RAPHAEL DI CUNTO
Presidente interino do PT, o senador Humberto Costa (PE) afirmou à Folha que é um “defensor intransigente” de Fernando Haddad e que não fará embates públicos com o ministro da Fazenda, uma das marcas da gestão de sua antecessora, a deputada federal Gleisi Hoffmann (PT-PR).
“Não tenho grandes pretensões de me envolver nesse tipo de debate. Sou apoiador do trabalho do ministro Fernando Haddad, entendo que ele está fazendo uma gestão econômica muito boa. Não vai ser meu papel, com essa provisoriedade, essa interinidade, querer me meter a dar grandes opiniões sobre essas coisas”, disse.
A gestão de Gleisi ficou marcada por divergências sobre medidas de ajuste fiscal defendidas por Haddad para equilibrar as contas públicas. Ela sustentava que o partido precisava “fazer o debate de ideias” e que era função do PT ajudar a puxar o governo para a esquerda, já que o presidente Lula foi eleito por uma frente ampla.
O PT, por exemplo, recomendou no ano passado que as bancadas avaliassem “com profundidade” e debatessem com o governo os impactos do projeto de lei que mudava regras de acesso ao BPC (Benefício de Prestação Continuada), auxílio pago a idosos e pessoas com deficiência de baixa renda. O texto acabou desidratado.
Gleisi se afastará da presidência do PT para assumir na segunda-feira (10) como ministra da Secretaria de Relações Institucionais e ficará responsável pelas negociações políticas do governo Lula. Ela entra no lugar de Alexandre Padilha (PT), deslocado para o cargo de ministro da Saúde.
Na sexta (7), a Comissão Executiva Nacional do PT escolheu Costa para o posto de comando do partido até 6 de julho, quando ocorrerá a eleição interna na qual os filiados vão escolher os novos presidentes municipais, estaduais e nacional.
O presidente interino do PT afirma que não sairá candidato, apesar das divergências entre os grupos do partido sobre a eleição. As disputas ocorrem inclusive na própria corrente de Costa, a CNB (Construindo um Novo Brasil), grupo ao qual pertencem Lula, Haddad e Gleisi.
O favorito de Lula para comandar a sigla é o ex-prefeito de Araraquara Edinho Silva (PT), da CNB, mas outros grupos da corrente querem disputar o cargo, como o líder do governo na Câmara, deputado José Guimarães (CE). Existem também alas mais à esquerda com outros candidatos.
“Não tenho essa pretensão de disputar. Nem neste momento nem para o próximo momento. Sou presidente interino. Vou até o começo de julho e vou apoiar, naturalmente, algum candidato a presidente com o qual eu tenha identidade”, disse ele à Folha.
Apesar de antecipar que não fará embates públicos com Haddad, numa conduta diferente daquela adotada por Gleisi, Costa elogiou a postura dela e disse que todos “vão se surpreender” no ministério. “Ela é uma pessoa aberta ao diálogo, capaz de encontrar entendimentos”, disse o senador.
Ele concorda que o partido deve se posicionar sobre as questões que envolvem o governo e a política econômica, mas antecipa que optará por uma postura mais discreta para fazer a transição. “Eu tenho minha posição. Sou defensor intransigente do ministro Haddad, mas isso não vai estar no nosso radar nesse período”, disse.
As prioridades de Costa em quatro meses no cargo serão organizar a eleição interna, estimular a entrada de novos filiados e defender a aprovação, pelo Congresso, da redução da jornada de trabalho e da ampliação da faixa de isenção de Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5.000.
“Neste tempo, vai ser muita mobilização para pressionar o Congresso a aprovar essas medidas”, disse o parlamentar, que aponta resistências de parte da sociedade a essas matérias.
A estratégia é contar com a participação de parlamentares, centrais sindicais, movimentos estudantis e sociais para divulgar e defender esses projetos. Ele também pretende utilizar a propaganda partidária do PT na televisão e rádio para divulgar as propostas.