Itália investiga naufrágio de superiate como homicídio culposo

Retirada dos destroços do superiate do mar pode ajudar os investigadores a determinar o que aconteceu, mas a operação provavelmente será complexa e cara

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Naufrágio intrigou especialistas navais que dizem que barco deveria ter resistido à tempestade. (Foto: Divulgação/Yacht Charters Fleet)
Naufrágio intrigou especialistas navais que dizem que barco deveria ter resistido à tempestade. (Foto: Divulgação/Yacht Charters Fleet)

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Um promotor italiano abriu investigação por homicídio culposo (sem intenção) e naufrágio negligente pelas sete mortes ocorridas no naufrágio do superiate de luxo Bayesian, que ocorreu na última segunda-feira (19).

O crime de naufrágio negligente, que está sendo apurado, foi um dos delitos pelos quais o capitão do Costa Concordia foi condenado. O navio de cruzeiro naufragou após bater em rochas na ilha toscana de Giglio em 2012, causando a morte de 32 pessoas.

O naufrágio do Bayesian matou o empresário de tecnologia britânico Mike Lynch e sua filha Hannah Lynch, o advogado Christopher Morvillo e sua esposa Neda Morvillo, o executivo de banco Jonathan Bloomer e sua esposa Judy Bloomer, e o chef de cozinha Recaldo Thomas.

O Bayesian afundou na costa da Sicília nas primeiras horas da manhã de segunda-feira. A embarcação estava ancorada no porto de Porticello, quando foi atingida por uma tempestade. Quinze passageiros e tripulantes foram resgatados com vida, incluindo a esposa de Lynch, Angela Bacares.

O chefe da Promotoria Pública de Termini Imerese, Ambrogio Cartosio, anunciou a investigação em uma entrevista coletiva concedida neste sábado (24), mas afirmou que a apuração não está direcionada a uma pessoa específica.

“Não descartamos absolutamente nada. A investigação pode caminhar para um lado ou outro”, comentou Cartosio.

O capitão do Bayesian, James Cutfield, e os outros sobreviventes foram interrogados nesta semana pelas autoridades. Nenhum deles comentou publicamente sobre como o navio afundou.

O promotor Raffaele Cammarano, que também participou da coletiva, disse que quando as autoridades questionaram Cutfield, ele foi “extremamente cooperativo”. Além da apuração na Itália, a Marine Accident Investigation Branch do Reino Unido também está investigando o acidente, já que o Bayesian estava registrado sob bandeira britânica.

A retirada dos destroços do superiate do mar pode ajudar os investigadores a determinar o que aconteceu, mas a operação provavelmente será complexa e cara.

O naufrágio está aparentemente intacto de lado, a uma profundidade de 50 metros. A Guarda Costeira da Itália informou que mergulhadores não encontraram brechas no casco e o mastro estava intacto. A embarcação foi construída em 2008, pesa 540 toneladas e tem 56 m de comprimento.

“É do interesse dos proprietários e gestores do navio resgatá-lo”, disse Cartosio, acrescentando que “eles garantiram sua total cooperação”.
Ele disse que não havia obrigação legal para o capitão, a tripulação e os passageiros permanecerem na Itália, mas as autoridades esperam que os sobreviventes cooperem com a investigação.

O naufrágio intrigou especialistas navais que dizem que um barco como o Bayesian, construído pelo fabricante italiano de iates de alto padrão Perini, deveria ter resistido à tempestade e, em qualquer caso, não deveria ter afundado tão rapidamente.

Algumas testemunhas afirmaram que o iate afundou rapidamente. Já o CEO da fabricante do superiate afirmou que a embarcação era “absolutamente segura”, que o naufrágio durou 16 minutos e que a tripulação teve tempo para retirar todos os passageiros.

Em entrevista ao Financial Times, Giovanni Costantino, diretor-executivo do The Italian Sea Group, que é dono do Perini Navi, responsável pela fabricação do Bayesian, disse que os gráficos de rastreamento do AIS (Sistema de Identificação Automática) mostram que o naufrágio não foi súbito. “A tortura durou 16 minutos. Ele afundou, não em um minuto como alguns cientistas disseram. Ele afundou em 16 minutos”, afirmou.

Ele também levantou a hipótese de alguma escotilha estar aberta incorretamente, o que teria causado a entrada da água na embarcação. As autoridades italianas e britânicas, que estão investigando as circunstâncias do caso, ainda não disseram quando o barco foi tomado pela água, se alguma escotilha estava aberta ou se a tripulação ligou o motor e tentou manobrar para sair do perigo.

O Financial Times afirmou que verificou que os dados do AIS são consistentes com os tempos de Costantino, mas não é possível neste estágio comprovar o que pode ter ocorrido durante esse período.

VÍTIMAS ESTAVAM DORMINDO

Cammarano disse que provavelmente todos os passageiros estavam dormindo no momento da tempestade, o que explica por que sete deles não conseguiram escapar com vida.

Mergulhadores vasculharam o navio submerso durante toda a semana para retirar corpos, sendo o de Hannah Lynch o último a ser recuperado na sexta-feira (23).

Cinco passageiros mortos foram recuperados na quarta (21) e quinta-feira (22), enquanto o corpo do único membro da tripulação que morreu, o chef de bordo Recaldo Thomas, foi localizado já na segunda-feira.

O NAUFRÁGIO

A viagem no Bayesian havia sido planejada como uma celebração da absolvição de Lynch em um processo judicial que demorou 12 anos. Ele foi inocentado por um tribunal de San Francisco (EUA), em junho deste ano, das acusações de inflar as receitas do grupo de software Autonomy, do qual ele era CEO, na venda da companhia para a HP por US$ 11 bilhões em 2011.

Lynch convidou Morvillo, que foi seu advogado no caso, e Bloomer, presidente do conselho de administração do banco Morgan Stanley International e da seguradora Hiscox, que testemunhou em defesa do empresário no tribunal.

Aos 59 anos, Lynch era um dos empresários mais conhecidos do ramo de tecnologia do Reino Unido e acumulava uma fortuna avaliada em 500 milhões de libras (cerca de R$ 3,5 bilhões), de acordo com a última lista de milionários do jornal Sunday Times.

Apelidado de “Bill Gates do Reino Unido”, Lynch tinha formação em Cambridge, foi condecorado com a Ordem do Império Britânico –honraria para pessoas que contribuíram de alguma forma para a sociedade– pelo trabalho dedicado ao empreendedorismo do país em 2006. Em 2012, fundou o grupo de capital de risco Invoke Capital.

Nos trabalhos de resgate, os mergulhadores usaram drones subaquáticos, que conseguiram acessar parte da embarcação e ajudar na localização dos corpos. De acordo com o Corpo de Bombeiros local, a operação foi “longa e delicada” e envolveu mais de 400 pessoas, incluindo 28 mergulhadores, além de helicóptero, motos aquáticos e dezenas de barcos.

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