Independentes vencem eleição para Constituinte chilena, em grande derrota para governo

Votação, realizada neste fim de semana, definiu os 155 legisladores que terão até um ano para elaborar o documento que substituirá a Carta formulada durante a ditadura de Pinochet

Folhapress Folhapress -
Independentes vencem eleição para Constituinte chilena, em grande derrota para governo
(Foto: Reprodução)

Sylvia Colombo, da Argentina – Ao conquistar 65 das 155 cadeiras em disputa, candidatos independentes foram os grandes vencedores da eleição para a Assembleia Constituinte chilena. Já nomes de partidos de direita, alinhados ao governo de Sebastián Piñera, conquistaram menos de um terço dos assentos -99,9% das urnas foram apuradas.

A votação, realizada neste fim de semana, definiu os 155 legisladores que terão até um ano para elaborar o documento que substituirá a Carta formulada durante a ditadura de Pinochet (1973-1990). Além de uma cota indígena, de 17 assentos, também haverá paridade entre homens e mulheres.

O baixo índice de comparecimento, 42,5%, não refletiu o furor dos protestos de rua que tiveram início em outubro de 2019, demandaram a elaboração de uma nova Constituição e só abrandaram devido à Covid.

Espalhados em listas de votação distintas ou abrigados em legendas de diferentes orientações ideológicas, os independentes conquistaram mais de 42% dos assentos na nova assembleia.

A direita, que adotou a estratégia de formar um único bloco, conseguiu apenas 37 assentos (24%) e deve ter dificuldade para barrar pautas. Segundo o regimento da redação da Carta, cada lei precisa ter dois terços dos votos para ser aprovada. Já a esquerda teve desempenho dentro do esperado, com 53 cadeiras (34%) e será fortalecida pelo apoio da maioria dos assentos destinados aos povos originários.

“Os chilenos expressaram a necessidade de novos tipos de liderança, e é nosso dever escutá-los”, disse o presidente Piñera, na noite deste domingo (16). “O resultado de hoje é um chamado à reflexão. A escolha foi democrática, e dentro da democracia se deve redigir essa nova Constituição.”

O baixo comparecimento às urnas já havia sido prenunciado pelo prefeito da região metropolitana de Santiago, Felipe Guevara. Sem fornecer números, ele afirmou, na noite de domingo, que dificilmente se chegaria à cifra do plebiscito de outubro do ano passado, que foi de 50,95%.

Daquela vez, os chilenos aprovaram a formação da Assembleia Constituinte, que agora teve seus membros definidos. Ao longo do dia, TVs chilenas entrevistaram mesários em várias regiões do país que relataram movimento baixo nos centros de votação. Levantamento do instituto Cadem também já havia mostrado que apenas 52% dos entrevistados declararam intenção de votar, e só 46% disseram estar interessados no pleito -no Chile, o voto não é obrigatório.

Devido ao fuso-horário, as urnas chilenas começam a ser abertas antes no sul do país, que está uma hora atrás em relação ao restante do território. Seguindo uma tradição local, mesários do principal centro de votação de Punta Arenas abriram a primeira cédula e gritaram o nome do vencedor contido naquele papel, numa contagem que ocorre em paralelo ao escrutínio sistematizado dos votos impressos.

Ali, o nome de uma mulher mapuche, Natividad Llanquileo, 36, foi bradado, o que fez dela a primeira a receber um voto para se tornar integrante da nova assembleia. ​Neste pleito, que também decide a escolha de prefeitos, vereadores e governadores regionais, há uma cota de 17 cadeiras reservadas a representantes dos povos originários, que pela primeira vez participarão da redação da Carta chilena.

A eleição deste final de semana também serviu como uma prévia da disputa entre pré-candidatos à Presidência, cuja eleição ocorre em novembro. Pamela Jiles, deputada do Partido Humanista, de esquerda, causou comoção ao acompanhar o marido, Pablo Maltés, candidato a governador, ao local de votação.

Apesar de uma pesquisa do Instituto Ipsos ter mostrado que 52% dos chilenos ainda se consideram mal informados sobre os nomes que devem concorrer à sucessão de Piñera, Jiles aparece à frente em levantamentos recentes, como o do Instituto Cadem e do próprio Ipsos.
Desrespeitando a lei eleitoral, a deputada convocou eleitores a votar no marido. Além de cometer um ato ilegal, ela insultou o presidente com palavras de baixo calão, ao chamá-lo de “assassino filho da puta”.

Jiles, que é ex-apresentadora de TV, tem 18% das intenções de voto para presidente. Daniel Jadue, do Partido Comunista, aparece em segundo, com 11%, seguido pelo direitista Joaquín Lavín, com 10%.

Ao votar neste domingo, Jadue comentou a fala de Jiles. “Cordialidade e valentia são coisas diferentes. Não vejo debate político em troca de insultos e não vi nenhuma ideia política ser defendida.” O órgão eleitoral chileno anunciou a abertura de uma investigação para definir se haverá punição à deputada.

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