Putin mantém roteiro e distribui ataques ao Ocidente em fórum na Rússia
Russo reiterou que países ocidentais estão envolvidos no conflito iniciado em 2022
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, disse nesta quarta-feira (5) que não espera mudanças nas políticas dos Estados Unidos em relação a Moscou após a eleição à Casa Branca, em novembro, independentemente de quem seja o vencedor. Segundo o mandatário russo, porém, a condenação de Donald Trump na semana passada mostra que Washington está “queimando por dentro”.
Em entrevista coletiva a jornalistas estrangeiros no principal fórum econômico anual da Rússia, em São Petersburgo, Putin manteve o roteiro adotado desde o começo da Guerra da Ucrânia e distribuiu ataques aos EUA e outros países da Otan. O russo reiterou que países ocidentais estão envolvidos no conflito iniciado em 2022 e voltou a dizer que o envio de armas ao país invadido representa um movimento “muito perigoso”.
“Ninguém nos EUA está interessado na Ucrânia, eles estão interessados apenas na grandeza dos próprios EUA”, disse Putin. “Entregar armas numa zona de guerra é sempre ruim. Ainda mais se aqueles que o fazem não só entregam armas, mas também as controlam. Trata-se de um passo muito sério e perigoso.”
Os EUA e seus principais aliados na Otan, a aliança militar ocidental, decidiram na semana passada desafiar as ameaças nucleares feitas por Putin de forma aberta e permitiram o emprego de armas doadas a Kiev contra alvos na Rússia. No domingo (2), as forças ucranianas destruíram pela primeira vez um sistema antiaéreo dentro do território vizinho usando um foguete americano.
“Se alguém acha que é possível fornecer tais armas a uma zona de guerra para atacar o nosso território e criar problemas para nós, por que não temos o direito de fornecer armas do mesmo tipo para algumas regiões do mundo onde possam ser usadas para lançar ataques contra instalações sensíveis dos países que fazem isso com a Rússia?”, questionou Putin.
A despeito da decisão tomada pelo governo do presidente Joe Biden, o líder russo disse não se importar com a corrida presidencial americana. “Nunca tivemos laços especiais com Trump, mas o fato é que, como presidente, ele começou a impor sanções maciças à Rússia”, disse Putin. “Não acreditamos que, após as eleições, algo mudará em relação à Rússia na política americana. Eu não diria isso.”
Em fevereiro, Putin havia dito que preferia Biden a Putin. O democrata, segundo o russo, seria mais previsível. Nesta quarta, contudo, ele disse que o republicano tem sido alvo em uma batalha política no sistema judicial americano.
“Eles [EUA] estão se queimando por dentro. […] É óbvio que o processo contra Trump, especialmente em um tribunal com acusações que foram formadas com base em eventos que aconteceram anos atrás, sem provas diretas, está simplesmente usando o sistema judicial em uma luta política interna”, disse.
Trump se tornou na quinta (30) o primeiro ex-presidente considerado culpado pela Justiça em uma ação criminal na história dos EUA. O júri avaliou que o empresário é culpado nas 34 acusações de falsificação de registros empresariais para encobrir pagamentos à atriz pornô Stormy Daniels e, assim, evitar que ela divulgasse supostamente ter mantido relações sexuais com ele às vésperas da eleição de 2016.
Sobre o conflito contra a Ucrânia, Putin disse que as baixas da Rússia são várias vezes menores do que as do lado inimigo. “Há poucos [ucranianos] que querem lutar. É por isso que eles recrutaram 30 mil no mês passado e, no mês anterior, cerca de 50 mil, de acordo com nossos dados. Mas isso não resolverá o problema. Sabe por quê? Porque toda essa mobilização apenas cobre as perdas”, disse ele.
Segundo Putin, cerca de 50 mil militares ucranianos morrem na guerra todos os meses. Sem apresentar provas, disse também que há instrutores militares ocidentais participando do conflito.
Em relação à guerra entre Israel e o Hamas, na Faixa de Gaza, Putin disse que há uma “aniquilação total da população civil” no território palestino. “O que acontece atualmente não se parece em nada com uma guerra. É uma espécie de aniquilação total da população civil”, disse o mandatário.