Rebeldes tomam cidade estratégica na Síria e se aproximam de Damasco
Ofensiva que reiniciou a guerra civil no país e que pode derrubar o regime de mais de duas décadas do ditador Bashar al-Assad
Rebeldes liderados pelo grupo radical islâmico HTS tomaram o controle da estratégica cidade de Homs ao mesmo tempo em que avançavam em direção à capital, Damasco, neste sábado (7). A movimentação ocorre uma semana depois do início da ofensiva que reiniciou a guerra civil no país e que pode derrubar o regime de mais de duas décadas do ditador Bashar al-Assad.
Tanto rebeldes quanto militares afirmaram à agência de notícias Reuters que as defesas de Homs foram rompidas pelo norte e leste da cidade, informação confirmada por um habitante. Mais tarde, dois insurgentes afirmaram que o principal presídio local tinha sido capturado e centenas de prisioneiros libertados. O Exército sírio não comentou os relatos imediatamente.
Os combates estavam intensos no norte de Homs desde a noite de sexta-feira (6), com as forças da ditadura reforçadas bombardeando intensamente os rebeldes. No mesmo período, os insurgentes disseram ter tomado quase toda a região sudoeste do país e avançado para um ponto a cerca de 30 quilômetros de Damasco. Um porta-voz do HTS anunciou neste sábado que o cerco à capital havia começado.
O Ministério da Defesa sírio negou que seus militares tenham abandonado posições defensivas em Damasco, alegando que estavam reforçando sua presença nos arredores da área. Reforçando a possibilidade de uma nova revolta na própria Damasco, manifestantes em um subúrbio derrubaram uma estátua do pai de Assad. A informação foi confirmada por moradores, e um vídeo nas redes sociais mostrou a destruição do monumento.
Assad supostamente permanece na capital, segundo a agência de notícias estatal síria. Contudo, uma pessoa com conhecimento do assunto afirmou à CNN que o ditador não está em seus locais habituais, e que seus guardas pessoais não estão em sua residência. Analistas indicam que o regime pode cair nos próximos dias. Desde a invasão dos rebeldes em Aleppo no fim de semana passado, as defesas do regime desmoronaram rapidamente, com os insurgentes retomando controle de grandes cidades como Hama, Deir al-Zor, Quneitra, Deraa e Suweida.
A tomada de Homs, considerada vital estrategicamente, ameaça cortar Damasco da fortaleza costeira dos alauitas e das bases aérea e naval da Rússia. “Homs é a chave. Vai ser muito difícil para Assad resistir, mas se Homs cair, a principal rodovia de Damasco para Tartus e a costa será fechada, isolando a capital das montanhas alauitas”, afirmou Jonathan Landis, especialista da Universidade de Oklahoma.
No sul, a queda de Deraa e Suweida na sexta-feira, seguida pela de Quneitra neste sábado, pode permitir um ataque coordenado à capital. Deraa tem importância simbólica como berço da revolta e é a capital de uma província de 1 milhão de pessoas, fazendo fronteira com a Jordânia. No leste, combatentes curdos sírios apoiados pelos EUA capturaram Deir el-Zor na sexta-feira, ameaçando a conexão terrestre de Assad com seus aliados no Iraque. Cerca de 2.000 soldados sírios cruzaram a fronteira para o Iraque em busca de refúgio, segundo o prefeito de Al-Qaem, cidade fronteiriça iraquiana.
A guerra civil síria, iniciada em 2011 como uma revolta contra Assad, envolveu grandes potências externas, abriu espaço para militantes jihadistas e deslocou milhões de refugiados para nações vizinhas. Assad contou com aliados como a Rússia, que realizava bombardeios aéreos, e o Irã, que enviou combatentes do Hezbollah e milícias iraquianas. Contudo, a concentração de Moscou na Guerra da Ucrânia e as perdas do Hezbollah em conflitos com Israel reduziram significativamente o apoio ao regime.
Ministros das Relações Exteriores de Rússia, Irã e Turquia se reuniram neste sábado e concordaram que a integridade territorial da Síria e a retomada de um processo político são fundamentais, embora não tenham definido medidas concretas. A instabilidade doméstica dificulta progressos, enquanto o Irã considera enviar reforços, mas enfrenta riscos de ataques israelenses.
A perda de Homs e outras cidades estratégicas destaca a vulnerabilidade do regime, cuja queda pode transformar o equilíbrio regional. O colapso das forças de Assad ameaça não apenas sua continuidade no poder, mas também a influência de seus aliados, como o Irã e a Rússia.