Macron diz que ninguém ganhou as eleições e chama partidos para formar coalizão ampla
Ao incentivar uma coalizão, Macron usou o termo "bloco republicano", que implica os principais partidos, exceto os extremistas
O presidente francês, Emmanuel Macron, afirmou nesta quarta-feira (10) que “ninguém ganhou” as eleições legislativas antecipadas realizadas no domingo na França -onde a esquerda ficou em primeiro lugar, mas sem maioria absoluta–, e pediu a formação de uma ampla coalizão.
Em uma carta ao povo publicada na imprensa regional francesa, Macron fez um apelo “a todas as forças políticas que se identificam com as instituições republicanas, o Estado de Direito, o parlamentarismo, a orientação europeia e a defesa da independência da França, para entabular um diálogo sincero e leal para construir uma maioria sólida, necessariamente plural, para o país”.
A votação, que Macron convocou inesperadamente após perder para a ultradireita nas eleições europeias, mergulhou a França em águas desconhecidas, com três blocos politicamente divergentes e sem um caminho óbvio para formar um governo.
Nenhum partido ou coalizão obteve maioria absoluta, de 289 deputados, na nova Assembleia Nacional.
Ao incentivar uma coalizão, Macron usou o termo “bloco republicano”, que implica os principais partidos, exceto os extremistas.
O apelo parece orientado a excluir o Reunião Nacional, da ultradireitista Marine Le Pen, mas também implicitamente a França Insubmissa (LFI, esquerda radical) do polêmico Jean-Luc Melenchon, principal formação da NFP (Nova Frente Popular).
“Ninguém ganhou. Nenhuma força política obteve uma maioria suficiente e os blocos ou coalizões surgidos destas eleições são todos minoritários”, assinalou em sua carta Macron.
A NFP ficou em primeiro lugar com entre 190 e 195 assentos, a aliança de centro-direita de Macron com cerca de 160 e a ultradireita com mais de 140.
O chefe de Estado pediu que “coloquemos nossa esperança na capacidade de nossos líderes políticos de demonstrar senso, harmonia e calma em seu interesse e no do país”, escreveu. “É à luz desses princípios que decidirei sobre a nomeação do primeiro-ministro.”
Macron prosseguiu afirmando na carta que, até lá, o governo atual continuará a exercer suas responsabilidades e estará encarregado dos assuntos correntes, “como é a tradição republicana”, sem deixar claro se ele realmente pretende aceitar a renúncia de Gabriel Attal, atual primeiro-ministro, que prometeu ficar no cargo até o fim das Olimpíadas de Paris.
Diante dos números da NFP, o governo parece dividido entre partidários de uma aliança com Os Republicanos (LR, conservadores) e aqueles que defendem uma ampla coalizão que inclua “os socialdemocratas”.
A aliança de esquerda pretende propor um primeiro-ministro a Macron, mas uma grande parte do partido do presidente rejeita a possibilidade e já está fazendo cálculos.
Os mercados financeiros, a Comissão Europeia e os parceiros da zona do euro da França estão todos observando de perto para ver se o impasse pode ser quebrado.
As opções incluem uma ampla coalizão, um governo minoritário ou um governo tecnocrático liderado por uma pessoa sem filiação política, que buscaria aprovar leis no parlamento caso a caso, com acordos pontuais.
Mas qualquer governo –de esquerda, centro, ou uma coalizão mais ampla– poderia ser rapidamente derrubado por um voto de confiança da oposição se não tivesse garantido apoio suficiente.
Jordan Bardella, do RN, disse que Macron era o culpado pela paralisia política. “E agora sua mensagem é: ‘resolvam algo’. Irresponsável!” ele postou no X, referindo-se à carta de Macron.
A mentora de Bardella, a líder da RN, Le Pen, passou os últimos anos limpando a imagem de um partido antes conhecido por racismo e antissemitismo, e agora deve decidir qual estratégia adotar para vencer as eleições presidenciais de 2027.
Ela tem enquadrado as retiradas táticas como um complô da elite para manter seu partido longe do poder. Na quarta-feira, seu tom se tornou mais duro, quando ela traçou paralelos entre o apelo de um político de esquerda por uma marcha em direção ao gabinete do primeiro-ministro e o ataque ao Capitólio por apoiadores do ex-presidente dos EUA, Donald Trump, em 2021.
INDICAÇÃO DO NOVO PREMIÊ
Aurore Bergé, reeleita no domingo e ministra delegada para a Igualdade de Gênero no governo anterior (equivalente a uma secretária-executiva no Brasil), disse que seu grupo quer se aliar ao LR e a outros parlamentares próximos ao centro.
O ministro do Interior, Gérald Darmanin, que também foi reeleito, disse à CNews que poderia apoiar um “primeiro-ministro de direita”.
O líder parlamentar do LR, Laurent Wauquiez, disse que seu partido elaboraria um “pacto legislativo” que seria proposto a outros grupos.
“Emmanuel Macron persiste na negação e se recusa a aceitar sua derrota”, escreveu Manon Aubry, política da LFI, no X.
A NFP, que inclui ambientalistas, socialistas, comunistas e o LFI, anunciou que proporia um candidato antes do final da semana.
Mélenchon está apoiando a deputada Clémence Guetté, não muito conhecida, mas popular entre os ativistas da esquerda radical. Aos 33 anos, ela oferece uma imagem menos divisiva e mais calma.
O líder socialista mais moderado, Olivier Faure, também disse que estaria “disposto a assumir” o cargo.