As palavras mais longas (e curiosas) da língua portuguesa, segundo o dicionário

Um mergulho curioso nos “monstros lexicais” do nosso idioma

Anna Júlia Steckelberg Anna Júlia Steckelberg -
Autor do Dicionário Aurélio elege a palavra mais bonita da língua portuguesa
(Foto: Reprodução/Marcos Santos/USP Imagens)

No alvorecer da lexicografia em língua portuguesa, dicionaristas enfrentavam um dilema: o português tinha estrutura rica e flexível o suficiente para permitir criações léxicas absurdamente longas — mas até onde isso era tolerado pelos rígidos critérios de registro lexical? Alguns termos ficaram apenas no papel; outros atravessaram as páginas dos dicionários e chegaram ao nosso espanto.

Essa tensão entre potencial criativo e reconhecimento oficial é o pano de fundo para descobrirmos hoje as palavras mais longas (e curiosas) que podemos consultar nos dicionários da língua portuguesa.

As palavras mais longas (e curiosas) da língua portuguesa, segundo o dicionário

A campeã, segundo o Dicionário Houaiss, é pneumoultramicroscopicossilicovulcanoconiótico, com 46 letras, descrito como “indivíduo portador de doença pulmonar causada pela inspiração de cinzas vulcânicas”.

Embora raríssimo no uso cotidiano, o termo é frequentemente destaque em listas de curiosidades linguísticas — inclusive porque sua “versão original” está relacionada ao termo inglês pneumonoultramicroscopicsilicovolcanoconiosis.

Se fosse proibido usar termos técnicos, o título de palavra mais longa “usável” recai sobre anticonstitucionalissimamente, com 29 letras, advérbio que significa “de maneira extremamente anticonstitucional”.

Em seguida vêm oftalmotorrinolaringologista (28 letras), que designa o médico que cuida de olhos, nariz e garganta, e inconstitucionalissimamente (27 letras) — essa já sem o prefixo “anti”, mas ainda carregada de complexidade.

Nos dicionários especializados (por exemplo, de medicina ou química), surgem ainda termos impressionantes: paraclorobenzilpirrolidinonetilbenzimidazol, com 43 letras, aparece como nome técnico químico.

Também são mencionadas tetrabrometacresolsulfonoftaleína (37 letras), respingos de aglutinações capazes de empurrar o limite léxico.

E mais: a fobia de pronunciar termos longos ganhou sua própria palavra — hipopotomonstrosesquipedaliofobia, com 33 letras.

Mas atenção: mesmo essas “superpalavras” têm restrições. Dicionários maiores como o Houaiss aceitam ou registram termos técnicos arcabouços, enquanto dicionários gerais priorizam palavras com algum uso efetivo — por isso, muitos termos gigantescos nunca entram no léxico cotidiano.

Descobrir essas palavras é um convite para refletir sobre o poder da morfologia da língua portuguesa: prefixos, sufixos e radicais se combinam com liberdade, mas o reconhecimento lexicográfico mantém freios para que o inven­tário vocabular siga acionável e compreensível.

Afinal, nosso desafio cotidiano é usar a língua para comunicar — não para testar pulmões ou resistência de pronúncia. Mas a curiosidade sempre nos leva a esses extremos — e é bom que seja assim.

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Anna Júlia Steckelberg

Anna Júlia Steckelberg

Jornalista formada pela Universidade Federal de Goiás. Colabora com Portal 6 desde 2021.

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