Juiz multa Trump em US$ 9 mil por violar ordem de silêncio no tribunal
Magnata violou ordem de não insultar testemunhas, jurados, membros do tribunal ou familiares
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O juiz Juan Merchan impôs uma multa de US$ 9 mil (R$ 46 mil) ao ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump, nesta terça-feira (30) por violação de uma ordem de silêncio que o impede de criticar envolvidos no julgamento em que é acusado de fraude -tanto ao maquiar as contas da sua empresa para encobrir pagamentos a uma ex-atriz pornô quanto ao supostamente mentir para conseguir ser eleito em 2016.
Merchan anunciou a sua decisão a Trump na abertura de uma nova audiência do julgamento, em Nova York. Segundo o juiz, o magnata violou a ordem de não insultar testemunhas, jurados, membros do tribunal ou seus familiares.
Quando a Justiça de Nova York ainda estava na etapa de escolha dos jurados para o caso, os promotores pediram que o juiz multasse Trump em US$ 3.000 por violar a ordem de silêncio três vezes. Posteriormente, eles voltaram a afirmar no tribunal que o republicano continuava desafiado a medida –seriam mais de sete violações.
Já na semana passada, os promotores afirmaram que Trump desrespeitou a decisão 11 vezes e pediram a multa, apesar de desacatos também serem passíveis de punição com penas de prisão de até 30 dias no estado de Nova York. O valor de US$ 10 mil seria relativamente pequeno para o republicano, que já pagou centenas de milhões em fiança em dois outros casos que enfrenta na esfera civil.
Durante o processo Trump chamou seu ex-advogado Michael Cohen de “mentiroso em série”. Ele ainda endossou as acusações feitas sem provas pelo comentarista da Fox News Jesse Watters de que o tribunal estava selecionando para o júri “ativistas progressistas infiltrados que mentem”.
No dia seguinte, uma candidata ao júri desistiu do processo alegando se sentir intimidada. Para evitar intimidações e assédio, o juiz decretou o anonimato dos 12 integrantes do júri e dos seis suplentes.
O promotor Conroy também resgatou uma publicação feita por Trump no dia 10 de abril que chamava Cohen e a atriz pornô Stormy Daniels, de quem o ex-presidente teria comprado o silêncio, de “safados”. Ambos devem testemunhar nesse que é o primeiro julgamento criminal de um ex-presidente dos EUA.
Durante uma pausa no julgamento, o republicano usou a plataforma Truth Social para acusar o juiz, Merchan, de retirar seu “direito à liberdade de expressão”. Ele também disse que não tinha permissão para se defender.
O advogado de Trump, Todd Blanche, argumentou que as publicações de seu cliente eram respostas a Cohen e que não estavam relacionadas ao testemunho de seu ex-advogado. “Ele tem permissão para responder a ataques políticos”, afirmou.
Trump é acusado de tentar esconder histórias que poderiam ser prejudiciais para sua vitoriosa campanha de 2016 à Casa Branca. O esquema envolveria o pagamento de US$ 130 mil feito por Cohen, advogado de Trump à época, à atriz pornô Daniels para que ela não revelasse um suposto encontro sexual com o empresário uma década antes.
O ex-presidente reembolsou Cohen, segundo os promotores, e maquiou as despesas nas contas de sua empresa para que elas fossem consideradas gastos de campanha. Os promotores afirmam ainda que isso fazia parte de um esquema mais amplo para esconder informações desfavoráveis dos eleitores em um momento em que ele enfrentava outros escândalos de cunho sexual.
O caso é visto por muitos especialistas jurídicos como o de menor peso dos processos de Trump, com base em fatos que são públicos desde 2018. No entanto, pode ser o único dos quatro processos criminais do republicano a ir a julgamento antes de sua revanche eleitoral contra o atual presidente, o democrata Joe Biden, no dia 5 de novembro.
Uma eventual derrota nos tribunais não o impediria de assumir o cargo, mas poderia prejudicar sua candidatura. Pesquisas da Reuters/Ipsos mostram que metade dos eleitores independentes e um em cada quatro republicanos dizem que não votariam em Trump se ele for condenado por um crime.