Especialista diz como medo de manifestar voto pode afetar eleições em Goiás
Eleitores do ex-presidente Lula relatam não usarem adereços de campanha publicamente por temerem agressões
Um breve passeio pelas ruas de cidades como Goiânia, Aparecida e Anápolis é o suficiente para notar a presença de adesivos e outras manifestações de apoio ao presidente e candidato à reeleição, Jair Bolsonaro (PL). Em contrapartida, nas redes sociais, os eleitores do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) relatam medo e constrangimento de declararem voto ao petista.
Não se vê um adesivo do Lula em Goiânia, e a pesquisas recentes mostram que aqui na capital a tendência de voto é nele. As eleições estão pautadas no medo, enquanto isso são muitos os carrões e caminhonetes com bandeiras e adesivos do bolsonaro. O fascismo é uma desgraça.
— Douglas Gaspar UP 80 (@Dgrangel) September 10, 2022
Não, eu moro em Goiânia, se eu usar algo do lula tenho medo de apanhar na rua ou levar um tiro https://t.co/S3ujjqPosJ
— Fabrício Freitas (@fabriciofbrmelo) September 11, 2022
A advogada eleitoral Nara Bueno avalia que a liderança de Bolsonaro no estado é justificada e condiz com o perfil do eleitor goiano. “O bolsonarismo faz um eco muito grande e, em um estado conservador como o nosso, é natural que esteja na frente. Nossa herança coronelista ainda repercute”, salienta.
Porém, como ressalta a especialista, a diferença entre os candidatos pode ser menor do que a apontada em pesquisas eleitorais. Isso porque demonstração pública de voto em Lula é afetada pelo discurso anticorrupção, que atinge majoritariamente o PT, e também é prejudicada diante dos recentes casos de violência contra apoiadores do candidato.
“No primeiro caso, os bolsonaristas ainda utilizam com força o discurso da idoneidade moral, mesmo que nem o próprio Bolsonaro o reforce mais, diante de casos de investigação em torno de si. Mas as pessoas também estão com medo. As mortes recentes as deixaram em alerta”, afirma.
Nas urnas, de acordo com a analista, o cenário muda. “O voto é secreto, é entre a urna e o eleitor. Mesmo que ele tenha medo de se manifestar publicamente, é ali que realmente sua posição fará diferença”, avalia.
Voto útil
Nara Bueno destaca que, no caso de uma disputa eleitoral acirrada como a deste ano, a tendência é que boa parte do eleitor vote não no candidato com o qual se identifica, mas naquele que acredita que irá impedir que outro candidato seja eleito. O comportamento, sobretudo às vésperas da votação, é chamado de ‘voto útil’.
“Neste momento, se diferencia o que é uma torcida do que é eleitorado. Nesse tipo de voto, deve ser levado em conta que o eleitor vai abandonar seu candidato preferido, quem ele já até declarou voto, para votar naquele que tem chances de vencer o que é rejeitado por ele”, indica.