O presidente da Romênia, Klaus Iohannis, retirou nesta quinta (20) sua candidatura para o cargo de secretário-geral da Otan. Com isso, não há mais impedimentos para que o premiê holandês, Mark Rutte, se torne o novo chefe da aliança militar ocidental.
A decisão do romeno era esperada depois que a Hungria, que se opunha a Rutte, abandonou seu veto após o holandês prometer cumprir um acordo entre o premiê Viktor Orbán e o atual secretário-geral, o norueguês Jens Stoltenberg.
O acerto garante que os húngaros, simpáticos a Vladimir Putin, não irão se opor a decisões de apoio à Ucrânia contra a invasão russa do país do Leste Europeu. Em troca, Budapeste está desobrigada de participar de qualquer iniciativa nesse sentido.
Iohannis também afirmou que seu país irá doar 1 dos 2 sistemas antiaéreos Patriot de que dispõe para a Ucrânia, sob a condição de que a Otan reponha sua capacidade de defesa.
O armamento, de fabricação americana, é bastante escasso no mundo. Os Estados Unidos, líderes da aliança criada em 1949 para conter a União Soviética na Europa, só têm 14 deles operacionais. A Alemanha já doou ao menos dois deles para os ucranianos, mas um foi destruído. Washington doou um.
Ele é vital para tentar conter a campanha russa de destruição da rede energética ucraniana, retomada em março deste ano de forma particularmente intensa. Nesta quinta, 218 mil pessoas ficaram sem luz após um bombardeio russo. Segundo a Escola de Economia de Kiev, metade do sistema elétrico do país já está comprometido, o que faz antever um inverno ainda mais difícil no fim do ano no Hemisfério Norte.
Rutte, que governou a Holanda de 2010 até perder a eleição parlamentar de novembro do ano passado, ainda é ocupa o cargo de premiê de forma provisória, até a formação do gabinete de partidos de direita e extrema direita vencedores do pleito.
Ele vai substituir em outubro Stoltenberg, que em dez anos na cadeira viu a Otan ser espezinhada e ameaçada existencialmente na gestão americana de Donald Trump (2017-21) e ressurgir como grupo coeso devido à invasão russa da Ucrânia, em fevereiro de 2022.
Os desafios à frente de Rutte, que é um duro crítico do Kremlin, mas também tem longa experiência em negociações diretas com Putin, são vários.
O mais urgente é organizar um reforço militar de Kiev, que está pressionada por vários lados na guerra, sem que isso provoque uma escalada que leve a um confronto direto com a Rússia. Ao mesmo tempo, ele precisa blindar a aliança para a eventualidade de Trump voltar ao poder na eleição de novembro.
O republicano, além de desprezar a Otan, já disse ser contra fomentar Kiev, sugerindo uma acomodação com Putin. A visão majoritária na aliança hoje é a de esticar o máximo possível a ajuda aos ucranianos.
Para tanto, Rutte terá de seguir Stoltenberg na busca da ampliação do gasto militar dos 32 membros da aliança. O norueguês disse que, ao fim do ano, 20 deles terão ultrapassado os 2% do PIB em dispêndio de defesa, meta do grupo. Em 2014, quando Putin anexou a Crimeia, era apenas 3 dos então 28 integrantes.
Há outros tópicos na mesa, em particular o desejo americano de que aliança se envolva mais no embate com a China no Indo-Pacífico, algo que membros como a Alemanha, com grande relação comercial com Pequim, relutam em apoiar.