MAYARA PAIXÃO
A tendência de queda no número de imigrantes que cruzam o estreito de Darién, a chamada “selva da morte” entre a Colômbia e o Panamá usada como trecho da rota terrestre para chegar aos Estados Unidos, foi revertida em setembro pelo aumento de venezuelanos que emigram após a contestada reeleição do ditador Nicolás Maduro.
Ao longo do mês, 25,1 mil imigrantes cruzaram o estreito, segundo as cifras que o governo do Panamá detalhou à reportagem por telefone nesta sexta-feira (11). Destes, 19,8 mil (75%) são venezuelanos. Houve um aumento de 50% em relação ao registrado em agosto.
Os números na selva da morte vinham diminuindo sob a batuta do novo presidente panamenho, José Raúl Mulino, um ex-ministro de Segurança que outrora atuou na linha de frente da expulsão de guerrilheiros colombianos dessa selva inóspita.
Mulino assinou acordo com os EUA de Joe Biden, que passaram a financiar voos de deportações de imigrantes que estavam no Panamá.
Mas o cenário projetado para a Venezuela após as contestadas eleições de Maduro em 28 de julho, quando o ditador foi anunciado reeleito para mais seis anos no poder sem prova dos votos, reabriu em todas as Américas o temor da intensificação de uma nova crise migratória.
O primeiro sinal da intensificação do fluxo foi observado em outra porta de saída da Venezuela: o Brasil. O número de imigrantes que cruzam a fronteira com Pacaraima (RR) cresceu desde agosto, com médias diárias que agora às vezes passam de 500 imigrantes.
Já há um mês as cifras diárias, que antes eram compartilhadas pela Polícia Federal (PF) com organizações internacionais que atuam na área, não são mais disponibilizadas.
A reportagem apurou que houve desentendimento entre as partes, e agora organizações ligadas à ONU tentam viabilizar nova liberação de dados com a PF. Enquanto isso, a transparência fica prejudicada.
Seja como for, os fluxos têm se intensificado. Muitos imigrantes dizem que esperaram até a eleição presidencial para ver se algo na conjuntura do país se alterava, com a expectativa de uma mudança na economia cronicamente em crise e nas liberdades democráticas, aos poucos suprimidas. Com Maduro incrustado no poder, a esperança se esvaiu.
Para a selva de Darién, os números de imigrantes vinham em tendência de queda com a linha-dura do presidente Mulino. De 36 mil imigrantes que cruzaram o estreito no primeiro mês do ano, o dado havia passado a 16,6 mil em agosto. Foi o menor número mensal desde julho de 2022.
Pode-se projetar que a tendência de alta seguirá em outubro. Nos primeiros oito dias do mês, ainda segundo o Ministério da Segurança disse, 6,6 pessoas cruzaram a selva, sendo 5,7 mil da Venezuela.
É como se agora 710 venezuelanos atravessassem a inóspita e mortal floresta a cada dia, número maior que o dos que cruzavam a cada dia de setembro (660).
A Venezuela tem a maior diáspora do mundo para um país que não está em guerra. São mais de 7,7 milhões de venezuelanos fora do país.