China promete manter pressão militar sobre Taiwan após fim de exercícios
Em outras palavras, incursões aéreas e movimentos de navios de guerra podem se tornar constante
IGOR GIELOW
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A China anunciou o fim de suas manobras militares inéditas em torno de Taiwan nesta quarta (10), mas disse também que irá manter a pressão de forma constante em torno da ilha autônoma cuja absorção é uma das prioridades da ditadura comunista.
Os exercícios foram uma resposta à viagem da presidente da Câmara dos EUA, Nancy Pelosi, à ilha na terça (2) e quarta (3) passadas. Foi a primeira vez que uma visita do gênero, na qual a democrata reafirmou o apoio americano à democracia insular, em 25 anos.
Segundo o porta-voz do Comando do Teatro Oriental do Exército de Libertação Popular, Shi Yi, as ações “completaram de forma bem-sucedida diversas tarefas, e testaram de forma efetiva as capacidade de combate integrado das tropas”.
Ao mesmo tempo, Shi sugeriu que a pressão militar agora será, para ficar no clichê pandêmico, o novo normal. “As forças manterão um olho nas mudanças no estreito de Taiwan, mantendo treinamento e preparação para combate, organizando patrulhas de prontidão de combate na sua direção e defendendo de forma resoluta a soberania e integridade nacionais.”
Em outras palavras, incursões aéreas e movimentos de navios de guerra podem se tornar uma constante, para relembrar Taipé da determinação do governo de Xi Jinping, ao menos até o congresso do Partido Comunista quer irá reconduzir o líder a um novo mandato em novembro.
Um sinal claro foi o registro, segundo a imprensa taiwanesa, de movimentação de caças no estreito que separa Taiwan do continente nesta quarta. Ao menos 17 deles invadiram a chamada Linha Mediana, que separa extraoficialmente os espaços territoriais em mar e ar no local.
Incursões eram uma constante e foram escaladas desde o começo da Guerra Fria 2.0 entre EUA e China em 2017, mas o jogo foi elevado a outro patamar na última semana.
Os chineses treinaram o bloqueio e a invasão da ilha, focando em logística de linhas de suprimento em caso de guerra, além de ações de ataque aeronaval. Taiwan, por sua vez, também fez exercícios com munição real, elevando o risco de um acidente que leve a uma escalada.
Os EUA apoiam Taipé de forma ambígua desde que reconheceram a China em 1979, aceitando de forma implícita que Taiwan pertence a Pequim. Mas também firmaram um pacto para fornecer armas e prometem intervir em caso de invasão.
O governo de Joe Biden vinha mantendo a pressão sobre os chineses, colocando o Indo-Pacífico como sua prioridade estratégica e reforçando alianças regionais. A Guerra da Ucrânia bagunçou isso, até porque a Rússia de Vladimir Putin é a maior aliada política e militar de Xi.
Biden já admoestou Xi a não se animar com o caso ucraniano e invadir Taiwan, ainda que sejam contextos diferentes. O americano fez vazar que admoestou Pelosi a não ir a Taipé, mas não se sabe se isso foi apenas um diversionismo já que o desafio pode cair bem entre eleitores às vésperas do pleito parlamentar de novembro no qual o Partido Democrata deverá perder espaço para o Republicano.
Pode ser, mas até aqui tudo o que Pelosi conseguiu foi colocar a tensão regional em seu nível mais alto desde a chamada Terceira Crise do Estreito de Taiwan, em 1995 e 1996. Vivemos o que deverá ser chamada de a Quarta Crise, salvo a pressão chinesa moldar um termo mais dramático. As relações com os EUA estão no pior nível em anos.
Isso não interessa a Xi, dado o estado preocupante da economia chinesa, esgarçada pelos lockdowns da política de Covid zero do líder e pela crise do seu mercado imobiliário. A interconexão econômica com os EUA torna o custo de qualquer embate, fora o risco de um vexame militar, muito algo.
O mesmo pode ser dito mais pontualmente, em Taiwan, que tem no continente seu maior parceiro econômico. Apesar da retórica dura contra Pequim, a presidente Tsai Ing-wen nunca declarou a independência da ilha, por exemplo.
Nesta quarta, ela criticou uma liderança do principal partido de oposição, o Kuomintang. Andrew Hsia viajou para a China para participar de uma rodada de promoção comercial. Isso sinaliza que há dissenso em relação à condução das relações e temor real pelo rufar de tambores de guerra em torno da ilha.