O que cura nem sempre está na receita
Em meio a tantas fichas, protocolos e metas, corre-se o risco de não ver o essencial: a história por trás da dor, o contexto por trás do sintoma


Em quase 20 anos de medicina, entre plantões, emergências e longas conversas com pacientes, aprendi algo que nenhum livro ensina: às vezes, o que mais alivia a dor não é o remédio. É ser escutado.
Estou visitando unidades de saúde da nossa cidade, e vejo o quanto nossos profissionais seguem firmes, mesmo em meio a limitações. A rotina é dura. São jornadas longas, estruturas por vezes insuficientes e uma demanda que só cresce. E, ainda assim, milhares de vidas são acolhidas todos os dias por homens e mulheres que escolheram cuidar.
Mas confesso que algo me chamou atenção: a pressa que o sistema nos impõe tem roubado um bem silencioso — O TEMPO DA ESCUTA. Em meio a tantas fichas, protocolos e metas, corre-se o risco de não ver o essencial: a história por trás da dor, o contexto por trás do sintoma.
Essa reflexão não é um julgamento. É um convite. Um convite para que, enquanto buscamos mais recursos, tecnologia e eficiência, também preservemos a humanidade do encontro. Um toque, um olhar, uma palavra, pequenos gestos que têm valor incalculável.
Porque no fim, o que fica na memória do paciente não é só a medicação prescrita na receita e o CID impresso no atestado, mas a sensação de ter sido ouvido… ou ignorado. É isso.