A lição que primeiro ministro de Israel deu ao Brasil sobre vacinação

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A lição que primeiro ministro de Israel deu ao Brasil sobre vacinação
(Foto: Reprodução)

O primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, afirmou a uma comitiva brasileira que o sucesso da vacinação no país ocorreu por uma aposta antecipada na farmacêutica Pfizer.

Netanyahu recebeu, na segunda-feira (8) em Jerusalém, o chanceler Ernesto Araújo e o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP). Ambos fizeram parte de uma missão do governo Bolsonaro a Israel para conversar com instituições do país sobre o desenvolvimento de remédios contra a Covid-19.

De acordo com relatos feitos à reportagem, no breve encontro o premiê israelense detalhou a estratégia do país para realizar o mais adiantado programa de vacinação no mundo. Mais de 57% da população israelense já recebeu ao menos uma dose do imunizante, o que se reflete na redução no número de internações e mortes.

Além de um território pequeno com 9 milhões de habitantes, Netanyahu disse aos brasileiros que a chave do sucesso de Israel foi a aposta na Pfizer muito antes do que os demais países.

O premiê afirmou ainda que a decisão de assegurar doses da farmacêutica americana foi tomada após avaliação de comitês científicos do país, que consideraram a vacina promissora mesmo nos estágios iniciais de pesquisa.

A garantia de doses em alta disponibilidade ocorreu mediante pagamentos antecipados à empresa, contou Netanyahu aos brasileiros.

A estratégia relatada pelo premiê israelense contrasta com a adotada pelo governo Jair Bolsonaro, que recusou ofertas da Pfizer feitas ainda em 2020.

Como o jornal Folha de S.Paulo revelou, o governo Bolsonaro rejeitou no ano passado proposta da Pfizer que previa 70 milhões de doses de vacinas até dezembro deste ano.

Do total, 3 milhões estavam previstos até fevereiro, o equivalente a cerca de 20% das doses já distribuídas no país até agora.

Embora tenha feito reuniões anteriores com representantes do governo, a farmacêutica fez a primeira oferta em 14 de agosto de 2020. A proposta previa 500 mil doses ainda em dezembro de 2020, totalizando 70 milhões até dezembro deste ano.

A Pfizer aumentou a oferta inicial quatro dias depois, elevando para 1,5 milhão o número de doses ainda em 2020, com possibilidade de mais 1,5 milhão até fevereiro de 2021 e o restante nos meses seguintes.

Sem aprovação do governo, uma nova proposta foi apresentada em 11 de novembro. Com o passar do tempo, governos de outros países foram tomando o lugar do Brasil, e as primeiras doses ficariam para janeiro e fevereiro -2 milhões de unidades. Dessa vez, o contrato ficou em vias de ser assinado, segundo pessoas envolvidas nas negociações

Um acordo inicial com a Pfizer foi finalmente confirmado em 3 de março deste ano, prevendo a entrega de 100 milhões de doses até o final do ano. Mas o contrato ainda não foi assinado.

Após uma reunião com o comando da empresa na segunda, o governo Bolsonaro anunciou a antecipação de 5 milhões de doses para o primeiro semestre. Com isso, seriam 14 milhões a quantidade de vacinas da Pfizer disponibilizadas ainda nos primeiros seis meses do ano.

O Planalto também disse que vai adquirir imunizantes da Janssen.

No Brasil, as negociações com a Pfizer se arrastaram por meses. Um dos obstáculos apontados pelo governo era a exigência de cláusulas que, entre outros pontos, isentavam a empresa de responsabilização por possíveis efeitos colaterais advindos das aplicações.

Na quarta (10), foi sancionado um projeto que autoriza o governo a assumir riscos que poderiam resultar em crimes de responsabilidade civil decorrentes de possíveis eventos adversos -considerado pelo Planalto passo necessário para a assinatura do contrato.

A estratégia de vacinação do governo federal esteve baseada no acordo da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) com a AstraZeneca, para produção no Brasil da vacina de Oxford.

Mas os primeiros lotes que seriam importados enfrentaram atrasos e a fundação tem lidado com problemas para o recebimento de insumos.

O governo federal também tem contrato com o Instituto Butantan, que fabrica no Brasil o imunizante Coronavac.

O presidente Jair Bolsonaro chegou a determinar que a vacina, trunfo político do governador de São Paulo, João Doria (PSDB), não fosse comprada. Mas a pressão de governadores fez com que o negócio fosse celebrado, e hoje a Coronavac é a principal vacina em uso no Brasil.

Ao comentar a visita a Netanyahu nas redes sociais, Eduardo Bolsonaro disse que os temas tratados foram “remédios e vacinas contra a Covid, bem como a possibilidade de cooperação para esta produção em conjunto”.

Ernesto Araújo, por sua vez, afirmou no Twitter que o israelense garantiu “todo apoio à cooperação” contra a Covid.

O escritório do primeiro-ministro disse nas redes sociais que os participantes discutiram na reunião a “batalha global contra o coronavírus” e as oportunidades de cooperação entre os países na área.

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