Sequestro de criança albina em Madagascar gera protesto, e repressão tem 18 mortos

Grupo insistia em fazer justiça com as próprias mãos, pedindo para que os suspeitos fossem entregues a essa espécie de tribunal de justiçamento improvisado

Folhapress Folhapress -
Sequestro de criança albina em Madagascar gera protesto, e repressão tem 18 mortos
Sequestro de criança albina em Madagascar gera protesto, e repressão tem 18 mortos (Foto: Reprodução/ Youtube)

Ao menos 18 pessoas morreram nesta segunda-feira (29) em Madagascar, quando a polícia abriu fogo contra uma multidão de manifestantes enfurecidos com o que as autoridades acreditam se tratar de um sequestro de um menino com albinismo.

O caso aconteceu em Ikongo, cidade no sudeste do país insular no oceano Índico, a 350 quilômetros da capital Antananarivo. Segundo o chefe do principal hospital da região, o número de mortos pode aumentar. Tango Oscar Toky disse à agência AFP que nove pessoas teriam morrido no local e outras nove no hospital e que há ainda 34 feridos, nove deles em estado grave.

“Estamos esperando que um helicóptero do governo os leve para tratamento na capital”, disse. A polícia malgaxe admitiu por enquanto a morte de 11 pessoas no episódio.

O caso começou na semana passada, quando o garoto com albinismo desapareceu. Na manhã desta segunda, uma multidão estimada em 500 pessoas fez um protesto em frente a uma delegacia onde estavam detidos quatro suspeitos do suposto sequestro. Muitos dos manifestantes estavam com armas brancas e facões, segundo os policias.

O grupo insistia em fazer justiça com as próprias mãos, pedindo para que os suspeitos fossem entregues a essa espécie de tribunal de justiçamento improvisado, conforme contou à AFP o deputado Jean-Brunelle Razafintsiandraofa. Uma outra fonte disse que chegou a haver um princípio de negociação, mas, com a insistência da multidão, os policiais decidiram lançar bombas de gás e dar tiros para o alto para tentar dispersar a concentração.

Por fim, por volta das 11h no horário local (5h em Brasília), os manifestantes teriam tentado forçar a entrada na delegacia, o que fez com que os agentes disparassem contra eles.

Em Madagascar, bem como em grandes porções da África, pessoas com albinismo vivem sob particular vulnerabilidade e são frequentemente submetidas à violência. Ainda vigora a falsa crença em países como Tanzânia, Burundi, Moçambique e Etiópia de que partes do corpo de pessoas com essa condição genética são mágicas e podem ser usadas em rituais para trazer sorte e proteção.

O albinismo é uma condição genética caracterizada pela falta de síntese da melanina. Ela é mais prevalente em populações negras, e em algumas regiões da África 1 a cada 2.000 pessoas é albina.

Segundo o Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos, mais de uma dúzia de albinos foram sequestrados, agredidos ou mortos em Madagascar nos últimos dois anos, em eventos semelhantes ao que ocorreu na ilha nesta semana.

Um relatório de 2016 da ONU apontou que membros de uma pessoa albina têm uma espécie de tabela de preços, a partir de US$ 2.000, com um cadáver podendo custar US$ 75 mil. Especialistas suspeitam que criminosos trafiquem corpos entre os países da região. Madagascar é um dos países mais pobres do mundo.

Em março deste ano, o corpo de uma criança mutilada foi encontrado na cidade de Amboasary, o que levou o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) a pedir às autoridades locais que tomassem ações urgentes para proteger essa população. A impunidade envolvendo esses casos de violência também grassa.

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