Esquerda e direita marcam empate técnico na disputa pela Presidência do Uruguai
Dianteira do candidato da Frente Ampla, pupilo de José "Pepe" Mujica, foi reafirmada em praticamente todas as pesquisas dessa campanha eleitoral
MAYARA PAIXÃO – BUENOS AIRES, ARGENTINA (FOLHAPRESS) – A menos de duas semanas do segundo turno das eleições no Uruguai, Yamandú Orsi, o candidato da coalizão de esquerda Frente Ampla, e Álvaro Delgado, do governista Partido Nacional, estão em empate técnico, aponta pesquisa da respeitada consultoria Opción.
O levantamento foi o primeiro divulgado desde que os uruguaios foram às urnas no primeiro turno, no último dia 27. Ainda que amplamente celebrado pelos frente-amplistas em público, demanda cautela: há um cenário altamente competitivo, como descreve a própria Opción.
Ex-governador de Canelones, nos arredores da capital Montevidéu, Orsi aparece numericamente à frente no levantamento realizado por telefone com 1.150 pessoas entre os dias 4 e 9 deste mês.
O professor de história soma 48,5% das intenções de voto, ante 45,1% de Delgado, ex-secretário da Presidência do atual líder, Luis Lacalle Pou. Considerada a margem de erro de 2,3 pontos, eles estão empatados. O segundo turno ocorre no próximo dia 24.
A dianteira do candidato da Frente Ampla, pupilo de José “Pepe” Mujica, foi reafirmada em praticamente todas as pesquisas dessa campanha eleitoral. Nas últimas, porém, era menor o espaço entre aqueles que dizem preferi-lo e os que dizem o mesmo sobre Álvaro Delgado.
É um logro para o candidato governista, que tinha como uma de suas principais tarefas fidelizar os apoiadores de partidos como o Colorado, o Independente e o Cabildo Aberto. Delgado é do Partido Nacional, que historicamente atua em bloco com essas outras siglas no Congresso, formando a chamada Coalizão Republicana (ou multicolor).
Ainda assim, há uma pequena parcela dos eleitores da aliança republicana que afirma que apoiará a Frente Ampla. A mesma pesquisa da Opción aponta que 12% desses votantes irão com a esquerda, enquanto a maioria, de 82%, dará apoio a Delgado.
No primeiro turno, que transcorreu sem surpresas no pequeno país sul-americano, Yamandú Orsi acumulou 43,94% da preferência do eleitor, enquanto Álvaro Delgado, 26,77%. No mesmo dia, o candidato governista fez um grande ato em Montevidéu ao lado dos líderes de outros partidos que tentaram a Presidência naquele momento, mas depois prontamente se somaram em seu apoio para o segundo turno.
Se a esquerda conseguir superar esse cenário competitivo, o próximo mês de março -quando ocorre a posse presidencial- marcará o retorno da Frente Ampla ao poder após uma janela de interrupção de cinco anos com Lacalle Pou, 51, de centro-esquerda. Pela Constituição, ele não poderia tentar se reeleger de maneira consecutiva.
A aliança fundada em 1971, pouco antes de ter inicio a ditadura militar da qual o país só se livraria em 1985, governou por 15 ininterruptos anos com Tabaré Vazquez (2005-2010; 2015-2020) e Pepe Mujica (2010-2015). Lacalle Pou rompeu esse domínio ao ser eleito em 2019, mas ainda não se sabe se Delgado conseguiu atrair o capital político do presidente, que agora goza de celebrados 50% de aprovação.
Os candidatos esperavam que do primeiro turno saísse uma nova configuração para Câmara de Deputados e Senado que favorecesse algum candidato com uma clara maioria para que pudesse pedir o voto à população em prol de maior governabilidade. Não foi o que ocorreu.
A Frente Ampla conseguiu uma estreitíssima maioria no Senado (16 de 30 cadeiras). Já na Câmara, ninguém reuniu maioria. A Frente terá 48 das 99 cadeiras da Casa. Já a Coalizão Republicana somará 49 assentos. Dois deputados farão parte do partido antissistema Identidade Soberana. Seu líder, Gustavo Salle, será a peça-chave para quem quiser obter maioria em votações. Ele prometeu anular o voto no segundo turno. Antivacinas, diz que todos os políticos são corruptos.