À beira da cegueira, homem luta há mais de 1 ano para conseguir tratamento em Anápolis

"Tem sido muito difícil, eu já caí, não consigo mais sair de casa ou dirigir", desabafou José Antônio, em entrevista ao Portal 6

Samuel Leão Samuel Leão -
José Antônio e a esposa Reginira aguardam por tratamento há mais de um ano. (Foto: Portal 6)

Borrões turvos, imagens indefinidas e fragmentos de luminosidade. Nascido em Anápolis, José Antônio, de 54 anos, está ficando cego e precisa se apoiar nas paredes para andar na própria casa, sofrendo com tropeços e quedas recorrentes. Sem conseguir auxílio do poder público, ele aguarda uma cirurgia nos olhos há mais de um ano.

Este está longe de ser um caso isolado. Conforme divulgado em reportagens do Portal 6, são vários os relatos de pessoas na espera por cirurgias de urgência e até eletivas no município.

No caso do Hospital dos Olhos de Anápolis (HOA), que realizava procedimentos oftalmológicos na cidade pelo SUS, a própria Secretaria Municipal de Saúde (Semusa) admitiu o encerramento do saldo contratual – em setembro deste ano.

Em meio a tantas incertezas, José colocou à venda um bem precioso. O dinheiro do carro pode ser necessário, já que, sem conseguir marcar a data da cirurgia, ele perde dinheiro e definha as esperanças a cada três meses – tempo de validade dos exames.  Situação semelhante foi vivida pela anapolina Maria das Dores, que vendeu uma moto da família para realizar exames na expectativa de passar pelo procedimento de cirurgias cardíacas consideradas urgentes.

Em entrevista, José e a esposa Reginira Ferreira de Souza, de 70 anos, revelaram as dificuldades para lidar com a nova realidade.

“Tem sido muito difícil, eu já caí, não consigo mais sair de casa ou dirigir. Minha esposa que me acompanha e orienta, mas ela também tem catarata e nunca conseguiu realizar a cirurgia que precisa. Às vezes ficamos os dois sem mobilidade”, desabafou.

Em uma mensagem encaminhada ao casal, o HOA expõe que a unidade está de mãos atadas enquanto aguarda um posicionamento da Semusa, visto que as cotas anuais acabaram. Além disso, a própria Agência Reguladora Municipal teria bloqueado o acesso ao sistema do SUS.

“Então no momento não estamos atendendo via SUS, creio que retorna somente no próximo ano, a central de regulação bloqueou até mesmo o nosso acesso ao sistema.
Infelizmente estamos de mãos atadas, aguardando posicionamento da secretaria de saúde, referente às nossas cotas anuais que já acabaram”.

Assim, os procedimentos de PFC – que consistem na aplicação de perfluorocarbonos na retina aliados à laserterapia – ficam pendentes e a visão do paciente segue decaindo. Nem mesmo a constatação feita pelo médico que o consultou, de que o caso é de urgência, foi suficiente para gerar resultados efetivos.

Receita que aponta urgência no procedimento. (Foto: Reprodução)

O desespero do casal é tanto que, além do carro posto à venda para tentar pagar um hospital particular, uma solicitação de intervenção já foi formalizada no Ministério Público de Goiás (MPGO).

A reportagem do Portal 6 entrou em contato com a Semusa, solicitando a confirmação das informações obtidas através das mensagens.

Em nota, além de admitir a interrupção do contrato com o HOA, ao ser solicitada sobre a previsão da retomada dos procedimentos, a pasta informou que:

“Já está em andamento processo de credenciamento para contratação de prestadores de serviços que queiram atender pelo SUS, o que inclui também o Hospital de Olhos de Anápolis”.

 

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