Bolívia vira refúgio para narcotraficantes e PCC tenta dominar território

Segundo investigadores da Polícia Federal, grupos brasileiros atuam na Bolívia há anos, mantendo negócios com narcotraficantes do país andino para compra de cocaína

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Bolívia vira refúgio para narcotraficantes e PCC tenta dominar território
Bandeira da Bolívia hasteada. (Foto: Reprodução/Pexels)

RAQUEL LOPES – BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Autoridades brasileiras apontam que a Bolívia se tornou um refúgio para narcotraficantes da América do Sul. A situação fez o PCC (Primeiro Comando da Capital) atuar para ampliar seus negócios e consolidar sua presença no país vizinho.

A facção criminosa brasileira já tinha integrantes e aliados na Bolívia, mas agora a ação foi ampliada com objetivo de exercer domínio territorial na região.

Segundo investigadores da Polícia Federal, grupos brasileiros atuam na Bolívia há anos, mantendo negócios com narcotraficantes do país andino para compra de cocaína.

Mais recentemente, ainda de acordo com investigadores, a facção paulista passou a mirar corredores estratégicos na Bolívia, especialmente nos departamentos (equivalente a estados) de Santa Cruz —onde está Santa Cruz de la Sierra, maior cidade e centro econômico do país— e Beni. Os dois fazem fronteira com o Brasil.

A Bolívia é considerada estratégica por ser o principal hub de entrada da pasta-base de cocaína produzida no Peru. O produto entra no país em sua forma original e é convertido em cloridrato de cocaína nos laboratórios bolivianos.

A atuação das facções criminosas brasileiras foi tema de reunião de autoridades do Mercosul, em novembro. No encontro, realizado no Ministério da Justiça, em Brasília, foi criada a Comissão da Estratégia do Mercosul contra o Crime Organizado Transnacional.

Recentemente, o traficante uruguaio foragido Sebastián Marset apareceu em um vídeo ao lado de pessoas que supostamente seriam integrantes do PCC num confronto com a polícia boliviana.

A Bolívia já era conhecida como refúgio de grandes narcotraficantes, incluindo associados ao PCC. A presença de criminosos brasileiros no país se explica pela facilidade de articulação com operadores dos laboratórios de produção de cocaína.

Além disso, dizem investigadores, Santa Cruz de la Sierra oferece boa qualidade de vida a foragidos, com custo relativamente baixo, infraestrutura ampla e proximidade com o Brasil.

Recentemente, o traficante Marcos Roberto de Almeida, o Tuta, foi preso por agentes da Força Especial de Luta Contra o Crime Organizado na Bolívia, numa ação com ajuda da Polícia Federal.

Ele foi detido em Santa Cruz de la Sierra por uso de documento falso, ao tentar renovar seu registro de estrangeiro. Foragido há cinco anos, Tuta chegou a ser apontado como o número 1 da facção fora dos presídios.

Neste ano, também foi preso na cidade Juliano Biron da Silva, uma das principais lideranças da facção Os Manos, do Rio Grande do Sul, que mantém vínculos com o PCC.

Segundo investigadores da Polícia Federal, os narcotraficantes brasileiros que se encontram na Bolívia em regra são mais capitalizados.
Há evidências apontando que narcotraficantes que possuem ligação com o PCC, como Gilberto Aparecido dos Santos (Fuminho) e André Oliveira Macedo (André do Rap, que segue foragido), também já se esconderam no país.

Entre os locais identificados pela polícia como áreas de permanência desses criminosos estão Urubó, região de alto padrão na área metropolitana de Santa Cruz de la Sierra.

A reportagem procurou a Polícia Boliviana e a embaixada do país no Brasil para comentar, mas não houve retorno até a publicação deste texto.

Como a Folha de S.Paulo mostrou, o PCC e o Comando Vermelho têm histórico de negócios em outros países. A rede de cooperação com diversos grupos criminosos está diretamente relacionada ao fato de que as facções controlam rotas estratégicas dentro do território brasileiro, incluindo áreas na fronteira e nos portos.

As facções atuam com serviços de logística para grupos internacionais, com o objetivo de facilitar o escoamento de drogas para outros continentes, como Europa e África.

Em setembro, a Polícia Federal deflagrou a Operação Vila do Conde para combater o tráfico internacional de drogas e a lavagem de dinheiro. A investigação apontou que Fernando Cavalcanti Ribeiro, conhecido como Pato Donald, era o líder da organização criminosa.

Segundo as investigações, ele controlava a produção de cocaína na Bolívia e negociava diretamente com compradores europeus.

Uma das rotas identificadas pelos investigadores mostrava que a droga era produzida na Bolívia, enviada para Sorocaba (SP) e, em seguida, transportada por avião até Belém (PA), de onde seguia para a Europa.

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