Equador suspende negociações com manifestantes após morte de militar
Protesto começou pela alta dos preços de combustíveis e alimentos no país
O presidente do Equador, Guillermo Lasso, suspendeu nesta terça-feira (28), após um ataque a militares deixar um soldado morto e outros 12 feridos, as negociações que mantinha com o líder dos protestos indígenas que param ruas e estradas do país desde o último dia 13 em manifestações contra o governo.
“Não vamos nos sentar para conversar com Leonidas Iza novamente, que só defende seus interesses políticos e não os de suas bases”, disse o presidente, referindo-se ao líder da Conaie, maior organização indígena do país, que convoca as manifestações. “Aos nossos irmãos indígenas, vocês merecem mais que um líder oportunista”, afirmou. “Não vamos negociar com quem mantém o Equador refém”.
Os manifestantes, em sua maior parte indígenas, protestam contra os altos preços dos combustíveis e dos alimentos no país. Pelo menos oito pessoas morreram nas mais de duas semanas de manifestações. Os bloqueios de estradas têm provocado também escassez de alimentos em supermercados e de suprimentos médicos em hospitais em diferentes regiões do Equador.
Na madrugada desta terça, um grupo de militares e policiais que faziam escolta de um comboio de 17 caminhões-tanque foi atacado por manifestantes armados na região da Amazônia equatoriana, disseram autoridades do país. “É um ato criminoso brincar com a vida de inocentes. O país é testemunha de todos os esforços que fizemos para estabelecer um diálogo frutífero e sincero”, afirmou Lasso.
“Somente quando houver representantes legítimos de todos os povos e etnias do Equador, que busquem soluções reais e estejam abertos a um diálogo real e franco, retornaremos à mesa de negociações”, disse.
Desde segunda, o governo não participa das mesas de negociações, que acontecem na Basílica do Voto Nacional, em Quito. “Foi um ataque brutal [aos militares], mas como podemos saber se realmente foi provocado pelos manifestantes ou não?”, questionou Iza pela manhã após a reunião ser cancelada.
“Que o mundo saiba quem é que não tem vontade de resolver os problemas”, afirmou o presidente da poderosa Confederação das Nacionalidades Indígenas (Conaie).
Os protestos, bloqueios de estradas e confrontos violentos pressionam o impopular presidente conservador Guillermo Lasso, que tem apenas 17% de aprovação e foi encurralado também por um debate sobre seu impeachment, em discussão no Congresso.
O governo afirma que fez concessões significativas aos manifestantes, entre elas um corte no preço da gasolina, o perdão de dívidas bancárias e subsídios para fertilizantes. Na última segunda-feira (27), Iza afirmou que a redução no valor da gasolina foi insuficiente.
Pelo Twitter, a Conaie afirmou que o cancelamento das negociações confirmou o “autoritarismo, falta de vontade e incapacidade” do presidente, e que ele será responsável pelas consequências dos atos.
Os bloqueios em estradas têm impedido o transporte de suprimentos para refinarias de petróleo operados pela estatal Petroecuador e empresas privadas, disse o governo.
No fim de semana, o Ministério da Energia disse que as operações das refinarias poderiam ser interrompidas nesta terça. Na segunda, a produção total de petróleo estava em 234.496 barris por dia, menos da metade da produção de cerca de 520.000 barris antes dos protestos.
No entanto, o campo de petróleo ITT, o maior do Equador, operou normalmente nesta segunda-feira e produziu mais de 52.000 barris, segundo a Petroecuador. Já em outro ponto, a empresa afirmou que não tinha mais petróleo para transportar pelo oleoduto Sote. Uma fonte da empresa que pediu para não ser identificada disse que a companhia analisa a possibilidade de adiar exportações.