A decisão que pode afetar quem tem conta no Banco Bradesco
Movimento vem em linha com um plano de reestruturação de despesas do banco iniciado no ano passado
Isabela Bolzani, de SP – O Bradesco projeta encerrar o ano com uma redução de até 400 agências em comparação com 2020, afirmou o presidente da instituição, Octavio de Lazari, nesta quarta-feira (5).
Caso o corte se concretize, o banco terá fechado quase 1.500 agências desde o primeiro trimestre do ano passado, quando a pandemia do coronavírus começou a se intensificar no Brasil.
Segundo o relatório do banco divulgado na véspera, o Bradesco encerrou o primeiro trimestre deste ano com 3.312 agências. O número corresponde a uma redução de 83 pontos físicos em relação ao trimestre anterior e uma queda de 1.088 em comparação ao observado nos três primeiros meses do ano passado.
A redução responde tanto por um fechamento quanto pela conversão de agências em unidades de negócios -que normalmente têm custos de 30% a 40% menor.
“Somos um banco de praticamente 80 anos e temos agências de 1.000 ou 2.000 metros quadrados. E diante do cenário [de maior digitalização] os espaços necessários para atender os clientes confortavelmente podem ser bem menores”, afirmou Lazari em teleconferência com jornalistas.
O movimento vem em linha com um plano de reestruturação de despesas do banco iniciado no ano passado, e acompanha o processo de maior digitalização e competitividade do sistema financeiro.
A redução de agências também pode ter influência no quadro de funcionários. O banco encerrou o primeiro trimestre deste ano com 88.687 funcionários -número quase 9% menor do que o registrado em igual período de 2020 e que responde pela demissão de mais de 8,5 mil pessoas.
“Em relação ao time, fizemos o que precisava ser feito. Temos áreas agora que estão contratando muita gente, principalmente em TI [tecnologia da informação] e analytics [área que usa dados e análises para ajudar na tomada de decisão e no relacionamento com o cliente]. Podemos ainda ter alguns ajustes, mas não vemos nenhuma mudança significativa para este ano. O foco é sempre adequar o custo de serviço aos resultados do banco”, disse Lazari.
As despesas operacionais totais do banco ficaram em R$ 11,2 bilhões no primeiro trimestre, uma redução de 4,7% em comparação a igual período de 2020 e de 2,4% em relação aos três meses imediatamente anteriores.
O Bradesco divulgou os resultados do primeiro trimestre na terça-feira (4), depois do fechamento do mercado. O lucro do banco registrou alta de 73,6% na comparação anual, para R$ 6,5 bilhões.
O avanço foi resultado de uma redução nas reservas contra calotes, na melhora da carteira de crédito e inadimplência controlada diante da prorrogação de parcelas e das renegociações feitas pelo banco no ano passado para tentar conter os impactos da crise do coronavírus.
Apesar do resultado positivo, no entanto, o presidente do banco não descarta a possibilidade de um aumento da inadimplência ao longo de 2021.
O índice de inadimplência acima de 90 dias ficou em 2,5% no período, uma redução de 1,2 p.p. (ponto percentual) em relação a igual trimestre de 2020 e um aumento de 0,3 p.p. em comparação aos três meses imediatamente anteriores.
Já os atrasos entre 15 a 90 dias ficaram em 3,2% -uma redução de 1 p.p. em comparação ao primeiro trimestre de 2020 e um aumento de 0,4 p.p. em relação aos três meses anteriores.
“Todos os nossos modelos para calcular perda esperada foram redimensionados e agravados por conta do cenário de pandemia que estamos vivendo, e fizemos as provisões que entendemos necessárias ao longo de 2020 para suportar o momento de maior inadimplência que prevíamos”, afirmou Lazari.
Com novo vencimento das dívidas chegando e uma redução do auxílio emergencial este ano, no entanto, o executivo não descarta novos aumentos de inadimplência.
“Mas entendemos que estamos muito bem provisionados e preparados para a inadimplência que poderá vir. Ela deve crescer um pouco ainda, mas deve voltar aos patamares que observamos em 2019, de cerca de 4,2%, ou até níveis mais baixos a depender da retomada da economia”, disse.
O executivo também falou sobre a nova parceria com o WhatsApp para que seus clientes possam fazer pagamentos por meio do aplicativo de mensagens. Segundo Lazari, apesar de a tendência ser de que o novo modelo morda um pedaço das receitas do banco com tarifas e prestação de serviços, o movimento é positivo.
“Como o WhatsApp é bastante difundido, é natural que haja um volume maior de transações. Mas isso faz parte da concorrência e já estava nos nossos radares. Cabe a nós buscarmos outras fontes de receita para fazer frente a essa redução, e a tendência é que tentemos ganhar escala para substituir naturalmente essa perda de receita”, afirmou Lazari.
Sobre o cenário macroeconômico, Lazari afirmou que toda a retomada econômica depende do plano de vacinação do país.
O Brasil ainda está atrasado na imunização das pessoas em relação a outros países. Sem vacinas suficientes para toda a população, o governo brasileiro iniciou uma operação internacional para tentar acessar excedentes de imunizantes em outros lugares do mundo.
“O ponto central para que o cenário melhore ou piore é a vacinação. Na medida em que a vacinação acontecer e as pessoas estiverem protegidas, as coisas vão começar a voltar ao normal”, disse Lazari.
“Assim, outros pontos importantes também devem vir, como as reformas tributária e administrativa, o Banco Central definindo taxas de juros e outros ingredientes que fazem com que a economia melhore. Os sinais são positivos, mas tudo ainda depende da vacinação.”
Ao final do pregão desta quarta-feira (5) as ações do Bradesco estavam entre as mais negociadas do Ibovespa, principal índice acionários do país. Os papéis, que conseguiram reverter a queda que registraram no início das negociações, encerraram com alta de 0,17%, a R$ 23,84.
Em relatório, a XP afirmou que o investidor deve ficar de olho na qualidade dos ativos do banco ao longo dos próximos meses, dada a previsão de aumento nos índices de inadimplência.
RAIO-X DO BRADESCO NO 1º TRIMESTRE
Lucro líquido
R$ 6,5 bilhões
Carteira de crédito total
R$ 705,2 bilhões
Margem financeira
R$ 15,6 bilhões
ROE (Retorno sobre o Patrimônio Líquido)
18,7%
Funcionários
88.687
Agências
3.312
Principais concorrentes
Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, Itaú Unibanco e Santander