Professor pede demissão de colégio militar após pais não gostarem do conteúdo que ele passou para os alunos

Caso teve forte repercussão e ocasionou até mesmo pressões internas na escola

Isabella Valverde Isabella Valverde -
Professor pede demissão de colégio militar após pais não gostarem do conteúdo que ele passou para os alunos
Alunos em sala de aula. (Foto: José Cruz/Agência Brasil)

O professor César Augusto Mendes Cruz, doutorando em História, pediu demissão da Escola Municipal Major Olímpio, que segue o modelo cívico-militar, em Ilhabela, no litoral de São Paulo, após enfrentar uma crise institucional por ministrar uma aula sobre o conceito de tempo a partir da mitologia africana e grega para uma turma do sexto ano.

A atividade era simples e tinha o objetivo de explorar diferentes visões de cultura sobre o tempo. No entanto, o que era para ser mais uma aula simples acabou se tornando motivo de revolta para os pais dos alunos e até mesmo para um vereador local, que não gostaram do conteúdo que estava sendo passado.

O caso teve forte repercussão e ocasionou até mesmo pressões internas na escola.

Professor pede demissão de colégio militar após pais não gostarem do conteúdo que ele passou para os alunos

Na ocasião em que tudo aconteceu, César havia proposto para os estudantes uma reflexão sobre o tempo como construção cultural.

Para isso, o professor utilizou como exemplo o mito iorubá de Irokô, que representa o tempo como uma entidade espiritual na tradição africana, assim como Cronos, que na mitologia grega devorava os filhos para não perder o trono.

A aula teria ainda incluído três obras de arte que retratavam o tempo como figura masculina idosa, sendo uma delas uma pintura de Goya, além da música “Oração ao Tempo”, de Caetano Veloso.

Vereador não aceitou 

Mesmo a aula estando em conformidade com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e com a Lei 10.639/2003, o vereador Gabriel Rocha (PL) não aceitou muito bem e fez duras críticas.

Durante discurso na Câmara, ele chegou a citar a obra “Saturno devorando um filho”, de Francisco Goya, alegando que ela era perturbadora e não deveria ser voltada para crianças.

Revoltado com a situação, o parlamentar chegou a dizer que o professor teria intenções questionáveis, querendo causar revolta entre os pais dos estudantes e nas redes sociais.

Demissão 

Diante de tudo que estava acontecendo, César foi chamado para uma reunião com membros da Secretaria Municipal de Educação.

Sem testemunhas ou acesso posterior aos registros da conversa, ele teria sido pressionado e questionado por autoridades escolares sem respaldo formal.

Então, se sentindo exposto e sem qualquer apoio, ele decidiu pedir o desligamento da instituição de ensino.

César chegou a ficar doente por tudo que viveu e, em sua defesa, relatou ser sido vítima de perseguição ideológica. Por outro lado, a Secretaria de Educação disse apenas que orientou o professor sobre linguagem mais adequada para a faixa etária.

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