A Câmara dos Deputados da Espanha aprovou, nesta quarta-feira (11), uma moção em que reconhece o candidato opositor da Venezuela, Edmundo González, como legítimo presidente do país, por 177 votos a favor, 164 contra e uma abstenção.
A homologação é meramente simbólica. Esse tipo de decisão cabe ao Poder Executivo espanhol, e este já afirmou que continuará a seguir a posição da União Europeia (UE) no tema -ou seja, não reconhecer nem a vitória da oposição, nem a do ditador Nicolás Maduro nas eleições presidenciais venezuelanas.
Em vez disso, o bloco exige que Caracas dê a ele acesso aos resultados do pleito desagregados para que sua checagem seja feita de maneira independente. O primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, reforçou isso nesta quarta. “Trabalhamos pela unidade da UE”, declarou ele a jornalistas na China, onde está nesta semana, horas antes da votação parlamentar.
A proposta de reconhecer o líder oposicionista como presidente legítimo da Venezuela começou a ser debatida terça-feira (10) à tarde, quando centenas de manifestantes protestavam contra a ditadura de Maduro em frente ao Congresso espanhol.
O venezuelano chegou à Espanha dias antes, no domingo (8). Alvo de um mandado de prisão em Caracas, ele tinha pedido asilo político ao governo espanhol e teria ficado em sua embaixada na capital da ditadura da quinta-feira passada (5) até sábado (7).
O líder não aparece em público desde que desembarcou em Madri. Mas outros líderes oposicionistas que vivem na Espanha acompanharam a votação do projeto na Câmara nesta quarta, e chegaram a ser ovacionados pelos deputados a certa altura.
Um dos líderes presentes era Antonio Ledezma, ex-prefeito de Caracas. Ele afirmou à agência Reuters acreditar que a fuga de González fortaleceria a dissidência venezuelana. “Edmundo será livre, não ficará confinado entre quatro paredes, como na Venezuela”, ele disse.
A moção para reconhecer González presidente era de autoria do PP (Partido Popular), uma legenda conservadora. Durante o debate, a deputada Cayetana Álvarez de Toledo, afiliada à sigla, afirmou que a iniciativa buscava “impulsionar a transição [democrática na Venezuela]” e pediu que o governo espanhol trabalhasse para que fosse Maduro quem tivesse que ir para o exílio.
Cristina Narbona, deputada pelo PSOE (Partido Socialista Operário Espanhol) de Sánchez, afirmou, por sua vez, que reconhecer o autoproclamado presidente da Venezuela Juan Guaidó no passado “não teve utilidade nenhuma”.
González, um diplomata aposentado de 75 anos, tinha substituído nas urnas a líder da coalizão opositora, María Corina Machado, depois que esta foi impedida de concorrer pelo regime.
A oposição disponibilizou o que estima serem 80% das atas eleitorais (equivalentes a boletins de urnas) online e afirmam que González foi o vencedor do pleito, com 67% dos votos contra 30% de Maduro -o resultado foi confirmado por mais de uma entidade independente.
A ditadura, por sua vez, diz que o líder chavista foi reeleito para um terceiro mandato com 52% dos votos, contra 43% de González. Mas a despeito da ampla pressão internacional e contradizendo a própria legislação venezuelana, ela se recusa a divulgar as atas.