Bolsa renova recorde histórico, e dólar recua para R$ 5,3702 após encontro entre Lula e Trump

Perspectiva de uma desescalada nas tensões comerciais entre os Estados Unidos e o Brasil deu otimismo aos operadores

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Lula e Trump se reuniram na Malásia. (Foto: Ricardo Stuckert/PR)
Lula e Trump se reuniram na Malásia. (Foto: Ricardo Stuckert/PR)

TAMARA NASSIF

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O Ibovespa avançou 0,55% nesta segunda-feira (27) e fechou em 146.969 pontos – novo recorde histórico de fechamento.

Antes, a marca anterior pertencia ao último dia 24 de setembro, quando o principal índice da Bolsa brasileira chegou a 146.491 pontos. O recorde de maior valor já atingido durante o período de negociações também foi renovado neste pregão, a 147.969 pontos, pouco depois da abertura.

O fôlego do mercado acionário seguiu a reunião entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Donald Trump no último domingo. A perspectiva de uma desescalada nas tensões comerciais entre os Estados Unidos e o Brasil deu otimismo aos operadores, inclusive no câmbio: o dólar fechou em queda de 0,41%, cotado a R$ 5,3702. Na mínima, encostou em R$ 5,360.

Lula e Trump se encontraram em Kuala Lumpur, na Malásia, onde participaram como convidados da cúpula da Asean (Associação das Nações do Sudeste Asiático).

Segundo membros do governo, Trump estava aberto a Lula e entendeu pontos importantes, acolhendo a demanda de urgência das negociações, e o encontro foi visto como extremamente positivo.

“O presidente Trump declarou que dará instruções a sua equipe para que comece um processo, um período de negociação bilateral que deve se iniciar hoje ainda [manhã desta segunda no Brasil], porque é para ser tudo resolvido em pouco tempo”, disse o chanceler Mauro Vieira. O pedido para que os negociadores dos dois governos falassem no mesmo dia veio de Lula e foi acolhido por Trump.

“O diálogo foi franco, o presidente Lula deixou claro que a motivação utilizada pelos Estados Unidos para elevar tarifas para o restante do mundo não se aplica ao Brasil por causa do superávit da balança comercial para os Estados Unidos. Disse e repetiu isso diversas vezes.”

Nesta segunda, Trump desejou feliz aniversário a Lula enquanto falava sobre a chance de ser feito um acordo pela redução das tarifas do Brasil.

O republicano não antecipou se será possível fazer um acerto, mas voltou a elogiar a reunião que teve com o petista na Malásia e o chamou de “vigoroso”.

“Tivemos uma boa reunião. Vamos ver o que acontece. Não sei se alguma coisa vai acontecer, mas vamos ver. Eles gostariam de fazer um acordo. Vamos ver —agora eles estão pagando acho que 50% de tarifa. Mas tivemos uma ótima reunião”, disse Trump, durante entrevista a jornalistas a bordo do seu avião presidencial.

“E feliz aniversário. Quero desejar um feliz aniversário ao presidente, certo? Hoje é o aniversário dele. Ele é um cara muito vigoroso, na verdade, e foi muito impressionante, mas hoje é o aniversário dele, então feliz aniversário”, completou o presidente americano.

Já Lula afirmou que está convencido de que nos próximos dias o Brasil terá uma solução em relação às tarifas impostas por Donald Trump e que o encontro serviu para esclarecer equívocos.

“Ele garantiu que vai ter acordo”, declarou, referindo-se a Trump.

A estimativa é que uma resolução seja alcançada nas próximas semanas.

Na análise de Ricardo Trevisan Gallo, CEO da Gravus Capital, o encontro representa um passo necessário para desescalar tensões que já afetaram setores importantes do mercado brasileiro. Para os investidores, no entanto, trata-se de uma oportunidade, e não de uma solução automática.

A concretização desses avanços depende da etapa de negociações e, sobretudo, “da capacidade do Brasil de transformar essa janela diplomática em sinais concretos de previsibilidade econômica”, diz ele.

“Se as equipes conseguirem um acordo com suspensão temporária de tarifas e caminhos claros para retirada gradual, veremos redução do prêmio de risco e janelas de compra atrativas; se ficar apenas no simbólico, a incerteza continuará comprimindo ativos e investimentos.”

Ainda assim, o mercado viu o encontro com otimismo. Mesmo dependendo do avanço das negociações, a leitura dos investidores é que os dois países estão a caminho de uma solução para o conflito comercial —seja pela total eliminação das sobretaxas de 50% a produtos brasileiros, seja por uma diminuição da alíquota.

Um possível acordo entre Estados Unidos e China também aumentou o apetite por ativos de risco nesta sessão.

Trump afirmou que os dois países estão prontos para alcançar uma solução para o recente impasse sobre as exportações chinesas de terras raras, restringidas no começo do mês pelo governo Xi Jinping.

Trump, em resposta, ameaçou a imposição de sobretaxas de 100% sobre produtos chineses. Os dois líderes devem se encontrar no final desta semana na Coreia do Sul.

“Tenho muito respeito pelo presidente Xi e acho que chegaremos a um acordo”, disse Trump, ao sair da Malásia. “A China está chegando e será muito interessante.”

Além do tarifaço, o mercado se posicionou à espera da decisão de juros do Fed (Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos) nesta semana.

O comitê de política monetária do Fed (Fomc, na sigla em inglês) se reúne terça e quarta-feira para decidir sobre os juros norte-americanos. A expectativa é por mais um corte na taxa, hoje em 4% e 4,25%, dando continuidade à redução da reunião anterior. Operadores precificam quase 100% de probabilidade de um novo corte de 0,25 ponto percentual no próximo encontro, segundo a ferramenta CME FedWatch.

Os dados de inflação de sexta-feira passada (24) reforçaram a perspectiva. O CPI (índice de preços ao consumidor, na sigla em inglês) alcançou 3% no acumulado de 12 meses até setembro —uma aceleração em relação aos 2,9% de agosto, mas abaixo das expectativas de 3,1% de economistas consultados pela Bloomberg.

Para Eswar Prasad, economista da Universidade Cornell, o número da inflação “praticamente garante” um corte na taxa de juros na próxima reunião do Fed.

Isso porque o BC dos EUA vê como mais arriscado a desaceleração do mercado de trabalho do que um repique inflacionário, e essa leitura deverá se manter no próximo encontro.

Reduções nos juros dos Estados Unidos costumam ser uma boa notícia para os mercados globais. Como a economia norte-americana é vista como a mais sólida do mundo, os títulos do Tesouro, chamados de “treasuries”, são um investimento praticamente livre de risco. Quando os juros estão altos, os rendimentos atrativos das treasuries levam operadores a tirar dinheiro de outros mercados. Quando eles caem, a estratégia de diversificação vira o norte, e investimentos alternativos ganham destaque.

Em relação ao Brasil, há ainda mais um fator que favorece os ativos domésticos: o diferencial de juros. Quando a taxa nos Estados Unidos cai e a Selic permanece em patamares altos, investidores se valem da diferença de juros para apostar na estratégia de “carry trade”. Isto é: toma-se empréstimos a taxas baixas, como a americana, para investir em mercados de taxas altas, como o brasileiro. O aporte aqui implica na compra de reais, o que desvaloriza o dólar.

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