Descubra a história por trás de uma das comidas preferidas dos goianos
O ingrediente principal é sempre o mesmo: a massa do milho ralado, envolta em palha de milho verde e amarrada com barbante ou ligas


É impossível passar por Goiás sem se deparar com o cheiro marcante de milho cozido e queijo derretido vindo de uma pamonharia. A pamonha, mais do que um prato típico, é quase uma instituição cultural no estado.
Nas ruas de Goiânia ou nas cidades do interior, ela aparece tanto no café da manhã quanto na janta, seja em formato doce, salgado ou até mesmo frita no dia seguinte. Mas de onde vem esse prato que conquistou o coração — e o paladar — dos goianos?
Descubra a história por trás de uma das comidas preferidas dos goianos
A palavra “pamonha” tem origem no tupi “pa’muna”, que significa “pegajoso” ou “grudento”. Inicialmente, ela não tinha nada a ver com as trouxinhas embrulhadas na palha que conhecemos hoje.
Era servida em forma de mingau, feito com milho verde amassado, leite de coco, manteiga e erva-doce. Essa mistura simples e nutritiva era comum entre os povos indígenas e, mais tarde, ganhou outras versões com a chegada dos colonizadores.
O prato também carrega uma história que atravessa o período colonial.
Segundo o clássico da literatura sociológica Casa-Grande & Senzala, de Gilberto Freyre, há relatos de que mulheres negras escravizadas produziam pamonha nas ruas das cidades brasileiras. Ela era vendida como forma de sustento e também como forma de manter vivas receitas que misturavam influências africanas, indígenas e portuguesas.
Com o passar do tempo, o preparo da pamonha foi se transformando e se espalhando pelo país, ganhando novas formas, temperos e até cerimônias em torno do seu preparo.
Em Goiás, esse rito se tornou conhecido como “pamonhada”. A tradição consiste em reunir familiares e vizinhos para, juntos, descascarem espigas, ralar o milho, preparar os temperos e cozinhar o alimento em grandes tachos. O mutirão é movido a conversas animadas, receitas passadas de geração em geração e muita água quente fervendo.
E não pense que existe uma única receita. A criatividade do goiano levou à criação de versões doces e salgadas.
A tradicional leva apenas sal, queijo e óleo quente, mas é comum encontrar pamonha com guariroba, frango, linguiça e até jiló. Já as doces podem ter açúcar, leite condensado e, claro, queijo, que parece ser indispensável em qualquer variação.
O ingrediente principal é sempre o mesmo: a massa do milho ralado, envolta em palha de milho verde e amarrada com barbante ou ligas antes de ser levada ao cozimento.
Um dos diferenciais da pamonha goiana está justamente na generosidade e no sabor forte. Ela pode ser consumida quente, fria ou gelada, acompanhada de café ou como guarnição de uma refeição completa. Depois de amanhecida, muitos a assam ou fritam, resgatando a crocância e reinventando sabores.
Fora de Goiás, a pamonha também tem vez, mas com variações que respeitam os ingredientes locais. Em Minas Gerais e São Paulo, por exemplo, a versão doce é a mais popular. Já no Nordeste, o leite de coco ainda é presença constante, mantendo viva a tradição indígena do preparo original.
Assim, a pamonha segue firme como um dos símbolos gastronômicos de Goiás. Seja no tacho borbulhante da pamonhada, na vitrine da pamonharia ou na memória afetiva de quem cresceu com o cheiro do milho cozido em casa, ela continua sendo, com justiça, uma das comidas preferidas dos goianos.
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