Nome na lista e local sigiloso: os bastidores da misteriosa festa clandestina com influencers em Anápolis
Com mais de 100 participantes, evento ocorreu em meio à pandemia e vem sendo assunto nas redes sociais
A virada de sábado (20) pra domingo (21) ficará marcada para sempre na memória de alguns jovens de Anápolis que, em meio à pandemia da Covid-19, decidiram se arriscar e embarcar em uma misteriosa festa clandestina cujo o local só foi revelado minutos antes dela acontecer.
Não houve divulgação nem cobrança de ingresso e os requisitos para participar eram ser convidado por um convidado e manter o sigilo e a discrição. Para evitar vazamentos de informações, grupos de WhatsApp com os participantes sequer foram montados.
“Igual telefone sem fio. O amigo convidado falava pro amigo que ele convidou que, por sua vez, falava pro outro amigo convidado e assim por diante”, detalhou uma estudante universitária que topou conversar com o Portal 6 nesta segunda-feira (22).
Sob a condição de anonimato, ela e um administrador de empresas revelaram à reportagem que o que um amigo falou para o outro era que cada um deveria levar a bebida que iria consumir e aguardar de carro na altura de um posto de gasolina instalado na Avenida Universitária.
“De lá, todo mundo partiu em direção ao local da festa, que começou por volta das 22h30 numa chácara no trajeto em direção a Pirenópolis, mas dentro de Anápolis ainda”, explicou a jovem, que desconhece que celulares foram confiscados na entrada.
Nas redes sociais, circulou a versão de que os aparelhos haviam sido recolhidos para que não houvesse o registro de fotos e stories no Instagram. “O meu pelo menos não foi, mas vai saber. Tinha (sic) mais de 100 pessoas que só se misturaram entre os próprios círculos”, disse o administrador.
Entre os participantes estavam desde estudantes universitários, e empreendedores até os autodenominados digitais influencers da cidade. “Não posso falar em nomes porque não reconheci nenhum, mas pelos acontecimentos recentes de fotos publicadas nas redes sociais as pessoas devem saber quem eram”, sublinhou a jovem.
Na festa, conta o profissional, só tocou house music. “Haviam Djs, luzes e tava tudo muito respeitoso com cada um no seu canto fugindo dessa realidade de coronavírus, gente doente e morrendo. A gente só pensava – e queria – ser feliz”, frisou.
Um dos momentos de frio na barriga, recorda a estudante, foi quando acharam que a polícia havia invadido a festa. “Nessa hora tudo foi desligado e algumas pessoas até correram para o mato, mas depois vimos que era só mais pessoas chegando”, contou aos risos.
A festa terminou oficialmente na manhã de domingo (21). Para a estudante universitária, não houve em nenhum momento a intenção de desmerecer o avanço da Covid-19. Já o administrador aponta que um mal maior que a doença em Anápolis é a hipocrisia das pessoas.
“Está tudo aberto, restaurantes e bares lotados com show ao vivo, igrejas barulhentas funcionando e ônibus cheios. Admiro quem pode e está em casa, mas é minoria. Todo mundo já furou a quarentena direto ou indiretamente. Então, vamos julgar menos as pessoas”, concluiu.
Um professor universitário, que soube que o Portal 6 estava entrevistando alguns participantes, entrou em contato com a reportagem para explicar os motivos de ter desistido de ir à misteriosa festa clandestina.
“Fui convidado por um amigo que disse que a festa seria dentro da cidade, mas que a polícia acabou aparecendo lá e aí decidiram fazer na zona rural. Sabia que teria muita gente e que teria o celular retido na entrada. Muito perto de ir para o local, acabei desistindo e inventei uma desculpa qualquer”, expôs.
“Sinceramente, pensei na minha mãe. Eu sou uma pessoa saudável, mas ela tem comorbidades e isso pesou na minha consciência. Agora, sabendo da polêmica gerada depois, respirei aliviado por não ter ido”, complementou.