Em provocação à China, congressistas dos EUA visitam dalai lama
Grupo de sete membros, formado por republicanos e democratas, chegou na terça-feira (18) em Dharamsala
Uma delegação de legisladores dos Estados Unidos que inclui a ex-presidente da Câmara dos Deputados Nancy Pelosi se encontrou com o atual dalai lama, com são chamados os líderes espirituais tibetanos, nesta quarta-feira (19), no mosteiro do Nobel da Paz, na Índia.
O grupo de sete membros, formado por republicanos e democratas, chegou na terça-feira (18) em Dharamsala. Tenzin Gyatso, o atual e 14º dalai lama, vive nessa cidade no pé do Himalaia, no norte da Índia, desde a década de 1960, após uma revolta fracassada contra o domínio da China no Tibete.
Devido à proximidade dos EUA com a causa do Tibete, é comum que autoridades americanas se encontrem com o líder de 88 anos, que deve, aliás, voar para o país norte-americano nesta semana para um tratamento médico.
“Ainda tenho esperança de que um dia o dalai lama e seu povo retornem ao Tibete em paz”, afirmou o republicano Michael McCaul, líder da delegação e presidente do Comitê de Relações Exteriores da Câmara, em um evento público após a reunião. Segundo ele, Pequim tenta interferir na escolha do próximo líder. “Não permitiremos que isso aconteça.”
A sucessão está no centro dos debates em relação ao Tibete atualmente. A tradição local afirma que o dalai lama reencarna após sua morte, e embora Pequim tenha dito que tal costume deve continuar, o regime também defende que as autoridades chinesas aprovem o sucessor.
A disputa de longa data na região se intensificou recentemente, quando o pior conflito em décadas na fronteira entre Índia e China matou dezenas de soldados dos dois gigantes asiáticos.
Agora, a visita deve acrescentar uma nova camada de tensão -a viagem ocorre dias depois de o Congresso americano aprovar um projeto de lei que insta Pequim a reiniciar um diálogo com líderes tibetanos, paralisado desde 2010, e encontrar uma solução para o conflito. Embora Washington reconheça o Tibete como parte da China, o projeto de lei parece questionar esse entendimento, segundo analistas.
Pelosi disse que a aprovação do texto, intitulado Resolve Tibet Act, enviou uma mensagem à China de que a posição de Washington em relação à questão do Tibete estava clara. “Esse projeto de lei diz ao governo chinês: as coisas mudaram agora, estejam preparados para isso”, afirmou ela antes de ser aplaudida por centenas de tibetanos no evento desta quarta.
Fotografias no site do dalai lama mostraram o líder segurando uma cópia emoldurada do projeto ao lado dos legisladores.
Pequim, que chama Gyatso de separatista perigoso, consideram o governo no exílio ilegal e veem qualquer apoio à autonomia do Tibete, que eles chamam de Xizang, como uma interferência em assuntos internos chineses. Não foi uma surpresa, portanto, quando o país disse estar seriamente preocupado com a visita dos legisladores e pediu ao presidente americano, Joe Biden, para não assinar o projeto de lei.
“Instamos o lado dos EUA a reconhecer plenamente a natureza separatista anti-China do grupo dalai, honrar os compromissos que os EUA fizeram com a China em questões relacionadas a Xizang e parar de enviar o sinal errado para o mundo”, disse a embaixada chinesa em Nova Déli em um comunicado na noite de terça.
“A aprovação presidencial do projeto de lei seria muito mais preocupante para a China do que se Biden ou qualquer outro líder se encontrasse com o dalai lama”, disse à agência de notícias Reuters Robert Barnett, especialista em Tibete da Escola de Estudos Orientais e Africanos de Londres.
Nesta quarta, McCaul disse que os oficiais chineses enviaram à delegação uma carta pedindo o cancelamento da visita, mas acrescentou que Washington está ao lado do Tibete em seu direito à autodeterminação. “Os EUA apoiarão o Tibete para permanecer uma força poderosa como sempre”, afirmou.
A presença de Pelosi no grupo trouxe lembranças de sua viagem a Taiwan em 2022, quando ela ainda era presidente da Câmara. A viagem foi a primeira visita do tipo em 25 anos à ilha que, para Pequim, faz parte da China. Na época, a visita resultou em uma resposta enérgica, incluindo restrições comerciais a Taiwan e exercícios militares perto do território.
Agora, a visita à Índia ocorre no momento em que EUA e Índia aprofundam sua relação ante o que consideram uma ameaça da China -o conselheiro de segurança nacional de Biden, Jake Sullivan, está em Nova Déli esta semana para várias rodadas de conversas com autoridades indianas sobre cooperação em defesa e tecnologia.
O porta-voz do governo do Tibet no exílio, Tenzin Lekshay, disse que a situação do Tibete não deve ser vista por meio “da lente do aumento da rivalidade entre os EUA e a China”, mas como um lembrete de como o modo de vida tibetano “enfrenta uma ameaça existencial”.
“Esperamos que os líderes do mundo livre defendam a causa do Tibete, pedindo particularmente à liderança chinesa para reinstalar o diálogo para resolver o conflito sino-tibetano”, disse ele.