de o presidente Vladimir Putin receber o colega turco Recep Tayyip Erdogan para discutir a volta do acordo que permitia a exportação segura de grãos de Kiev pelo mar Negro.

Assim, o emprego de drones kamikazes iranianos Shahed-136 nesta madrugada pode ser visto como um cartão de visitas acerca da disposição russa ou mera demonstração de força, após uma semana de relativa calma nesse teatro específico da guerra, que parecia sinalizar boa vontade antes do encontro –até alguns navios conseguiram navegar a partir de portos ucranianos sem serem importunados.

Erdogan foi o mediador, em conjunto com a ONU, do acordo fechado em julho de 2022 para que a Ucrânia, grande ator no mercado mundial de grãos, pudesse escoar sua produção. Em troca, a Rússia recebeu garantias de que seus produtos agrícolas também teriam a negociação facilitada pelo Ocidente, apesar das sanções impostas a Moscou devido à guerra.

Putin disse que a contrapartida não foi cumprida, e o turco já concordou com isso. No dia 17 de junho, o russo deixou o acordo e começou uma campanha de bombardeios contra a infraestrutura portuária ucraniana, isolando o principal terminal do país, Odessa.

Neste domingo, a assessoria de Erdogan afirmou que tem “grandes e cautelosas esperanças” acerca de um avanço no encontro dele com Putin, que vai ocorrer no balneário russo de Sochi. Será a primeira reunião do líder do Kremlin com um chefe de Estado da Otan, a aliança militar ocidental, desde o começo da guerra.

Erdogan caminha em uma linha tênue, apoiando militarmente a Ucrânia e cumprindo suas obrigações com a Otan, mas mantendo proximidade com Putin, com quem compartilha projetos energéticos e de quem já comprou armas avançadas. A Turquia não aderiu às sanções contra Moscou.

Com o bloqueio quase total a Odessa, Kiev buscou direcionar sua exportação por dois portos do rio Danúbio, Izmail e Reni, contando com a proximidade de poucas centenas de metros da Romênia, um membro da Otan e da União Europeia. Putin deu de ombros, e passou a atacar pontualmente aquelas instalações.

O Ministério da Defesa ucraniano não detalhou qual dos dois portos foi atingido neste domingo, mas a imprensa local relatou explosões em Reni. Segundo a pasta, 22 dos 25 Shahed-136 lançados foram abatidos, mas além de 3 terem passado pelas defesas, destroços de outros caíram sobre edifícios, deixando os dois feridos.

A crise toda provocou a transformação do mar Negro em um teatro ativo da Guerra da Ucrânia, iniciada com a invasão russa de fevereiro de 2022. Kiev danificou dois navios russos com drones aquáticos e anunciou um bloqueio contra portos de Moscou na região, que não surtiu efeito.

O país deixou de ter uma Marinha de guerra operante, mas segue com uma armada de botes-robôs e pequenas embarcações, que também passaram a ser alvo dos russos. No sábado (2), três drones foram afundados tentando chegar à ponte que liga a Crimeia, anexada em 2014, à região russa de Krasnodar.

Outro aspecto da atual fase da guerra é a contraofensiva de Kiev, aberta em 4 de junho e objeto de diversas críticas no Ocidente devido a sua ineficácia até aqui. Cada pequena conquista de vilarejo tem sido anunciada pelos ucranianos como uma grande vitória, até para manter o apoio de seus aliados.

Nesse espírito, o jornal britânico The Observer deu grande destaque no sábado a uma entrevista do general ucraniano Oleksander Tarnavski, que disse ter rompido a primeira de três linhas de defesa russa num ponto da frente de batalha em Zaporíjia (sul).

É lá que Kiev tem dedicado seus maiores esforços, tentando avançar em direção ao mar de Azov, ao sul, para cortar a ponte terrestre que Putin estabeleceu no ano passado ligado a Crimeia a seu território. O próprio Tarnavski afirma que “tudo ainda está à nossa frente”, mas sugere que as duas próximas linhas de defesa são menos densas.

Pode ser, mas não há relato de que as forças ucranianas tenham conseguido entrar com mais do que grupos de assalto pequenos pela brecha que dizem ter feito. Segundo analistas militares russos e o Instituto dos Estudos da Guerra (EUA), houve avanço, mas ele não é significativo o suficiente para sustentar muito otimismo neste momento.

O mesmo instituto confirmou, por meio de imagens de satélite, as alegações russas de que houve avanço na sua própria ofensiva, no nordeste do país, perto de Kupiansk (região de Kharkiv, a segunda maior cidade ucraniana).

Esse eixo de operações é o mais problemático hoje para Kiev, já que o coração de suas forças está ativo mais ao sul.
Kupiansk e quase 40 cidadezinhas a seu redor foram evacuadas pela Ucrânia. Segundo blogueiros militares russos, que devem ser lidos com o mesmo grau de ceticismo e interesse dedicado a oficiais ucranianos, há um grande avanço em formação na região.

Os russos contam com mais mão de obra. Neste domingo, o ex-presidente Dmitri Medvedev afirmou que 280 mil soldados foram adicionados às Forças Armadas neste ano. Com cerca de 1 milhão de militares em serviço ativo em 2022, o país anunciou planos de aumentar o efetivo para 1,5 milhão até 2026. Na conta do hoje número 2 do Conselho de Segurança de Putin estão conscritos (130 mil) e profissionais contratados.

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