O debate de alto nível da Assembleia-Geral da ONU, como é chamada a semana em que lideranças globais se reúnem na sede da entidade em Nova York, é considerado um dos mais importantes palcos da política global. Nos últimos anos, porém, sua relevância tem diminuído – o que pode ser creditado à dificuldade da ONU de solucionar as crises globais contemporâneas.
Essa irrelevância ficou evidente na cobertura dos principais jornais do mundo da abertura do evento, nesta terça-feira (24). Por tradição, o Brasil é o primeiro país a discursar, logo após o secretário-geral da entidade. Mas o discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) só tinha sido objeto de cobertura de 8 de um total de 24 veículos internacionais no intervalo de três horas após o pronunciamento.
Destes, 6 eram da América Latina: os argentinos Clarín e La Nacion, o mexicano El Universal, o chil eno El Mercurio, o colombiano El Espectador e o boliviano La Razón.
A fala do Brasil na Assembleia-Geral no ano passado era particularmente esperada devido à reeleição de Lula. Havia uma expectativa de que, depois do isolamento da diplomacia brasileira durante a gestão de Jair Bolsonaro (PL), o país voltaria a ocupar um papel de protagonismo no xadrez internacional. O discurso do petista nesta terça, mais de um ano e meio depois do início de seu terceiro mandato, não era, portanto, tão aguardado.
A maioria dos veículos optou por destacar a declaração de Lula de que a ausência de países da região no Conselho de Segurança, órgão mais poderoso da ONU, era inaceitável -reformas na governança da entidade multilateral são uma das principais bandeiras da política externa do governo petista.
Além desses periódicos, outros consultados que mencionaram o discurso foram o israelense Haaretz e a rede qatari Al Jazeera.
A falta de menção ao discurso de Lula nos principais jornais dos Estados Unidos era particularmente notável. No The New York Times, que publicava notas ao vivo sobre a Assembleia-Geral, o pronunciamento do brasileiro não foi nem sequer citado, e uma observação sobre o discurso do secretário-geral, António Guterres, foi imediatamente sucedida por comentários sobre a fala do presidente americano, Joe Biden, no plenário.
O Washington Post chegou a mencionar as declarações do brasileiro em uma reportagem, mas apenas para introduzir as críticas que seu governo vem recebendo em relação à maneira como tem combatido as queimadas que se espalham no país.
O único texto que o francês Le Monde tinha publicado sobre o evento antes do discurso de Biden era, por exemplo, um editorial intitulado “O Trágico Fracasso do Multilateralismo”.
Nele, o veículo defende a urgência de uma reforma do Conselho de Segurança da ONU e afirma que a sua formação atual, que dá a China, Estados Unidos, França, Reino Unido e Rússia poder de veto, “tornou-se uma caricatura do estado do mundo” hoje.
JORNAIS CONSULTADOS
1. Al Jazeera – Qatar
2. Bild – Alemanha
3. Clarín – Argentina
4. El Deber – Bolívia
5. El Espectador – Colômbia
6. El Mercurio – Chile
7. El País – Espanha
8. El Tiempo – Colômbia
9. El Universal – México
10. Financial Times – Reino Unido
11. La Nacion – Argentina
12. Haaretz – Israel
13. La Tercera – Chile
14. Le Figaro – França
15. Le Monde – França
16. Libération – França
17. The New York Times – Estados Unidos
18. South China Morning Post – Hong Kong
19. Der Spiegel – Alemanha
20. The Telegraph – Reino Unido
21. The Guardian – Reino Unido
22. The Wall Street Journal – Reino Unido
23. The Washington Post – Estados Unidos
24. Times of Israel – Israel