Kast vence Presidência do Chile, e país volta à direita em uma versão trumpista
Presidente mais à direita no Chile desde a ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990), Kast, de 59 anos, tentava, pela terceira vez, ser presidente
DOUGLAS GAVRAS, DE SANTIAGO – As urnas confirmaram o que as pesquisas eleitorais já apontavam e o ex-deputado de ultradireita José Antonio Kast foi eleito neste domingo (14), derrotando a governista Jeannette Jara, e irá governar o Chile a partir do ano que vem.
Com 57% dos votos apurados, o candidato do Partido Republicano recebeu 59,1% dos votos, enquanto a candidata do Partido Comunista recebeu 40,8%, de acordo com dados preliminares do Serviço Eleitoral do Chile.
Presidente mais à direita no Chile desde a ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990), Kast, de 59 anos, tentava, pela terceira vez, ser presidente.
A ordem pública e o controle da imigração irregular foram temas decisivos para a vitória de Kast neste domingo, em eleições presidenciais que também marcaram a volta do voto obrigatório.
Embora o Chile tenha uma baixa taxa de homicídio em comparação a vizinhos, é um dos países que mais se preocupa com a questão da criminalidade.
Ambos os candidatos prometiam proteger a fronteira norte, controlar a entrada de imigrantes, sobretudo da Venezuela, e combater o crime organizado, mas Kast propôs ações mais severas. Ele chegou a prometer expulsões em massa de imigrantes, depois recuando para corte de acesso a serviços básicos a estrangeiros vivendo irregularmente no país, e prisões isoladas para líderes do tráfico.
Ainda assim, em comparação com suas tentativas anteriores, desta vez ele moderou seu discurso. O advogado evitou entrar em questões de direitos humanos, casamento igualitário ou a ditadura de Pinochet. Ele prometeu buscar aliados para criar um “governo de emergência” e combater a criminalidade.
A eleição de Kast também representa o fim de um ciclo histórico para o país, iniciado após os protestos massivos de rua de 2019, que culminaram na vitória do esquerdista Gabriel Boric há quatro anos, e as tentativas de redigir uma nova Constituição.
Kast, que é advogado ultracatólico e ex-congressista, pode se tornar o primeiro presidente a apoiar publicamente o ex-ditador Augusto Pinochet. No entanto, sua estratégia nesta eleição é não falar de suas convicções ultraconservadoras e enfatizar que o Chile enfrenta uma grande crise de segurança, atribuindo isso à administração de Gabriel Boric, da qual Jara fez parte, apesar de as taxas de homicídio serem baixas na região.
Ele recebeu uma ligação de Jara e do presidente Gabriel Boric, para quem havia perdido as eleições em 2021. Também recebeu o apoio de dois ex-concorrentes à direita no primeiro turno, Evelyn Matthei e Johannes Kaiser.
Ao contrário do primeiro turno, o dia foi frio e com uma leve chuva em diferentes regiões do país. Mas a votação ocorreu sem grandes incidentes.
Ao longo da campanha, Kast fez acenos ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, embora tenha dito em um debate que não pretende replicar a política anti-imigração nos moldes do aliado, com perseguição aos estrangeiros em situação ilegal.
Também fez acenos ao presidente da Argentina, Javier Milei, dizendo que recebeu uma ligação dele no primeiro turno e que pretende manter uma boa relação com os argentinos e outros vizinhos, como Bolívia e Peru.
Kast votou por volta das 10h em Paine. “O Chile tem uma tradição e quem ganhar será o presidente de todos os chilenos. Os temas que nos preocupam não têm cor política, podemos ter diferenças, mas isso não deve afetar a população”, afirmou ao responder sobre como será a transição de governo com Gabriel Boric.
Jara votou no início da tarde em Conchalí (norte de Santiago), foi caminhando até o colégio Poeta Federico García Lorca, onde ela estudou na juventude. No percurso, acompanhada de sua família e de políticos aliados, parou para tirar fotos com apoiadores.
“Foi um caminho longo, após um ano que começou com vitória para o Chile, com a aprovação da reforma da Previdência para incluir mais beneficiados, o que muito me orgulha”, disse.
O presidente Gabriel Boric, que em novembro votou com Violeta, sua filha de cinco meses nos braços, neste domingo caminhou até uma escola de Punta Arenas (sul do país). Ao responder se a avaliação que os chilenos fazem de seu governo poderia afetar os resultados, o líder minimizou essa possibilidade.
“Não acho que seja um plebiscito sobre o meu governo, o Chile está decidindo o seu futuro.”
O terceiro colocado Franco Parisi (Partido Popular), que decidiu não apoiar Kast ou Jara no segundo turno, definiu a eleição como “a pior possível” e que os eleitores tiveram de decidir “se o Chile é mais antifascista ou anticomunista”. Parisi, que prevê que a lua de mel de Kast com os eleitores será curta, conseguiu quase 20% dos votos no primeiro turno e seus eleitores foram disputados por ambos os candidatos no segundo confronto.
Ao emitir seu voto, a ex-presidente Michelle Bachelet relembrou a importância de respeitar a democracia e a vontade popular.
De acordo com o Servel (Serviço Eleitoral do Chile), quase 15 milhões de cidadãos estavam aptos para votar no Chile e no exterior. As multas para os eleitores ausentes e que não cumpriram com algum dos motivos aceitos para não votar (como doença, estar fora do país ou a pelo menos 200 quilômetros do local de votação) vão de 30 mil a 130 mil pesos chilenos (de R$ 108 a R$ 611).
O próximo presidente dos chilenos terá que lidar, a partir de 11 de março, com um Legislativo sem forças majoritárias, ainda que em vantagem para a direita, que terá mais facilidade para compor maiorias pontuais.
O bloco de direita e ultradireita ficou a duas cadeiras de atingir a maioria na Câmara (76 de 155) e ficou empatado com a centro-esquerda e a esquerda no Senado.






