Os desafios dos feirantes para levar alimentos à mesa dos anapolinos: “somos uma família, todos juntos e unidos”

Com relatos alegres e de superação, maioria dos profissionais precisam começar o trabalho no início da madrugada para atender a população

Samuel Leão Samuel Leão -
Os desafios dos feirantes para levar alimentos à mesa dos anapolinos: “somos uma família, todos juntos e unidos”
Feira do Jundiaí. (Foto: @bancadocleytin)

“Levantar cedo para a labuta que eu tô pronto, eu muito conto com meu Deus que está no céu”. Esse trecho da canção “Eu Tenho a Senha”, do cantor João Gomes, tem a capacidade de tocar a realidade – e o peito – de muitos trabalhadores que dedicam as madrugadas ao ofício.

Em homenagem ao Dia do Trabalhador, o Portal 6 vai revelar um pouco sobre a rotina dos feirantes – responsáveis por movimentar cifras milionárias partindo desde a Ceasa até o alimento chegar fresquinho à mesa da população anapolina. Ao todo, para se ter ideia, existem 34 feiras regulares girando em diversos bairros do município e centenas de profissionais que se envolvem nessa roda-viva.

Para chegar na hora da xepa – momentos finais quando os preços costumam ficar mais em conta – o trabalho começou lá atrás, na madrugada, antes mesmo das 02h.

“Quem não gosta de uma feira? Vem desde a antiguidade e só vai se adaptando, antes era na troca e agora é pela venda. Faço com o maior orgulho, aprendi com uma senhora e então comprei pontos, nos quais hoje trabalho fazendo pastéis fritos na hora”, contou Ivani Lúcia, de 49 anos.

Com mais de 6 anos de experiência em feiras livres de Anápolis, ela explicou que migrou de um quiosque de empadas no shopping para uma banca nas feiras. Nascida em Jussara, achou espaço na “Manchester goiana” e, o que começou pequeno, hoje é um time de sete funcionários – todos focados na função.

“Faço o Progresso, Aldeia dos Sonhos, Santo André e Alexandrina. Começo a vender às 2h e fico até 14h. O público é muito variado, tanto jovens quanto mais velhos”, explicou.

“Os idosos costumam ser os primeiros que vão comprar, em especial na parte da manhã. Na madrugada também atendo muita gente voltando de festas ou do trabalho”, completou.

Vânia, Ivani e Hans, todos os feirantes entrevistados pelo Portal 6. (Foto: Arquivo Pessoal)

Mais exemplos

Ivani divide essa realidade com centenas de outros feirantes em Anápolis, a exemplo de Vânia Alves, de 37 anos, que também começa o trabalho antes do nascer do sol. Anapolina, ela conta que a área está no sangue da família.

“Tem 7 anos que estou nessa área, aprendi com o meu marido. É uma profissão muito boa, cada dia é um aprendizado. Eu trabalho principalmente com derivados do leite, então estou todo dia correndo com [e contra] os preços das mercadorias”, revelou.

Dentre os produtos que ela disponibiliza estão queijos, coalhadas, manteiga, polvilho, ovos e rapadura. Entre as várias feiras da cidade, ela atua principalmente nas do Jundiaí, da Vila Formosa, São Jorge e Jonas Duarte.

“Nas feiras, somos uma família, todos juntos e unidos, apoiando um ao outro no que precisa. Levantamos na madrugada, das 3h da manhã até as 14h da tarde, é um foco muito grande, então temos que estar juntos nas dificuldades, porque lá é nossa segunda casa”, explicou.

Dificuldades e superação

Apesar da tradição, nem tudo são rosas no dia a dia dos feirantes. Além da rotina apertada, trocando muitas vezes o dia pela noite, existem também dificuldades como a falta de feirões cobertos, os expondo às condições climáticas e também a constante luta contra os preços.

Hans Muller é outro exemplo de luta na área. Após trabalhar por dois anos na feira, vendendo a tradicional “gueiroba”, um dia passou na banca de um senhor que fazia consertos em panelas.

Ao brincar com o colega, questionando se ele gostaria de “vender essa banca para mim”, acabou sendo surpreendido pela resposta.

“Após uns 4 meses, ele me ofereceu a banca, fiquei sem reação, mas peguei sem pensar direito. Cheguei em casa, me arrependi e fiquei me perguntando o que é que tinha feito da minha vida”, relembrou, aos risos.

Primeira banca de Hans, localizada na Feira Coberta do Jundiaí. (Foto: Arquivo Pessoal)

“Tentei vender a banca com as mercadorias e os pontos bem abaixo do preço, isso em 2018, mas com o tempo fui pegando o jeito e também o gosto pela coisa”, contou.

Em setembro do mesmo ano, após entender o universo do conserto de panelas, ele abriu uma loja especializada na área e em utensílios de cozinha, tornando-se conhecido como o “Salvador das Panelas”.

Ainda assim, Hans não abandonou as raízes e segue fazendo feiras durante a semana.

Atual loja do comerciante, que optou por não desistir do ramo. (Foto: Arquivo Pessoal)

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