ONU atende a pedido de socorro do Haiti e impõe sanções contra gangues

Principal alvo das medidas é o maior traficante da ilha caribenha, Jimmy Cherizier

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Haiti vive crise humanitária e escalada da violência. (Foto: Danilo Verpa/Folhapress)ONU atende a pedido de socorro do Haiti e impõe sanções contra gangues
Haiti vive crise humanitária e escalada da violência. (Foto: Danilo Verpa/Folhapress)

O Conselho de Segurança da ONU decidiu nesta sexta-feira (21) impor uma série de sanções envolvendo congelamento de ativos, proibição de viagens e embargos contra “qualquer um que ameace a estabilidade ou a paz do Haiti”.

A resolução foi apresentada por Estados Unidos e México e aprovada por unanimidade pelos 15 membros do órgão, o mais poderoso da entidade.

O principal alvo das medidas é o maior traficante da ilha caribenha, Jimmy Cherizier –apelidado de Barbecue, churrasco em inglês. Ex-policial, ele lidera o grupo G9, que reúne nove facções haitianas, e costuma se apresentar como um líder político.

A resolução acusa Cherizier de violar os direitos humanos e de promover a violência no território. De acordo com o texto, gangues sob seu mando foram as responsáveis pelo bloqueio da entrada do porto de Varreux, principal porta de entrada dos produtos importados no país, há um mês. A ação foi justificada como um protesto contra a ordem do governo de acabar com os subsídios para combustíveis.

A tomada do porto levou à escassez de água engarrafada no momento em que o país vive um novo surto de cólera, controlada com a intensificação de medidas de higiene. Enquanto isso, a falta de combustível provocou caos no transporte e forçou comércios e hospitais a interromperem as atividades.

As sanções impostas pela ONU agora sucedem uma fala algo ambígua do secretário-geral da entidade, António Guterres, de uma semana atrás. Na ocasião, ele propôs “uma rápida força de ação” para ajudar a polícia haitiana a confrontar os grupos armados, mas não indicou se a própria entidade lideraria essa iniciativa.

“Estamos mandando uma mensagem clara para os vilões que fazem o Haiti de refém: a comunidade internacional não ficará de braços cruzados enquanto vocês causam estragos”, disse a embaixadora americana nas Nações Unidas, Linda Thomas-Greenfield, em discurso após a votação.

Ela descreveu as sanções como uma “resposta inicial aos pedidos de ajuda” dos haitianos, que enfrentam um iminente desastre humanitário. E acrescentou que o comitê deve em breve aprovar mais uma decisão relacionada ao Haiti, desta vez visando estabelecer uma missão independente para garantir a segurança e facilitar o envio de ajuda humanitária à nação, a mais pobre das Américas.

Embora a embaixadora não tenha fixado a data em que o novo texto será apresentado para votação, outros diplomatas dizem que isso pode ocorrer já na semana que vem.

Parte dos haitianos é contra uma nova interferência do exterior, por considerarem traumática a missão de paz enviada pela ONU para atuar no país entre 2004 e 2017. Embora fosse uma ação de ajuda humanitária, a iniciativa chefiada por militares brasileiros gerou uma série de acusações de estupro por parte de membros das tropas da ONU e levou a cólera à ilha, dando origem a uma epidemia que fez quase 10 mil vítimas.

Um dos maiores protestos nesse sentido ocorreu em Porto Príncipe na semana passada, dias depois que o primeiro-ministro, Ariel Henry, solicitou formalmente à comunidade internacional uma “força armada especializada” para “deter, em todo o território” as ações de gangues.

Em atos que terminaram com embates contra a polícia, os manifestantes marcaram posição contra a perspectiva de uma nova intervenção estrangeira e exigiram a renúncia do premiê –considerado ilegítimo por parte da população desde que tomou posse na esteira do assassinato do então presidente Jovenel Moïse.

O homicídio e a crise política por ele precipitado representaram o último baque sobre uma nação que já lidava, entre outros, com o recrudescimento de conflitos violentos entre gangues, a pandemia de Covid, a passagem de ciclones tropicais, além da destruição deixada pelo terremoto que sacudiu a ilha no ano passado, o mais mortal em uma década.

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