B3 e S&P removem Carrefour de índice que mede responsabilidade social e ambiental

Decisão foi tomada após uma análise da repercussão do assassinato de João Alberto Silveira Freitas

Folhapress Folhapress -
B3 e S&P removem Carrefour de índice que mede responsabilidade social e ambiental

Júlia Moura, de SP – O Carrefour Brasil foi removido de um índice que reúne empresas com melhores práticas sociais, ambientais e de governança. Batizado de S&P/B3 Brasil ESG, ele é mantido pela empresa S&P Dow Jones Indices, nos Estados Unidos, e pela B3, a Bolsa brasileira.

Segundo as duas empresas, a decisão, divulgada nesta terça-feira (8), foi tomada após uma análise da repercussão do assassinato de João Alberto Silveira Freitas, homem negro de 40 anos conhecido como Beto Freitas, por dois seguranças de uma unidade do Carrefour em Porto Alegre (RS), em 19 de novembro.

Desde o ocorrido, as ações do Carrefour se desvalorizam 5% na Bolsa brasileira, uma perda de R$ 2 bilhões em valor de mercado. O grupo no Brasil tem uma capitalização de R$ 38,2 bilhões.

Segundo o comunicado, a remoção do Carrefour do índice passa a valer no pregão da próxima segunda (14).

Os investidores demoraram para reagir ao caso. No dia seguinte ao crime, as ações do Carrefour no Brasil chegaram a fechar em alta.

A indiferença no pregão surpreendeu negativamente especialistas que se dedicam a temas sociais e ambientais no mundo dos negócios, e que vinham implantando no Brasil o ESG, conjunto de melhores práticas empresariais em questões ambientais, sociais e de governança, que é medido por meio de notas ou outros tipos de indicadores.

“Levei dois socos na cara hoje, o primeiro pelo próprio fato de terem espancado um negro até a morte e o segundo pela falta de reação do mercado com relação ao fato”, disse na ocasião, em entrevista à Folha de S. Paulo, Fabio Alperowitch, diretor da Fama Investimentos, especializada em gestão de fundos ESG, ao avaliar o caso do Carrefour.

“Desse jeito, o ESG acabou por aqui antes mesmo de começar”.

Nos dias que se seguiram as críticas foram ficando mais contundentes. De acordo com analistas, o assassinato de Beto Freitas passou a ser um teste para a credibilidade do ESG. O Carrefour Brasil ainda mantinha destaque nesses indicadores, apesar de ter sido cenário de outros episódios de violência e discriminação nos últimos anos. O caso na unidade de Porto Alegre seria um teste de fogo.

Na sexta (20), após o ocorrido, os responsáveis pelo índices declararam que estavam “tristes com as imagens horríveis”. A S&P Dow Jones Indices, sua controladora S&P Global e B3 disseram em nota que “não toleram racismo ou discriminação de qualquer tipo e levamos esses eventos e a resposta do Carrefour a eles muito a sério.”

O caso também passou a ser debatido em eventos. “Obviamente o Carrefour tem uma parcela de culpa, porque o evento ocorreu dentro da loja da empresa e não é o primeiro evento, já houve outros eventos ruins, sobretudo para o Carrefour, que dá importância para o ESG. A matriz da França leva isso com muita seriedade”, disse Márcio Correia, sócio da JGP durante debate promovido pelo InfoMoney, portal de notícias do grupo XP, em 24 de novembro, que discutiu o tema.

Em 2009, um vigia e técnico em eletrônica, também um cliente negro, foi agredido por seguranças de uma unidade em Osasco, São Paulo, acusado de tentar roubar o próprio carro no estacionamento da loja.

Em dezembro de 2018, também em Osasco, um cão foi envenenado e espancado por um segurança da rede, causando enorme comoção na comunidade.

No caso mais recente, um promotor de vendas terceirizado da rede morreu enquanto trabalhava em uma unidade do grupo, em Recife, em agosto deste ano. O corpo foi coberto com guarda-sóis e cercado por caixas enquanto a loja seguiu em funcionamento. O IML (Instituto Médico Legal) só fez a remoção após quatro horas.

Beto Freitas morreu após ser espancado por dois seguranças terceirizados do Carrefour. O IGP-RS (Instituto Geral de Perícias do Rio Grande do Sul) apontou, em análise inicial, que a vítima morreu por asfixia.

No índice S&P/B3 Brasil ESG, a nota da varejista era 2, de uma máximo de 100, com um peso no índice de 0,099%.
As empresas de maior peso no S&P/B3 Brasil ESG são Banco do Brasil, Lojas Renner, Itaúsa, Itaú, Natura, Bradesco, Cemig, WEG, Braskem e Telefônica Brasil (Vivo).

Segundo a sua descrição, o índice “exclui ações com base na sua participação em certas atividades comerciais, no seu desempenho em comparação com o Pacto Global da ONU (UNGC em inglês) e também empresas sem pontuação ESG da S&P DJI”.

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