GUILHERME BOTACINI
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou nesta quarta (29) novo decreto que vai ordenar a preparação de uma instalação na prisão de Guantánamo, na ilha de Cuba, para receber 30 mil imigrantes ilegais detidos em solo americano.
“Temos 30 mil camas em Guantánamo para deter os piores criminosos e estrangeiros ilegais ameaçando o povo americano. Alguns deles são tão maus que não confiamos nos países para segurá-los, porque não queremos que eles voltam. Isso vai dobrar nossa capacidade imediatamente. É um lugar difícil de sair”, disse Trump em evento na Casa Branca anunciando as novas medidas.
“Se você olha a Venezuela, o crime lá caiu 77% porque eles pegaram os membros de gangues, prisioneiros, traficantes e mandaram todos eles para os EUA”, afirmou ainda o republicano.
Criada em 2002 durante a gestão de George W. Bush e nos desdobramentos do ataque terrorista do 11 de Setembro, a prisão que fica em um pedaço de território americano na ilha de Cuba ficou conhecida por práticas de tortura e se tornou grande dor de cabeça para as administrações subsequentes.
A Folha de S.Paulo esteve na base militar americana em fevereiro do ano passado. Lá, acompanhou o depoimento do psicólogo James Mitchell, apontado como uma das mentes por trás das chamadas “técnicas avançadas de interrogatório” usadas pela CIA em prisões secretas pelo mundo, conhecidas como “black sites”, nos primeiros anos da Guerra ao Terror.
O termo técnico engloba práticas como waterboarding (afogamento simulado), walling (bater a cabeça de uma pessoa contra a parede) e privação de sono por dias. Alguns prisioneiros foram submetidos também a “hidratação retal” -inserção de líquidos pelo ânus por meio de um tubo, caracterizada como estupro por advogados.
As práticas foram banidas por Barack Obama (2009-2017), que admitiu se tratar de tortura. O ex-presidente tentou fechar a prisão durante seu mandato, mas fracassou. Durante o primeiro governo de Trump (2017-2021), o republicano não continuou os esforços, e chegou a dizer que liberaria novamente o waterboarding; depois, voltou atrás. Biden retomou a defesa do fim de Guantánamo, mas não deu à pauta a mesma prioridade que Obama.
Trump anunciou a medida nesta quarta durante assinatura da lei Laken Riley, primeira lei aprovada pelo Congresso que o republicano sanciona. Riley é uma estudante da Geórgia assassinada por um imigrante em situação irregular posteriormente condenado à prisão perpétua -o caso foi combustível da retórica anti-imigração da campanha de Trump e aliados no Congresso.
De acordo com o texto, autoridades federais serão obrigadas a prender qualquer imigrante detido ou acusado por crimes como roubo, agressões ou assassinatos.
A lei também dá poder a procuradores estaduais a processo o governo federal por danos a pessoas ou estados decorrentes de falhas na execução da política migratória.