MAYARA PAIXÃO
BUENOS AIRES, ARGENTINA (FOLHAPRESS) – A Venezuela tem bloqueado o acesso a água potável para os cinco asilados da oposição que há quase um ano vivem na embaixada da Argentina em Caracas, sede diplomática que desde agosto passado está sob os cuidados do Brasil.
Interlocutores diplomáticos confirmam que Caracas tem limitado o tempo de abastecimento com caminhões-pipa à residência. Os próprios asilados dizem que nesta sexta-feira (14) estão sem o recurso, já que o abastecimento foi bloqueado e o último foi há dez dias.
O relato feito à reportagem é o de que o tanque de água já está vazio. O grupo usava água da piscina para a casa, mas, como mostram fotos enviadas, ela já está verde por falta de cloro e manutenção. Os cinco têm apenas algumas garrafas de água potável para consumo.
O governo brasileiro também tem conhecimento de movimentos de forças de segurança do regime nas imediações da embaixada. Os opositores afirmam que todas as propriedades dos arredores da residência foram desocupadas para uso de comandos militares, situação que não pôde ser verificada de forma independente.
“Eles tomaram à força as propriedades para instalar ali seus comandos militares; os asilados hoje são reféns em território argentino sob a proteção do Brasil”, disse nesta quinta (13) María Corina Machado, a líder opositora de quem os cinco asilados eram altos membros da campanha política, durante um evento online da Fundação FHC.
Os relatos dão conta de que a sede diplomática e seus arredores estão sem abastecimento de água por questões infraestruturais da região, localizada em uma parte alta de Caracas. Não está claro se o regime tem relação com isso e se seria proposital. No entanto, a ditadura tem dificultado, e agora bloqueado, a chegada do caminhão-pipa.
Há meses a energia elétrica da residência também foi cortada. A casa é abastecida por um gerador elétrico. Neste ano, o regime impediu o fornecimento de medicamentos de uso contínuo que um dos asilados toma por questões cardíacas. Após negociação, um funcionário da diplomacia brasileira pôde levar o medicamento.
O Brasil voltou a se queixar desses pontos durante recente encontro bilateral do chanceler Mauro Vieira com seu homólogo venezuelano, Yvan Gil. Eles se reuniram por mais de uma hora no Suriname, às margens de um encontro da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica.
Gil mais ouviu do que falou, relata um interlocutor, e disse que olharia para os temas levados por Vieira.
O brasileiro voltou a insistir: 1) por salvo-condutos para que os asilados deixem o país; 2) com a oferta de enviar um avião brasileiro para buscá-los. Caracas não tem dado nenhum sinal verde ao Brasil.
Caracas descreveu o encontro como “cordial”, “de reafirmação de laços de amizade e de respeito mútuo pela soberania dos povos”.
Durante o evento online da Fundação FHC, María Corina, que vive asilada em um lugar desconhecido, provavelmente uma embaixada, agradeceu aos esforços do Brasil. Mas pediu mais ações.
“Temos tido uma comunicação permanente por meio do Ministério de Relações Exteriores, mas é preciso fazer mais. É preciso fazer com que respeitem as convenções e os tratados internacionais.”
Asilados políticos são protegidos pela Convenção de Asilo Diplomático, de 1954. Entre outras coisas, o documento estipula que, no caso de ter de abandonar um país, a equipe diplomática que oferta asilo a alguém poderá levar os asilados consigo. A Venezuela impediu isso quando expulsou os diplomatas argentinos do país em agosto passado.