Saiba como Musk influenciou 2º governo de Trump
Bilionário anunciou que deixará cargo no governo dos Estados Unidos


SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) – A passagem do bilionário Elon Musk, que afirmou nesta quarta-feira (28) que deixará cargo no governo dos Estados Unidos, foi marcada por polêmicas, projetos de demissão em massa de servidores e, principalmente, pela influência do empresário sob o presidente Donald Trump.
Musk se tornou uma das figuras mais polêmicas de uma gestão repleta de nomes controversos no primeiro escalão do governo Trump. Ao promover demissões em massa de servidores e estimular o fim de iniciativas federais, provocou pânico na vida de milhares de servidores e populações mais vulneráveis, jogando a administração federal dos EUA em um período de incertezas.
Bilionário buscou eliminar do governo iniciativas de diversidade e inclusão. Para isso, fez com que milhares de páginas de sites oficiais do governo fossem deletadas, como aquelas com informações de saúde voltadas a pessoas LGBTQIA+. Também empenhou esforços para fechar a Usaid (Agência dos EUA para o Desenvolvimento Internacional), principal agência de ajuda humanitária dos EUA para o mundo, mas acabou impedido pela Justiça.
Considerado um dos principais conselheiros de Trump desde a campanha eleitoral, Musk alavancou teorias de conspiração e notícias falsas. A mais repercutida recentemente foi a de que a África do Sul promovia um genocídio contra fazendeiros brancos. Com as propagações, ele ajudou a manter a base de extrema-direita do presidente inflamada, recorrendo, em muitos momento, à sua influência no X, rede social da qual é dono, onde acumula mais de 200 milhões de seguidores.
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DEMISSÕES EM MASSA
Empresário liderou campanha de demissões em massa nos últimos meses. O argumento de Musk e Trump para os cortes era “acabar radicalmente com a burocracia” e cortar gastos do governo. Com o plano colocado em prática, cerca de 200 mil funcionários federais de diferentes áreas foram demitidos desde fevereiro.
Principais cientistas de saúde pública deixaram o governo. Os cortes liderados por Musk na área da saúde atingiram, por exemplo, responsáveis por supervisionar o setor, afetando pesquisas sobre câncer e a aprovação de vacinas e medicamentos. Diante das saídas, repercutiram preocupações de pesquisadores e parlamentares sobre como os EUA responderão a emergências sanitaristas, como o atual surto de sarampo e a disseminação da gripe aviária.
Liderado pelo bilionário, Doge cortou cerca de 12% da força de trabalho civil federal de 2,3 milhões de pessoas. Grande parte dos cortes ocorreu por meio de ameaças de demissões e ofertas de aposentadoria antecipada, segundo uma análise da Reuters sobre as demissões nas agências federais. Questionado sobre quem o preocupa mais quando se trata da perspectiva de ser demitido, um funcionário da Administração de Serviços Gerais do governo, disse à agência de notícias em fevereiro: “Musk. Ninguém está realmente falando sobre Trump”.
Apesar do nome, Doge não se trata de um departamento. O projeto encabeçado por Musk envolve autoridades consultivas e era considerado uma forma de prestígio de Trump ao bilionário. Também não se sabe exatamente quem compõe o Doge, uma vez que o governo não divulgou uma lista dos funcionários do departamento ou como eles estão sendo pagos. Iniciativas do grupo também geraram ações judiciais de sindicatos, órgão de fiscalização e grupos de interesse público.
Ao anunciar sua saída, Musk afirmou que a missão do Doge se fortalecerá com o tempo. Segundo o bilionário, esse cenário ocorrerá conforme o departamento “se tornar um modo de vida em todo o governo”.
CRITICAS AO MEGAPACOTE DE TRUMP
Antes de anunciar saída do governo, bilionário criticou o megapacote orçamentário de Trump. “Fiquei decepcionado ao ver esse projeto de lei de gastos imensos, francamente, que aumenta o déficit orçamentário (…) e mina o trabalho que está sendo feito pela equipe do Doge”, disse Musk em uma entrevista ao canal CBS News, da qual foi exibido um trecho na noite de terça-feira (27). A entrevista completa irá ao ar no domingo (1º).
“Acho que um projeto de lei pode ser grande ou pode ser bonito”, declarou Musk à CBS News. Mas acrescentou: “Porém, não sei se pode ser as duas coisas ao mesmo tempo. É a minha opinião pessoal”.
O projeto de lei proposto por Trump reduz os programas de seguridade social para financiar uma ampliação dos cortes de impostos de 2017. A “lei grande e bonita”, como Trump a chama, foi aprovada pela Câmara dos Representantes e agora segue para o Senado. O texto consolida a visão do governo de uma nova “Era de Ouro”. Críticos dizem que isso dizimará os cuidados de saúde dos americanos mais pobres e fará com que a dívida nacional dispare.
Sem mencionar Musk, a Casa Branca tentou minimizar qualquer divergência sobre os gastos do governo dos EUA. “Não é um projeto de orçamento anual”, afirmou o assessor de Trump, Stephen Miller, no X.
MUSK FORA DO GOVERNO?
Norte-americanos testemunharam “extraordinária centralização de poder em alguém que não tem autorização de segurança de alto nível e não foi submetido a nenhum processo de confirmação do Senado”, avaliou analista. Segundo afirmou à Reuters Don Moynihan, professor da Escola de Política Pública Ford da Universidade de Michigan, Musk teve um “controle centralizado e sem precedentes da estrutura básica do governo”.
Saída de Musk não significa o fim dos seus laços com a gestão Trump, segundo análise de revista norte-americana. Conforme divulgado pela Wired, que cobre tecnologia e política e se destacou na cobertura da influência de Musk no governo, alguns dos membros da equipe que Musk levou ao governo têm sido contratados como funcionários efetivos de certas agências e estão espalhados por diversos órgãos do governo federal.
“Agora há pessoas em posições em várias agências que são próximas dele [Musk], que são leais a ele. E não acho que seja irracional esperar que eles provavelmente mantenham contato com ele mesmo depois que ele sair”, disse Vittoria Elliot, repórter da Wired, em artigo de 28 de maio.