Polarização estimula casos como o do professor demitido por tirinha sobre polícia, diz cientista político
Profissional foi acusado por blogueiro de doutrinar estudantes com o conteúdo da avaliação em colégio de Goiânia
O caso do professor demitido por utilizar uma tirinha sobre a polícia em prova no Colégio Visão, em Goiânia, é consequência da polarização consolidada no cenário eleitoral deste ano. É o que avalia o professor e cientista político Guilherme Carvalho.
Para o analista, o movimento inflamado pelas redes sociais não é recente, mas ganha força com as eleições em 2022. “Isso vem sendo tendência desde 2013 e é lastimável. Se comprovada a perseguição ideológica, que a Justiça possa atuar de modo célere e efetivo”, afirma.
A democracia é a mais prejudicada neste processo, segundo o especialista. “Não há espaço para o contraditório e o que a gente vê não é democrático, mas uma tentativa de eliminar o adversário, inclusive em uma esfera pessoal”, aponta.
Na última quarta-feira (29), o professor de Sociologia Osvaldo Machado foi desligado do colégio, após prova com uma tirinha fazendo referência à atuação da polícia paulista viralizar nas redes sociais. A publicidade do fato começou com post do blogueiro e pré-candidato a deputado federal por Goiás, Gustavo Gayer (PL).
Estudantes da instituição de ensino chegaram a fazer uma manifestação nos corredores contra a demissão do educador. Já o Sindicato dos Professores do Estado de Goiás (Sinpro) repudiou as declarações de Gayer e a decisão do Colégio Visão. A entidade prepara denúncias no Ministério Público de Goiás e no Ministério Público do Trabalho (MPT) sobre o caso.
Ao Portal 6, o Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino de Goiânia (SEPE) informou não irá se manifestar ou interferir na situação do Colégio Visão. A entidade informa que a escola tem a liberdade de tomar a decisão de acordo com o seu quadro de funcionários, e que a legislação trabalhista dirá se a demissão foi correta ou não.
Influencers nas eleições
A presença de youtubers, como o blogueiro e pré-candidato a deputado federal Gustavo Gayer, assim como outros influencers, na esfera política é inevitável, segundo Guilherme Carvalho.
Ele avalia que a mobilização atinge, sobretudo, os mais jovens. Isso ocorre porque o público domina as ferramentas digitais e repassa os posicionamentos políticos de forma rápida e eficiente.
“Eles são importantes cabos eleitorais. Tanto é que o boom da juventude neste ano, solicitando títulos de eleitor em números recordes, não é por campanhas do Tribunal Superior Eleitoral, mas pela difusão por parte destas personalidades da internet”, avalia.
Por outro lado, a relação entre as redes sociais e as eleições trouxe à tona problemas de desinformação. “Os influencers alcançam mais pessoas, porém a mensagem repassada nem sempre foi apurada como deveria. Além disso, temos as fake news prejudicando a interpretação e a escolha dos eleitores”, evidencia.