Um vídeo em que dois capitães do Exército da Venezuela supostamente pedem que as tropas intervenham na crise política do país tem circulado nas redes sociais esta semana como um indício de que as Forças Armadas estariam dispostas a retirar o ditador Nicolás Maduro do poder.
Mas os capitães em questão, identificados como os irmãos Javier e Juan Carlos Nieto Quintero, são militares reformados que estão exilados, ou seja, não têm influência direta sobre as tropas em Caracas.
A informação é de uma reportagem do site jornalístico independente Efecto Cucuyo que, por sua vez, baseou-se em checagem feita pelo Observatório Venezuelano de Fake News.
Segundo o Efecto Cucuyo, Javier foi preso em 2004, acusado de participar de uma tentativa de assassinato do então presidente Hugo Chávez. Juan também foi encarcerado e teria sido torturado em 2014 para revelar informações sobre oficiais da Guarda Nacional do país.
No vídeo, a dupla afirma que o que chama de “medidas constitucionais não convencionais” sejam acionadas para garantir a governabilidade na Venezuela. Em seguida, explica que isso significaria o estabelecimento de uma junta de transição composta por civis e militares e encabeçada pelo candidato de oposição, Edmundo González.
Embora González tenha sido apontado perdedor pelo CNE (Conselho Nacional Eleitoral venezuelano), com 44,2% dos votos contra 51,2% do ditador com 80% das urnas apuradas, a coalizão adversária diz que teve acesso a atas eleitorais suficientes para mostrar que seu representante é o verdadeiro ganhador. Levantamentos diferentes, feitos com base em amostragens, também apontam a vitória do opositor.
O vídeo dos supostos militares começou a ser compartilhado por políticos de direita no Brasil depois que foi republicado pelo bilionário Elon Musk na plataforma de que é dono, X, na terça-feira (30). “Se isto ganhar impulso, o legítimo presidente eleito assumirá o posto do fraudador”, escreveu o empresário.
Musk apagou o conteúdo depois que uma série de internautas apontou que os homens que falavam no vídeo não eram oficiais da ativa.
Maduro acusa o bilionário de estar por trás de um suposto ataque hacker que explicaria por que o regime não atendeu até agora os pedidos da comunidade internacional para que divulgue as atas eleitorais das eleições do fim de semana.
Os documentos servem para ajudar a garantir a lisura do processo eleitoral, uma vez que permitem cruzar informações e verificar se o número total de votos computados e a quantidade de votos para cada candidato são equivalentes.
A briga cresceu depois de Maduro afirmou, em um discurso a apoiadores, estar pronto para brigar com Musk.
O empresário respondeu por meio de uma publicação no X. Nela, dizia que aceitava o convite e que achava que o ditador “vai amarelar”.
O venezuelano então voltou a provocá-lo. “Você quer briga? Vamos nessa, Elon Musk. Estou pronto. Sou filho de [Simón] Bolívar e de [Hugo] Chávez. Não tenho medo de você. É só dizer onde”, disse.