A casa sem cimento e sem pedreiro que duas pessoas montaram em menos de uma semana

Tecnologia belga permite erguer uma casa de dois andares com blocos que se encaixam como Lego, reduzindo custos, tempo de obra e desperdício

Isabella Valverde Isabella Valverde -
A casa sem cimento e sem pedreiro que duas pessoas montaram em menos de uma semana
(Foto: Reprodução)

Em apenas cinco dias, duas pessoas conseguiram levantar a estrutura completa de uma casa de dois pavimentos sem usar cimento, sem barulho de betoneira e sem depender de uma equipe de pedreiros.

O feito, que parece mais um truque de vídeo viral, na verdade representa uma tendência crescente no setor da construção civil: a adoção de sistemas modulares pré-fabricados que prometem transformar o jeito de construir.

O conceito mais conhecido desse tipo é o Gablok, criado por um arquiteto belga que buscava simplificar obras, reduzir atrasos e tornar o processo mais sustentável.

Como nasceu o sistema que lembra peças de Lego

O método foi desenvolvido por Gabriel Lakatos, profissional com mais de 20 anos de experiência na construção tradicional.

Incomodado com o desperdício de materiais e a imprevisibilidade do orçamento, ele passou a idealizar um sistema de blocos de madeira isolados que pudessem ser montados por encaixe, dispensando argamassa.

A ideia começou a ser trabalhada em 2018 e logo recebeu patente internacional. Dessa iniciativa nasceu a empresa Gablok, que hoje fornece kits de autoconstrução principalmente na Bélgica e em outros países europeus.

O processo funciona assim: o cliente envia a planta da casa, a empresa adapta o projeto ao módulo dos blocos, corta todas as peças em fábrica e entrega um kit numerado junto com um manual detalhado.

Do que são feitos os blocos e por que eles são tão leves

Os blocos não são de madeira maciça. Eles combinam painéis de OSB, feitos com fibras prensadas, e um núcleo de EPS com grafite, que aumenta a eficiência térmica.

O resultado é uma peça leve, entre 7 e 9 kg, fácil de transportar, empilhar e reposicionar sem a necessidade de maquinário pesado.

O kit inclui blocos retos, de canto, travas, vergas e peças específicas para portas, janelas e pavimentos superiores. O encaixe é preciso, dispensando qualquer camada de cimento entre as fiadas.

Como funciona a montagem da casa

Embora pareça simples como montar um brinquedo gigante, o processo começa pela fundação, que segue normas tradicionais e deve ser aprovada por um engenheiro.

Com a base pronta, entra o kit Gablok: duas ou três pessoas, munidas de nível, escada e parafusadeira, conseguem erguer rapidamente as paredes externas e internas.

Casas de aproximadamente 100 m² têm sua estrutura montada em cinco ou seis dias, segundo relatos de usuários.

Depois dessa etapa, entram as fases tradicionais: telhado, esquadrias, instalações elétricas e hidráulicas e os revestimentos finais. A grande economia está justamente na rapidez da alvenaria modular.

Isolamento térmico e conforto acústico acima da média

O sistema se destaca pelo desempenho térmico. Estudos mostram que uma parede feita com os blocos alcança um valor U de cerca de 0,15 W/m²K, melhor do que o exigido em muitos países europeus. Isso significa menor perda de calor no inverno e menor ganho térmico no verão — o que reduz a dependência de sistemas de aquecimento ou ar-condicionado.

Em relação ao som, pesquisas indicam que sistemas leves de madeira com isolamento interno podem atingir níveis de conforto comparáveis aos de paredes de alvenaria, desde que os acabamentos sejam aplicados corretamente.

Sustentabilidade e redução de resíduos

Outra vantagem é o baixo impacto ambiental. Como todas as peças são fabricadas sob medida, o canteiro de obras produz pouquíssimo entulho. O OSB utiliza madeira de reflorestamento e aproveita lascas que seriam descartadas. Já o EPS com grafite é reciclável e demanda menos água e energia para ser produzido.

Revisões acadêmicas apontam que sistemas como o Gablok podem reduzir em até 30% as emissões de carbono da fase de obra em comparação à construção convencional.

Economia de tempo e custos menores

Estimativas europeias indicam que construir com esse sistema pode ficar até 30% mais barato do que uma obra tradicional — especialmente quando o próprio cliente participa da montagem. Como não há espera pela cura de concreto ou secagem de reboco na fase estrutural, o cronograma é muito mais rápido e com menos chance de atrasos.

Limitações e cuidados necessários

O método, porém, não é uma solução universal. É preciso atenção com a fundação, controle de umidade, proteção contra incêndios e compatibilização do projeto com o tamanho dos blocos. Além disso, a autoconstrução não dispensa profissionais: engenheiros e arquitetos continuam essenciais para garantir segurança e aprovação legal.

Tendência global para o futuro

Fabricados hoje na Bélgica e distribuídos principalmente na Europa, os blocos ainda dependem de parcerias para chegar a outros continentes. Mesmo assim, o conceito representa uma mudança importante no setor: obras mais rápidas, industrializadas, com menos desperdício e maior precisão técnica.

Montar uma casa como se fosse Lego já não é apenas uma metáfora — é uma forma real e crescente de construir.

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Isabella Valverde

Isabella Valverde

Jornalista formada pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás, com passagens por veículos como a TV Anhanguera, afiliada da TV Globo no estado. É editora do Portal 6 e especialista em SEO e mídias sociais, atuando na integração entre jornalismo de qualidade e estratégias digitais para ampliar o alcance e o engajamento das notícias.

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