Sinal raro na borda da Via Láctea é descoberto por pesquisadores

Pulso de rádio que se repete a cada 174 minutos pode ajudar a explicar um dos maiores enigmas da radioastronomia

Isabella Valverde Isabella Valverde -
Sinal raro na borda da Via Láctea é descoberto por pesquisadores
(Foto: Ilustração/Pexels/Philippe Donn)

A cada poucas horas, o silêncio do espaço é interrompido por um breve sussurro cósmico. Não vem do centro turbulento da Via Láctea, nem de regiões já conhecidas pela atividade intensa, mas de uma área quase esquecida da galáxia. Esse pulso misterioso, que alcança a Terra com precisão quase matemática, acaba de se tornar uma das descobertas mais curiosas da radioastronomia recente.

O fenômeno foi identificado como GLEAM-X J0704-37, um sinal de rádio que se repete rigorosamente a cada 174 minutos e permanece ativo por até um minuto. A regularidade incomum chamou a atenção de astrônomos, já que nenhum outro evento semelhante havia apresentado intervalos tão longos e estáveis entre emissões.

A descoberta foi liderada pela professora associada Natasha Hurley-Walker, em um estudo publicado na revista The Astrophysical Journal Letters, fruto de uma colaboração internacional vinculada ao Centro Internacional de Pesquisa em Radioastronomia (ICRAR).

O que torna o sinal ainda mais intrigante é sua origem. Diferentemente de outros transientes de rádio de longo período já observados — quase sempre vindos da direção do centro da Via Láctea, uma região extremamente congestionada —, o GLEAM-X J0704-37 parece nascer na borda da galáxia, em uma área bem menos povoada de estrelas.

Essa localização permitiu aos pesquisadores identificar um provável sistema responsável pela emissão. Observações realizadas com o radiotelescópio MeerKAT, na África do Sul, e com o Telescópio de Pesquisa Astrofísica do Sul, no Chile, apontaram para um sistema binário situado a cerca de 5 mil anos-luz da Terra, na constelação de Puppis.

O par é formado por uma estrela anã vermelha do tipo M, comum na Via Láctea, e uma anã branca, o remanescente compacto de uma estrela semelhante ao Sol. Isoladamente, nenhuma das duas deveria produzir um sinal de rádio tão intenso e regular. Juntas, porém, elas contam uma história diferente.

Segundo os pesquisadores, a interação entre os campos magnéticos dessas duas estrelas cria as condições ideais para a emissão periódica das ondas de rádio. É como um delicado balé cósmico, em que forças invisíveis se alinham e se repetem com precisão, liberando energia em intervalos previsíveis.

A identificação desse sistema pode representar um avanço decisivo na compreensão dos chamados transientes de rádio de longo período, um enigma que desafia a astronomia há décadas. Pela primeira vez, cientistas têm um cenário observável e plausível para explicar a origem desse tipo de sinal.

Por trás da descoberta, há também um nome que chama atenção: Csanád Horváth, estudante universitário, foi responsável por desenvolver os algoritmos que permitiram vasculhar anos de dados do Murchison Widefield Array (MWA), na Austrália. Foi nesse gigantesco arquivo que os primeiros indícios do sinal foram encontrados.

Desde que entrou em operação, o MWA acumulou mais de 55 mil terabytes de dados, formando uma das maiores coleções científicas do mundo. Para os astrônomos, esse acervo ainda esconde inúmeros fenômenos à espera de serem revelados.

Com novas análises e observações direcionadas, os pesquisadores esperam confirmar definitivamente a origem do GLEAM-X J0704-37 e, quem sabe, encontrar outros sinais semelhantes espalhados pela galáxia — provando que o espaço profundo ainda guarda muito mais mistérios do que imaginamos.

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Isabella Valverde

Isabella Valverde

Jornalista formada pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás, com passagens por veículos como a TV Anhanguera, afiliada da TV Globo no estado. É editora do Portal 6 e especialista em SEO e mídias sociais, atuando na integração entre jornalismo de qualidade e estratégias digitais para ampliar o alcance e o engajamento das notícias.

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