Advogado com apenas 10% da visão revela desafios ao se tornar novo membro de comissão da OAB, em Aparecida

"Toda a sociedade precisa entender que nós [advogados] somos agentes de inclusão", afirma

Davi Galvão Davi Galvão -
Lucas Andrade Rocha é advogado e professor universitário. (Foto: Reprodução)

O advogado Lucas Rocha Andrade é a prova de que é possível superar grandes desafios apesar das adversidades. Com a visão debilitada e enxergando apenas algo ao redor de 10%, aos 24 anos, já galgou muitos degraus. E são muitos: já é licenciado pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), presidente da Comissão dos Direitos da Pessoa com Deficiência (CDPCD) em Aparecida de Goiânia e ministra aulas de Direito no ensino superior.

Natural de Palmas (TO), ele comenta que, na escola, se envolvia em confusões com relação a implicância dos colegas, mas com o tempo e dedicação dos professores, deixou essas páginas para trás.

“Eu sempre fui uma criança mais… quente né, os meninos vinham fazer bullying comigo e eu não abaixava a cabeça, mas com o tempo fui melhorando essa questão”, afirmou.

Ao Portal 6, Lucas revelou que o sonho de cursar direito surgiu aos 17 anos, quando completava o Ensino Médio. Ele comenta que o começo da trajetória escolar foi marcado por diversos percalços com relação a deficiência.

Entretanto, por ser de uma origem muito humilde, compreendeu que não conseguiria realizar o curso em Tocantins, e resolveu vir sozinho para Goiânia em busca de mais oportunidades. Após muita luta, conseguiu uma bolsa de estudos em uma universidade na capital.

O advogado revela que esse período foi particularmente desafiador para ele, pois o curso não estava preparado para atender discentes com deficiências visuais.

“Naquela época uma das únicas coisas que a faculdade fazia era imprimir as provas com a letra um pouco maior. Quem mais me ajudava mesmo eram meus colegas, que liam para mim, as vezes até copiavam a matéria no celular para mim. Mas no final, acaba que eu fazia as provas só com o que eu escutava dos professores mesmo”, confessou.

Como não contava com o apoio financeiro da família e também não estava empregado, ele relembra que os antigos professores do Ensino Médio realizavam vaquinhas entre ele, a fim de auxiliar os custos que tinha na capital.

Lucas contou ainda que foi durante o curso que descobriu a paixão pela docência. Já no primeiro período, em uma atividade, teve de ministrar uma aula para a turma. Apesar do nervosismo, conta que descobriu lá uma paixão, e considera essa experiência como a abertura de uma cortina para a vocação.

Após se formar e passar no exame da OAB, engajou-se bastante no mundo jurídico. Ele comenta que, em dado ponto, questionou com um colega se havia alguma comissão dentro da própria Ordem que tratasse de questões relacionadas a pessoas com deficiência na subseção de Aparecida de Goiânia.

Diante da negativa, esse mesmo colega foi adiante com a demanda e, após algum tempo, Lucas foi convidado para presidir a recém-criada comissão, estando atualmente na primeira gestão, na qual busca representar os advogados com deficiência.

“Toda a sociedade precisa entender que nós [advogados] somos agentes de inclusão, e pessoas com deficiência estão presentes em todos os ramos da sociedade, e precisam de um apoio específico”, comentou.

Para completar o currículo, ele revela que ainda ministra aulas no curso de Direito da faculdade UniAlfa, em Goiânia, e pretende concluir o mestrado para continuar com a paixão que tem por ensinar.

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