Goiana prodígio impedida de jogar torneio de futsal com meninos ganha indenização

Maria Fernanda, de apenas 12 anos, já ganhou a oportunidade de treinar com equipe do Corinthians, em São Paulo (SP)

Augusto Araújo Augusto Araújo -
Maria Fernanda, de 12 anos, é goiana prodígio do futebol feminino. (Foto: Arquivo Pessoal/ Fernanda Rodrigues Alves)

Após lutar na Justiça para poder participar de um torneio de futsal com meninos, a família da goiana Maria Fernanda, de 12 anos, receberá uma indenização por discriminação de gênero.

O caso aconteceu em meados de 2022. A criança, que tinha apenas 11 anos à época, foi impedida de participar da competição, apenas por ser uma garota.

Ao Portal 6, a advogada que defendeu a pequena jogadora, Daiany Macelai, explicou que a atleta fazia parte de uma equipe mirim que se sagrou campeã do torneio estadual de futsal em Goiás, ganhando o direito de competir na 5ª Taça Brasil de Clubes de Futsal.

No entanto, após cumprir todos os procedimentos para se inscrever, a Confederação Brasileira de Futebol de Salão (CBFS) não quis autorizar Maria Fernanda no campeonato.

“Eles argumentaram que estavam seguindo uma regulação da própria FIFA, alegando que ela não estaria adequada a participar da Taça Brasil. Só que percebemos que havia uma incongruência com o que é praticado em Goiás e outros estados, que permitem times mistos, e o que havia sido dito pela CBFS. Assim, nós entramos com uma ação judicial”, detalhou Daiany.

Dessa forma, a jogadora conseguiu uma liminar que permitiu que ela jogasse no torneio. No entanto, a família também entrou com um pedido de indenização por danos morais, pelo transtorno causado à época.

Maria Fernanda em atuação pela Taça Brasil de Futsal 2022. (Foto: Arquivo Pessoal/Fernanda Rodrigues Alves)

Reparação

Ao Portal 6, Fernanda Alves, mãe de Maria Fernanda, explicou que a negativa da CBFS pegou a todos de surpresa, pois todos os preparativos já tinham sido feitos.

“A Taça Brasil era em setembro do ano passado. Nós recebemos esse aviso em agosto. Já tínhamos tudo preparado, comprado passagem, pagado hospedagem, a inscrição para o campeonato, essas coisas.”

A gestora financeira afirmou que a filha ficou em choque e bastante abalada com a notícia, após tantos meses de expectativa para competir.

A partir daí, veio o pedido de danos morais. Em uma primeira análise em juizado, a reparação foi negada, visto que a família tinha conseguido que a criança disputasse o torneio.

Mas após recorrerem, a indenização foi autorizada, visto que a ação da CBFS viola uma série de tratados e leis brasileiras para minimizar as desigualdades de gênero.

“Aos 11 anos, não existe ainda uma diferença de força física entre meninos e meninas que justifique impedir ela de competir. Não haveria justificativa para negar a participação dela”, argumentou Daiany Macelai.

Dessa forma, a multa a ser paga pela confederação foi estabelecida em R$ 10 mil.

No entanto, a advogada apontou que a CBFS já deu sinais de que irá recorrer em última instância, levando ao Supremo Tribunal de Justiça (STJ), para revisar a decisão.

Maria Fernanda joga tanto no futsal quanto nos gramados de futebol. (Foto: Arquivo Pessoal/ Fernanda Rodrigues Alves)

Prodígio do futebol

Ainda que não tenha conseguido levar o time ao título na Taça Brasil, Maria Fernanda ainda pode ter um grande futuro pela frente no esporte.

Atualmente com 12 anos, a jogadora ganhou a oportunidade de ir treinar com outras atletas do futebol de campo no Corinthians, tradicional clube de São Paulo (SP).

Maria Fernanda é monitorada pelo Corinthians. (Foto: Arquivo Pessoal/ Fernanda Rodrigues Alves)

“Desde junho, ela vai lá uma vez por mês e fica uma semana jogando, sendo monitorada e avaliada. Mas aqui em Goiânia, ela continua jogando com os meninos, joga também em um time 100% feminino, que compete contra times masculinos”, explicou Fernanda Alves.

A mãe também detalhou que a filha sempre apresentou como característica a força física e velocidade, que faz com que ela se destaque em campo e não tenha problemas para competir entre os garotos.

Ainda de acordo com a gestora financeira, existe uma expectativa de que o Corinthians dê início à uma equipe de futebol feminino sub-13 a partir de 2024.

Com isso, ela acredita que será o passo decisivo para que Maria Fernanda possa participar definitivamente dos treinamentos no time paulista e, quem sabe, consolidar o caminho dela rumo ao futebol profissional.

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