Situação inédita no planeta pode ser muito pior que a pandemia
"As tendências que observamos foram bastante alarmantes, em certo sentido", afirmou Norman Loeb, autor do estudo
Philippe Watanabe, de SP – Uma pesquisa de cientistas da Nasa e da Noaa (Agência de Administração Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos), recentemente publicada no periódico científico Geophysical Research Letters, mostra um aumento da energia aprisionada na Terra no período que começa em meados de 2005 e se estende até meados de 2019.
Mas o que esse desequilíbrio energético da Terra (na sigla inglesa, EEI, que significa Earth’s Energy Imbalance) de fato significa? Trata-se, basicamente, da diferença entre a energia solar que fica na Terra e o que “refletido” para o espaço.
O estudo publicado aponta para a importância desse balanço energético, que, quando positivo (como é o caso agora), acaba sendo traduzido em “sintomas” como aumento de temperatura global e oceânica e elevação do nível do mar.
Cerca de 90% desse excesso de energia do desequilíbrio acaba nos oceanos, o que possibilitou uma parte das medições e coletas de dados, a partir de boias marítimas do programa internacional Argo, relacionados ao fenômeno. A outra parte da coleta de dados foi feita a partir do Ceres (Clouds and the Earth’s Radiant Energy System), da Nasa, que registra valores de energia/radiação capturada e refletida. Ambas acabaram apontando para o mesmo caminho, o aquecimento.
“As tendências que observamos foram bastante alarmantes, em certo sentido”, afirmou Norman Loeb, autor do estudo e pesquisador do Ceres/Nasa em comunicado. “As duas maneiras de olhar para as mudanças no desequilíbrio de energia da Terra estão em concordância muito, muito boa, e ambas mostram essa tendência muito grande, o que nos dá muita confiança de que o que estamos vendo é um fenômeno real.”
Parte do problema está na ação humana de emissões de gases-estufa. Com eles, como o CO2, por exemplo, mais radiação fica “presa” no planeta (daí a ideia de efeito estufa), o que leva a derretimento de geleiras e alterações em nuvens -acontecimentos que, por sua vez, também acabam contribuindo para o aquecimento da Terra.
Mas, ao mesmo tempo, a responsabilidade no caso apresentado no estudo não é só humana. Uma oscilação natural de temperatura no oceano Pacífico também teve um papel importante no desequilíbrio.
“É provavelmente uma mistura de forças antropogênicas e variabilidade interna”, afirmou Loeb. “E, nesse período, ambos estão causando aquecimento, o que leva a uma mudança grande no desequilíbrio de energia da Terra. A magnitude do aumento não tem precedentes.”
De toda forma, o período analisado é curto e, por isso, não permite conclusões mais amplas.
O pesquisador da Nasa alerta, contudo, para o fato de que, caso a absorção de calor na Terra não diminua, esperam-se maiores mudanças climáticas do que as que já estão em curso.