Putin diz que atacou Ucrânia por não ter escolha e que negociações de paz são beco sem saída

Ele ainda afirmou que a principal meta da intervenção de Moscou é salvar pessoas na região do Donbass

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Putin diz que atacou Ucrânia por não ter escolha e que negociações de paz são beco sem saída
(Foto: Reprodução)

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O presidente Vladimir Putin disse nesta terça-feira (12) que não teve escolha a não ser atacar a Ucrânia para proteger a Rússia e que as negociações de paz chegaram a uma espécie de beco sem saída devido às acusações de Kiev de que Moscou estaria cometendo crimes de guerra.

“Voltamos novamente a uma situação sem saída para nós”, disse Putin a funcionários da agência espacial russa no Cosmódromo Vostotchni, a mais de 5.000 km de Moscou. Segundo ele, a “operação militar” -eufemismo do Kremlin para a Guerra da Ucrânia- vai alcançar o que chamou de “objetivos nobres”.

“Por um lado, estamos ajudando e salvando pessoas e, por outro, estamos simplesmente tomando medidas para garantir a segurança da própria Rússia”, disse o político. “Está claro que não tivemos escolha. Foi a decisão certa.”

Putin disse ainda que a principal meta da intervenção de Moscou é salvar pessoas na região do Donbass, no leste da Ucrânia. O território abrange Lugansk e Donetsk, onde separatistas apoiados por Moscou combatem forças ucranianas desde 2014. Dias antes do início da guerra, a Rússia reconheceu as duas regiões como repúblicas independentes.

“Seus objetivos são absolutamente claros e nobres”, disse Putin sobre a campanha militar que chega a seu 48º dia, com um saldo de milhares de mortos, ao menos 4,6 milhões de refugiados, cidades inteiras praticamente destruídas e um cenário de tensão que configura a mais grave crise de segurança na Europa desde a Segunda Guerra Mundial.

Menos midiático que o seu homólogo ucraniano, Volodimir Zelenski, Putin também deu a entender que não tem pressa para encerrar o conflito. “Muitas vezes ouço perguntas sobre se é possível ser mais rápido. É possível. Depende da intensidade das hostilidades, e a intensidade das hostilidades, infelizmente, tem a ver com baixas de uma forma ou de outra.”

Segundo o russo, um dos objetivos de Moscou é alcançar as metas previamente planejadas minimizando essas baixas. “E vamos agir ritmicamente, com calma, de acordo com o plano que foi originalmente proposto pelo Estado-Maior”, completou.

Putin minimizou ainda as sanções impostas pelo Ocidente e disse que as tentativas de isolar a Rússia estão fadadas ao fracasso. Para tal, citou o sucesso do programa espacial soviético, aproveitando a ocasião da visita ao Cosmódromo Vostotchni.

“As sanções foram totais, o isolamento foi completo, mas a União Soviética ainda era a primeira no espaço”, disse ele em referência ao feito de Iuri Gagarin, cuja viagem ao espaço completou 61 anos nesta terça.

“Não pretendemos ficar isolados”, afirmou Putin. “É impossível isolar severamente qualquer pessoa no mundo moderno -especialmente um país tão vasto como a Rússia.”

Quanto às acusações de que suas forças seriam as responsáveis pelo cenário em Butcha, onde centenas de corpos de civis foram encontrados nas ruas e em valas comuns, Putin as rejeitou e acusou o Ocidente de manipulação. Para isso, disse que os Estados Unidos fizeram na Síria e no Afeganistão o que Moscou agora é acusada de ter feito nos arredores de Kiev.

“Vocês viram como a cidade síria [de Raqqa] foi transformada em escombros por aviões americanos? Cadáveres ficaram nas ruínas por meses em decomposição”, disse. “Ninguém se importou. Ninguém nem notou.”

Na Ucrânia, civis ainda tentam deixar o leste do país à medida que fica mais clara a mudança de estratégia de Moscou em concentrar forças nas regiões mais próximas de sua fronteira.

De acordo com o último relatório do Ministério da Defesa do Reino Unido, que monitora as movimentações militares da Guerra da Ucrânia, houve novos ataques às regiões de Kharkiv, Kherson, Mikolaiv e Kramatorsk, mas as forças russas seguem se concentrando no Donbass. A pasta britânica afirma ainda que os combates no leste devem se intensificar nas próximas duas ou três semanas.

​O governador de ​Lugansk voltou a pedir aos moradores que deixem a região por meio de corredores humanitários. “É muito mais assustador ficar e queimar enquanto dorme devido a um bombardeio russo”, escreveu Serhii Gaidai em uma rede social.

Em Mariupol, cidade portuária que se tornou símbolo da destruição provocada pela guerra, o governador regional disse que os mortos são contados às dezenas de milhares e que o confronto pode estar chegando a uma fase decisiva. Na segunda-feira (11), o líder dos separatistas pró-Rússia em Donetsk afirmou que o grupo detém controle do porto de Mariupol.

Nesta terça, Kiev anunciou a detenção do deputado Viktor Medvetchuk, considerado o principal político aliado de Vladimir Putin no país -o presidente russo é padrinho de sua filha. Ele era cotado para compor um eventual governo títere, caso a invasão russa tivesse derrubado o governo Zelenski, e estava foragido.

Horas depois do anúncio da prisão, o serviço de segurança estatal de Kiev fez questão de distribuir uma imagem de Medvetchuk algemado, sem detalhar onde ele estava detido.

Apesar de o político e bilionário estar com um uniforme sem marcações, de origem desconhecida, não está claro se ele está sendo considerado um combatente. Sem participar de formações regulares do adversário, ele é um preso comum. No caso, um fugitivo da Justiça, já que deixou a prisão domiciliar que cumpria desde o ano passado sob acusação de traição por seu apoio aos separatistas do Donbass. Sua defesa diz que ele é um preso político e sofre perseguição.

Autoridades ucranianas, incluindo Zelenski, voltaram a levantar suspeitas de que a Rússia estaria usando armas químicas no combate, embora não tenham apresentado evidências das afirmações.

Segundo o presidente, um porta-voz das forças de Moscou teria dito que os russos poderiam adotar esses armamentos em Mariupol. Em seu pronunciamento diário, Zelenski pediu aos líderes mundiais que se lembrem que essa possibilidade já havia sido discutida e que demandava reações “mais duras e mais rápidas” e contra Moscou.

“É hora de fazer um pacote [de sanções] de modo que nem mesmo uma palavra sobre armas de destruição em massa seja mais ouvida do lado russo”, disse.

As alegações de uso de armas químicas não foram confirmadas nem sequer por autoridades ucranianas.

Serviços de inteligência dos EUA e do Reino Unido disseram que estão tentando verificar as acusações.

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