Balada nudista invade ônibus em São Paulo, e organizador cogita edição em helicóptero
Embarcaram casados e solteiros. Idosos e novinhos. Héteros e bissexuais. Cis e trans. No veículo, nada disso importava. Todos eram iguais e ninguém era de ninguém

BRUNO LUCCA
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Um ônibus saiu lotado da zona sul de São Paulo rumo ao centro. A cena pareceria comum, não fosse por um detalhe: os passageiros estavam pelados.
Ocorre que nele ocorria a Nu Busão, uma festa de pegação para nudistas. Às 23h deste sábado (23), o coletivo saiu de Moema, seguiu rumo ao Pacaembu, passou pela avenida Paulista e voltou ao ponto de partida pela Ibirapuera. Foram 3 horas de percurso com 60 pessoas a bordo.
Nesse período, todo mundo esteve atento a cada curva e buraco.
Organizado pela casa de swing Spicy Club, o evento foi anunciado como pioneiro. Nunca um ônibus com várias pessoas fazendo sexo havia saído pela cidade. Uma van, sim. Um carro também. Talvez até uma moto. Porém, nunca um ônibus, afirma Adriana Manguilla, uma das promotoras e participantes.
Junto a ela, embarcaram casados e solteiros. Idosos e novinhos. Héteros e bissexuais. Cis e trans. No veículo, nada disso importava. Todos eram iguais e ninguém era de ninguém.
Essa, inclusive, é a política da Spicy, o mais democrático ambiente liberal da cidade. Diferente da concorrência, o estabelecimento permite e incentiva a entrada de LGBTs e homens desacompanhados, por exemplo.
A política foi instaurada pelo proprietário, Fábio Leandro. À reportagem, ele opina que o swing como negócio deve acompanhar as mudanças da sociedade. Por isso, seu estabelecimento abraça todas as tendências, assim como todos os fetiches.
“Pensando em fazer uma suruba num helicóptero da próxima vez. Vai ter quórum”, revela.
Além da festa para nudistas, a casa produz noites de ménage, BDSM -conjunto de práticas sexuais que envolvem dinâmicas de poder, controle e restrição-. e exibicionismo, para gays, lésbicas e criadores de conteúdo. Difícil é não encontrar seu nicho.
Neste sábado, para entrar no ônibus dos pelados, a passagem custava R$ 130 para mulheres sozinhas. Homens desacompanhados pagaram R$ 250. Já os casais, deixaram R$ 280.
Um dos presentes, Thomas, um agente federal, quis ir com a namorada para pagar menos. Ela, no entanto, desistiu na última hora. O nudista, que descobriu a prática por meio de amigos e nunca mais abandonou, foi escondido. Gastou mais, mas fez valer a pena, afirma.
A companheira, pensa, vai ficar com ciúmes quando descobrir seu passeio. E daí?, indaga, por agora ele está leve demais para pensar nas consequências.
Por fora, o ônibus parecia normal. Vidros escuros e um motorista sereno na direção, que não passava dos 20 km/h. Por dentro, a música abafava qualquer grito, luzes neon destacavam bancos de couro e dois enormes aparelhos de ar-condicionado, de tão fortes, arrepiavam a todos e causavam timidez em alguns homens.
Nem só de pegação viveu quem circulou no Nu Busão. Também houve um serviço turístico, comandado pela guia Laudine de Oliveira.
Enquanto o veículo rodava pelas ruas e avenidas, ela apresentava os principais atrativos da cidade aos passageiros. Estes, porém, preferiam explorar outras áreas.
A volta ao Spicy Club, por volta das 2h deste domingo (24), não significou o fim da festa. Na casa, o after estava garantido até as 6h, e a melhor parte é que ninguém precisou se preocupar com a roupa.