Bolsonaro usa palavrões para atacar antecessores e diz que não errou na pandemia
Falas foram proferidas durante visita à barragem de Oiticica, em Jucurutu (RN)
JOSÉ MATHEUS SANTOS
RECIFE, PE (FOLHAPRESS) – O presidente Jair Bolsonaro (PL) usou palavrões nesta quarta-feira (9) para atacar seus antecessores no cargo, durante uma visita ao interior do Rio Grande do Norte.
Em discurso para uma plateia formada por apoiadores e aliados políticos, Bolsonaro não poupou críticas a ex-presidentes. Ele não mencionou nomes, mas fez referências às gestões de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), Lula (2003-2010), Dilma Rousseff (2011-2016) e Michel Temer (2016-2018).
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“Durante a transição após as eleições [de 2018] em Brasília, estávamos conversando sobre o que estava acontecendo com o governo anterior e como estava o governo. Descobrimos que a Funai tinha um contato de R$ 50 milhões para ensinar o índio a mexer com Bitcoin. Ah, vá para a puta que pariu, porra. Desculpe o palavrão aqui”, disse Bolsonaro, em alusão à Fundação Nacional do Índio.
O presidente mais uma vez atacou governos petistas e elencou escândalos de corrupção durante as gestões de Lula e Dilma.
“Tem gente que tem saudades desses canalhas, não é só o povo nordestino que sofre, é gente de todo o Brasil. Os números estão aí, não estou alfinetando nem criticando ninguém. Estou apenas mostrando.”
“Querem botar o fala mansa lá? Botem. Quem vai pagar a conta? Vocês”, afirmou o presidente, que ainda disse defender eleições limpas em 2022, após ter feito uma série de ameaças sobre o pleito.
Nesta semana, Bolsonaro tem realizado uma ofensiva de dois dias de eventos no Nordeste, considerado reduto político do ex-presidente Lula (PT), principal adversário do presidente na corrida eleitoral de 2022.
As falas desta quarta-feira foram proferidas durante visita à barragem de Oiticica, em Jucurutu (RN). Na cidade, o presidente também assinou ordem de serviço para uma segunda etapa de pavimentações.
O chefe do Executivo também defendeu a condução do governo federal na pandemia e disse que não cometeu erros em meio à crise sanitária.
“A política do fica em casa, lockdown e toque de recolher, foi desumana. Levou a mortes, desemprego, muita gente foi para depressão e para o desespero.”
“Não errei nenhuma [vez] durante a pandemia, fui atacado covardemente o tempo todo, mas a decisão de conduzir a questão da pandemia, segundo decisão do STF, foi para governadores e prefeitos”, disse.
Apesar de ter definido que estados e municípios tinham autonomia para implantar medidas para combater o coronavírus, o Supremo Tribunal Federal não retirou poderes do governo federal para o enfrentamento à crise sanitária.
Bolsonaro, no entanto, costuma criticar a decisão do tribunal em meio à tensão institucional do Palácio do Planalto com o Judiciário.
“Muitos [prefeitos e governadores] erraram na tentativa de fazer a coisa certa, agora está na hora de reconhecer o que não deu certo, que o vírus ainda é uma questão desconhecida por nós”, disse Bolsonaro em discurso.
Mesmo em meio à pandemia, Bolsonaro e a maioria dos que estavam no palco não utilizavam a máscara de proteção facial, um dos principais equipamentos para evitar o contágio do coronavírus
O relatório final da CPI da Covid aponta Bolsonaro como um dos principais responsáveis pelo agravamento da pandemia no país e sugere que o presidente seja responsabilizado e investigado por nove crimes.
Na lista, há crimes comuns, previstos no Código Penal; crimes de responsabilidade, previstos na Lei de Impeachment, e crimes contra a humanidade, previsto pelo Estatuto de Roma.
No périplo desta semana no Nordeste, o chefe do Executivo foca as obras de segurança hídrica e busca atenuar a rejeição ao governo na região, a que mais rejeita a gestão Bolsonaro.
Nas primeiras semanas deste ano eleitoral, Bolsonaro tem intensificado as agendas externas ao Palácio do Planalto -antes, já passou por estados de Norte e Sudeste.
Na terça, o presidente passou por Salgueiro, em Pernambuco, e por Jati, no Ceará. Ainda no estado potiguar, Bolsonaro participa de ato para a chegada das águas do rio São Francisco ao Rio Grande do Norte, em Jardim de Piranhas.
Após participar de uma série de motociatas em 2021, o presidente desta vez deve participar de uma jeguiata no Rio Grande do Norte.
Obra estudada para execução por Dom Pedro 2º, no Brasil Imperial de dois séculos atrás, a transposição foi iniciada em 2007, durante o segundo mandato de Lula.
A previsão inicial de conclusão era 2012, mas o prazo não foi cumprido. Passou por diversas prorrogações, com a primeira etapa sendo inaugurada somente em 2017, por Michel Temer (MDB).
O custo das obras também não ficou estático e saltou de R$ 4,5 bilhões para R$ 12 bilhões. Ao todo, são 477 km de canais de água.
Quando todas as estruturas e sistemas complementares nos estados estiverem em operação, cerca de 12 milhões de pessoas em 390 municípios de Pernambuco, Paraíba, Ceará e Rio Grande do Norte serão beneficiadas.
A transposição é apontada como diretriz para revitalização econômica do Nordeste pelo fato de ser a maior obra hídrica do país.
A paternidade da transposição do São Francisco é disputada por diferentes atores da política nacional. O embate mais recente começou quando Temer inaugurou um trecho da obra durante o seu governo, provocando reação dos petistas Lula e Dilma Rousseff.
Jair Bolsonaro, por sua vez, faz críticas aos ex-presidentes petistas por não terem concluído as obras da transposição.
O atual presidente alega em discursos que, mais importante que anunciar novas obras, é concluí-las. Já os adversários dizem que o presidente não tem agenda própria e usa a sobra de ativos dos governos anteriores.